A
deputada federal Mara Gabrilli (PSDB-SP) afirmou nesta quarta-feira
(9), durante audiência pública na Comissão de Segurança da Câmara, que o
atual ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto
Carvalho, recolhia dinheiro de propina em Santo André durante o governo
do ex-prefeito da cidade Celso Daniel, assassinado em 2002.
Carvalho
estava presente à audiência, para a qual foi convocado pelos deputados
da comissão. Mara Gabrilli disse que o próprio pai teria sido extorquido
e que Carvalho era conhecido como o "homem do carro preto". "O senhor
sempre foi conhecido como o homem do carro preto, e eu não falo isso
porque eu li, eu falo isso porque eu vi. O homem do carro preto era o
homem que pegava os recursos extorquidos de empresários e levava para o
[ex-presidente do PT] José Dirceu", disse a deputada.
Gilberto
Carvalho rechaçou de imediato as acusações e negou envolvimento em um
suposto esquema. "A senhora nunca me viu num carro preto, a senhora
nunca presenciou nada, eu não a conhecia. Eu conheci a sua irmã,
Rosângela, que foi falar na prefeitura, depois da morte do Celso. A
senhora não pode afirmar isso", contestou Carvalho.
O
ministro foi convocado pela Comissão de Segurança para falar sobre
acusações do ex-secretário-nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior. No
livro "Assassinato de Reputações", lançado recentemente, ele diz que
Carvalho chegou a confessar a ele, Tuma Júnior, que era responsável por
recolher propina de um esquema de corrupção em Santo André a fim de
abastecer campanhas eleitorais do PT.
O
assassinato de Celso Daniel em 2002 levou o Ministério Público de São
Paulo a concluir que a morte foi encomendada após descoberta do suposto
esquema de corrupção. A Polícia de São Paulo, no entanto, concluiu que
houve um crime comum.
Na
audiência da Câmara, Mara Gabrilli cobrou explicações do ministro sobre
o caso. "O senhor é um ministro de estado e o senhor não fala disso?
Isso não incomoda o senhor, que era braço direito desse prefeito?",
questionou a deputada. A deputada também perguntou por que Carvalho não
pediu ao Supremo Tribunal Federal que acelerasse o processo que
investiga Sérgio Sombra, suposto coordenador do esquema. "A senhora
conhece uma coisa chamada independência entre os poderes?", questionou
Gilberto Carvalho.
O
ministro afirmou que a morte de Celso Daniel faz doer "muito a alma".
Disse também que que, à época do assassinato, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva foi a Brasília para conversar com o então
presidente Fernando Henrique Cardoso, para solicitar a entrada da
Polícia Federal no caso. Relatou também ter procurado o governador de
São Paulo, Geraldo Alckmin, para pedir uma investigação isenta.
Dossiês
Durante
a audiência, Carvalho também negou que tivesse participado da
elaboração de dossiês, durante o governo Lula, para atingir adversários
políticos. Em seu livro, Tuma Júnior relata que materiais com falsas
acusações eram produzidos pelo Ministério da Justiça e Polícia Federal,
com aval do Planalto, para desmoralizar quem desagradasse ao governo. Um
dos alvos teria sido o atual governador de Goiás, Marconi Perillo
(PSDB).
"Quero
que ele prove se eu tive alguma conversa com ele falando alguma coisa
de dossiê. Vai ter que provar. Porque não é assim, não posso chegar e
dizer que tal pessoa pediu isso se ela não pediu. Não pedi nunca ao
senhor Tuma e a ninguém que fosse produzido dossiê, até porque não
considero isso uma forma adequada de luta política", afirmou o ministro.
Ele
afirmou que não leu o livro de Tuma Júnior, mas voltou a dizer que irá
processar o ex-secretário. "A meu juízo, ele combina fatos reais com uma
série de inverdades, para dar validade a essas inverdades. Mas o que eu
quero dizer é que eu nego peremptoriamente, e vamos nos encontrar no
momento adequado, que eu julgar adequado, na Justiça", declarou. Ele
disse que ainda não moveu uma ação judicial por considerar que não
chegou o momento adequado. (G1)
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