Por Gabriel Castro, na VEJA.com:
A sequência de horror registrada nos últimos vinte dias no Maranhão chocou até mesmo uma sociedade já acostumada ao noticiário de crimes brutais. O banho de sangue, com imagens de presos decapitados e esquartejados na penitenciária de Pedrinhas, na Grande São Luís, já deixou 62 detentos mortos no período de um ano. O retrato da barbárie nas cadeias maranhenses inclui ainda estupros de familiares de presidiários nos dias de visitas íntimas. Na última sexta-feira, a selvageria ultrapassou os muros do presídio: ataques a ônibus e delegacias espalharam terror nas ruas de São Luís. Uma criança de 6 anos morreu queimada. O criminoso obedecia a uma ordem de dentro do presídio de Pedrinhas.
A sequência de horror registrada nos últimos vinte dias no Maranhão chocou até mesmo uma sociedade já acostumada ao noticiário de crimes brutais. O banho de sangue, com imagens de presos decapitados e esquartejados na penitenciária de Pedrinhas, na Grande São Luís, já deixou 62 detentos mortos no período de um ano. O retrato da barbárie nas cadeias maranhenses inclui ainda estupros de familiares de presidiários nos dias de visitas íntimas. Na última sexta-feira, a selvageria ultrapassou os muros do presídio: ataques a ônibus e delegacias espalharam terror nas ruas de São Luís. Uma criança de 6 anos morreu queimada. O criminoso obedecia a uma ordem de dentro do presídio de Pedrinhas.
Políticos
costumam culpar os antecessores pelos problemas crônicos enfrentados por
suas gestões. Mas a governadora Roseana Sarney (PMDB), no quarto
mandato no Maranhão, não poderá fazê-lo: com exceção de um período de
dois anos, o Estado é governado desde 1966 pelos integrantes do clã
político de José Sarney. O único revés do grupo ocorreu em 2006, quando
Jackson Lago (PDT) derrotou Roseana nas
urnas. Mas ele só resistiu até o começo de 2009, dois anos depois da
posse: a Justiça Eleitoral tirou o cargo do pedetista sob a acusação de
compra de votos. Roseana herdou o mandato, e venceu também as eleições
de 2010.
Sarney
nunca fez oposição a um presidente da República: apoiou a ditadura
militar enquanto lhe interessou e foi pulando de barco até firmar a
improvável aliança com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma
Rousseff. Dos dois, recebe deferências – e o poder de nomear afilhados
em órgãos importantes da administração federal. Enquanto isso, os
maranhenses convivem com um cenário desolador: segundo dados do Atlas do
Desenvolvimento, o Estado tem o penúltimo lugar no ranking do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), à frente apenas de Alagoas. A renda per
capita, de 348 reais, é a menor do país. Apenas 4,5% dos municípios do
estado têm rede de esgoto.
Segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 20,8% dos
maranhenses eram analfabetos em 2012. Pior: o número significa um
aumento em relação a 2009, quando 19,1% da população não sabiam ler e
escrever. Ou seja, durante o governo de Roseana, a situação se agravou –
o Maranhão foi o único Estado do Nordeste que regrediu no período.
Um dos
poucos índices nos quais o Maranhão não se destacava negativamente no
plano nacional era a violência. Mas, como mostra o episódio de
Pedrinhas, isto também é passado: entre 2000 e 2010, a taxa de mortes
por armas de fogo no Estado subiu 282%. O surgimento de facções
criminosas tornou mais evidente o fracasso do governo nessa questão. O
governo do Estado falhou ao evitar o conflito sangrento entre criminosos
encarcerados e novamente depois, ao tentar debelá-lo. Por fim, receberá
ajuda do governo federal para resolver a situação, com a transferência
de detentos para outras unidades prisionais do país.
O Maranhão
já era pobre quando Sarney assumiu o poder. E sabe-se que não é fácil
resolver o problema do subdesenvolvimento crônico. Mas, em 2014, isso já
não pode ser usado como desculpa.
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