José
Serra, afinal de contas, pode ser o vice de Aécio Neves na disputa
presidencial? Pode. Vai ser? Bem, aí fica difícil dizer. O fato é que o
assunto está ganhando corpo. E, até onde se pode perceber, sem a
participação ativa nem de um nem de outro. Aécio é o único dos três
principais candidatos que não tem ainda um vice definido, e é natural
que o partido faça esse debate. O que eu penso? Acho que formariam uma
chapa extremamente competitiva e que se estaria diante de um fato novo
na disputa — este, sim, capaz de mexer também com o eleitorado, não
apenas com o noticiário, como aconteceu com a união entre Marina Silva e
Eduardo Campos. Até agora, convenham, parece que uma parcela mínima, se
é que aconteceu, do eleitorado da líder da Rede migrou para o candidato
do PSB.
Em
política, o elemento subjetivo conta, claro!, mas eu acredito muito na
força das condições objetivas. Não é segredo para ninguém que a relação
entre ambos em disputas anteriores não foi exatamente tranquila. Mas me
parece que cabe ao PSDB constatar, como diria o poeta, que um “valor
mais alto se alevanta”. Se a eleição fosse hoje — e ainda bem que não é
—, Dilma seria reeleita, embora, e parece que ninguém duvida disso, nem
ela mesma saiba muito bem por quê. Na verdade, nem o PT. Uma espécie de
cartilha lançada pelo partido em seu Encontro Nacional se ocupa mais em
dizer por que seus adversários não podem ser eleitos do que em explicar
por que ela deve ser reeleita. Em política, a necessidade é um excelente
remédio e uma ótima conselheira. E o país precisa dos tucanos unidos —
com ou sem a formação da chapa com os dois nomes, diga-se.
Quem acompanhou os artigos escritos por José Serra nos últimos três anos, que estão em sua página pessoal,
sabe que ele anteviu com precisão quase milimétrica os descaminhos da
economia brasileira, ainda que este ou aquele divirjam de eventuais
soluções que propõe. Que fez prognósticos e diagnósticos impecáveis, nem
os adversários podem negar. E está, também há poucas dúvidas a
respeito, entre os melhores gestores públicos que há no país.
Aécio
Neves tem conseguido dar corpo e musculatura à sua candidatura. É,
inequivocamente, um homem de oposição — uma tarefa que tem se mostrado
ingrata e difícil no país, dada a presença do estado na economia e do
governo na vida das pessoas. O oficialismo é onipresente na imprensa até
por força inercial, e a mensagem dos que divergem chega com muita
dificuldade ao público. Serra é mais conhecido nacionalmente, por
enquanto ao menos, do que o senador mineiro e tem, é óbvio, mais
presença em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país.
Solução não pode ser problema
Incluo-me entre aqueles que, como analista mesmo, não como torcedor — embora todos saibam que eu jamais votaria em Dilma —, avaliam que o momento é bom para as oposições, em especial para a candidatura do PSDB. É fato, no entanto, que é preciso avançar, mudar de estágio, e um Serra vice me parece que seria uma solução inteligente. Aécio evidenciaria ainda que foi capaz de unir o partido, acabando com uma quase fratura histórica.
Incluo-me entre aqueles que, como analista mesmo, não como torcedor — embora todos saibam que eu jamais votaria em Dilma —, avaliam que o momento é bom para as oposições, em especial para a candidatura do PSDB. É fato, no entanto, que é preciso avançar, mudar de estágio, e um Serra vice me parece que seria uma solução inteligente. Aécio evidenciaria ainda que foi capaz de unir o partido, acabando com uma quase fratura histórica.
Mas
solução não pode ser problema. Em lugar de Serra, eu não moveria uma
palha para que isso acontecesse. Em lugar de Aécio, eu faria o convite
na hora adequada. Essa solução só é possível se for, de fato, consensual
— ou se eventuais arestas forem aparadas no mais absoluto silêncio. Se
for preciso quebrar uma única lança, mínima que seja, então não vale a
pena. Porque aí o ativo vira matéria de rixa política e de questões
menores. O PSDB precisa querer.
“Ah, mas
se Aécio tivesse topado ser vice de Serra em 2010…” Em política e em
história, não existe “se”. Existe o fato. O fato é que as
circunstâncias, hoje, conspiram a favor de uma candidatura de oposição —
realmente de oposição — e que a união entre Aécio e Serra é uma
resposta com a qual muita gente conta e há muito tempo. Mas reitero: tem
de ser uma operação suave, que torne tudo mais fácil e mais agradável,
como quando se harmoniza uma música. Se for para produzir dissonâncias,
convenham: ninguém, muito menos o país, precisa disso. E, claro, encerro
com o óbvio: para que ocorra, Aécio precisa querer Serra como vice, e
Serra precisa querer ser vice de Aécio. O bom é que ambos são livres
para escolher e que ninguém está obrigado a nada, nem pelas
circunstâncias.
Mas que seria um golaço da oposição, isso seria.
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