Em
sua página no Facebook, o PT publicou um texto, sem assinatura, em que o
governador de Pernambuco, Eduardo Campos, é chamado de “tolo”. Segundo o
PT, o pré-candidato do PSB à Presidência não tem “projeto, conteúdo nem
compostura”.
O texto
diz ainda que ele migrou “para a direita”, aliando-se a Marina Silva,
tratada como o “ovo da serpente”. A agressão vai mais longe. Segundo os
petistas, Campos é produto dos investimentos que o governo federal fez
em Pernambuco. Depreende-se da leitura do libelo acusatório que o
governador não tem mérito nenhum por liderar uma das gestões mais
bem-avaliadas do Brasil. Tudo seria obra do PT e, muito especialmente,
de Lula.
O artigo
chama os investimentos federais em Pernambuco de “boa vontade dos
governos do PT”. Até parece que o dinheiro não é público, mas
propriedade do partido. Está na cara que o objetivo é colar em Campos a
pecha de “traidor”.
O ataque é
desfechado no momento em que crescem as possibilidades de que Marina
Silva venha mesmo a ser a vice de Eduardo Campos. Os petistas não
gostariam de ver a ex-ministra na disputa. Nas simulações de voto em que
aparece como candidata do PSB, ela fica em segundo lugar.
O texto
foi escrito para ser replicado na Internet e iniciar a campanha para
desmoralizar o pré-candidato do PSB. Eis o PT. Revejam o vídeo abaixo.
Lula aparece sobre o palanque em dois momentos. Em 2000, Roseana Sarney
era apontada como pré-candidata do então PFL à Presidência. Ocupava o
primeiro lugar nas pesquisas. O chefão petista a esculhambava
impiedosamente, atacando também seu pai, José Sarney. O segundo momento
se deu em 2006. Lula estava disputando a reeleição e fazia um comício no
Maranhão, ao lado de Roseana, que já havia se aliado a ele em 2002. Aí a
mulher já tinha virado heroína.
A
ex-inimiga Roseana acabou virando amiga do peito. Já o ex-amigo do
peito Eduardo Campos acabou virando inimigo. Os petistas não dão a menor
bola para a biografia de seus adversários ou de seus aliados, como bem
sabe Paulo Maluf. O petismo classifica as pessoas em heroínas ou
bandidas na exata medida em que servem ou não servem a seu projeto.
E é bom
Eduardo Campos se preparar. A campanha mal começou. Já dei início aqui à
contagem regressiva para que estoure um suposto grande escândalo no
governo de Pernambuco. A esta altura, o mercado de dossiês apócrifos já
está bastante agitado.
O PT não vê mal nenhum em enlamear a honra de ex-amigos e em funcionar como lavanderia de reputações de ex-inimigos.
Como vocês
bem sabem, Eduardo Campos está longe de ser um político da minha
predileção, mas o texto apócrifo é mistificador e covarde. Sem contar
que parece ter restado a óbvia sugestão de que Lula premiava com
dinheiro público a fidelidade de um aliado.
Leiam a íntegra:
A BALADA DE EDUARDO CAMPOS
Por um
momento, desses que enchem os incautos de certezas, o governador Eduardo
Campos, de Pernambuco, achou que era, enfim, o escolhido.
Beneficiário
singular da boa vontade dos governos do PT, de quem se colocou, desde o
governo Lula, como aliado preferencial, Campos transformou sua
perspectiva de poder em desespero eleitoral, no fim do ano passado.
Estimulado
pelos cães de guarda da mídia, decidiu que era hora de se apresentar
como candidato a presidente da República –sem projeto, sem conteúdo e,
agora se sabe, sem compostura política.
O velho Miguel Arraes, avô de Eduardo Campos, faz bem em já não estar entre nós, porque, ainda estivesse, morreria de desgosto.
E não se
trata sequer da questão ideológica, já que a travessia da esquerda para a
direita é uma espécie de doença infantil entre certa categoria de
políticos brasileiros, um sarampo do oportunismo nacional. Não é isso.
Ao
descartar a aliança com o PT e vender a alma à oposição em troca de uma
probabilidade distante –a de ser presidente da República–, Campos rifou
não apenas sua credibilidade política, mas se mostrou, antes de tudo, um
tolo.
Acreditou
na mesma mídia que, até então, o tratava como um playboy mimado pelo
“lulo-petismo”, essa expressão também infantilóide criada sob encomenda
nas redações da imprensa brasileira.
Em meio ao
entusiasmo, Campos foi levado a colocar dentro de seu ninho
pernambucano o ovo da serpente chamado Marina Silva, este fenômeno da
política nacional que, curiosamente, despreza a política fazendo o que
de pior se faz em política: praticando o adesismo puro e simples.
Vaidosa e
certa, como Campos, de que é a escolhida, Marina virou uma pedra no
sapato do governador de Pernambuco, do PSB e da triste mídia reacionária
que em torno da dupla pensou em montar uma cidadela.
Como até
os tubarões de Boa Viagem sabem que o objetivo de Marina é se viabilizar
como cabeça da chapa presidencial pretendia pelo PSB, é bem capaz que o
governador esteja pensando com frequência na enrascada em que se meteu.
Eduardo
Campos é o resultado de uma série de medidas que incluem a disposição de
Lula em levar para Pernambuco a Refinaria Abreu e Lima, em parceria com
a Venezuela, depois de uma luta de mais de 50 anos. Sem falar nas obras
da transposição do Rio São Francisco e a Transnordestina. Ou do
Estaleiro Atlântico Sul, fonte de empregos e prestígio que Campos usou
tão bem em suas estratégias eleitorais.
Pernambuco
recebeu 30 bilhões de reais do Programa de Aceleração do Crescimento, o
PAC, do qual a presidenta Dilma Rousseff foi a principal idealizadora e
gestora.
O estado
também ganhou sete escolas técnicas federais, além de cinco campi da
Universidade Federal Rural construídos para melhorar a vida do estudante
do interior.
Eduardo
Campos cresceu, politicamente, graças à expansão de programas como
Projovem, Samu, Bolsa Família, Luz para Todos, Enem, ProUni e Sisu. Sem
falar no Pronasci, que contribuiu para a diminuição da criminalidade no
estado, por muito tempo um dos mais violentos do País.
Campos
poderia ser grato a tudo isso e, mais à frente, com maturidade e
honestidade política, tornar-se o sucessor de um projeto político
voltado para o coletivo, e não para o próprio umbigo.
Arrisca-se,
agora, a ser lembrado por ter mantido entre seus quadros um secretário
de Segurança Pública, Wilson Damázio, que defendeu estupradores com o
argumento de que as meninas pobres do Recife, obrigadas a fazer sexo
oral com marginais da Polícia Militar, assim agiam por não resistirem ao charme da farda.
“Quem conhece Damázio, sabe que ele não tem esses valores”, lamentou Eduardo Campos.
Quem achava que conhecia o governador do PSB, ao que tudo indica, ainda vai ter muito o que lamentar.
Por Reinaldo Azevedo-Rev Veja
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