O
julgamento do mensalão trouxe para surpresa de muitos algo
surpreendente: pela primeira vez mandachuvas foram condenados. Mais
impressionante estar entre eles José Dirceu, o “capitão do time” no
primeiro mandado de Lula da Silva e que mesmo tendo perdido o cargo e
depois o mandato de deputado federal, graças a Roberto Jefferson,
continuou a dispor de enorme poder de mando dentro e fora do PT.
Esse
acontecimento inédito se deveu ao relator, ministro Joaquim Barbosa, o
que lhe granjeou admiração e respeito de parte da sociedade. Ele foi
seguido pela maioria de seus pares, com exceção dos ministros
Lewandowski e Toffoli que atuaram como advogados de defesa dos
companheiros do PT. Não se pode também deixar de mencionar a atuação
firme corajosa do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que se
tornou alvo da sanha vingativa do PT.
Com
relação ao ministro Joaquim Barbosa se pode imaginar a profunda dor
que seu prestígio causou a Lula da Silva. Não só porque ele se sentiu
traído, visto que havia nomeado o ministro e pensava que o STF era mais uma
de suas capitanias hereditárias, mas, principalmente, porque o
descomunal ego do ex-presidente deve ter sido tremendamente abalado
diante de alguém que lhe fez sombra entre cidadãos esclarecidos.
Como
no conto infantil Lula deve ter perguntado ao espelho mágico: “Espelho
meu, existe no momento homem mais querido do que eu”? E o espelho
respondeu: “Sim, majestade, o ministro Joaquim Barbosa”.
Para
ser como gosto, politicamente incorreta, traço um paralelo entre Lula
da Silva e o ministro Joaquim Barbosa, completamente diferentes em
termos de caráter, sendo sua única semelhança a origem humilde:
Lula
da Silva fez questão de continuar iletrado e é um velhaco que tudo
conseguiu apenas com muita sorte e lábia. Joaquim Barbosa estudou,
trabalhou e se tornou o homem honrado e competente que conseguiu salvar
o STF das garras da quadrilha enquistada no Executivo pelo PT. Com
relação ao primeiro me envergonho de ser brasileira. O segundo me
inspira justo orgulho pelo meu país.
É vergonhoso, por exemplo, observar que o governo foi de tal modo loteado e corrompido
por Lula da Silva, via seu então primeiro-ministro, José Dirceu, que
volta e meia explode mais um tremendo escândalo de dimensões nunca
antes havidas nesse país. Como disse jocosamente José Simão, colunista
da Folha de S. Paulo, “escândalo no PT é como caixa de lenços de papel:
você puxa um e vem logo três”. “Você nunca consegue puxar um só”.
Assim,
enquanto o julgamento vai terminando vem à tona o caso de Rosemary
Nóvoa de Noronha, chefe de gabinete da Presidência da República em São
Paulo, um cabide de emprego e um gabinete das sombras de onde Lula
exercia comodamente seu terceiro mandato sem precisar ir à Brasília.
A
bancária e sindicalista, Rose, também de muita sorte, trabalhou
durante doze anos com o chefe da quadrilha do mensalão, José Dirceu.
Neste período, como indica a Operação Porto Seguro da Polícia federal,
ela fez um curso completo, com mestrado e doutorado na arte de obter
vantagens e indicar trambiqueiros, falsificadores, achacadores,
vendedores de facilidades, enfim, companheiros corruptos que passaram a
ocupar altos cargos. Nada, porém, Rosemary conseguiria se não fosse
sua intimidade com aquele a quem chamava carinhosamente de tio, de Luiz
Inácio, de PR.
Em nome da Rose as portas se abriam, não tanto pela “madame”,
mas por ordem do “tio” sempre solícito em atender aos pedidos de sua
Marquesa de Garanhuns. Os jornais e revistas estão cheios de detalhes
das tramoias, das fraudes, das negociatas da Marquesa e de seus
protegidos e seria repetitivo enumerá-las. Ressalve-se, porem, a
sordidez a que chegaram os labirintos escuros e tortuosos da
administração publica.
Lula
da Silva anda desaparecido, mas mandou dizer que o seu caso com Rose é
assunto particular. Deve até se sentir orgulhoso e se comparar a
presidentes que também tiveram amantes. Mas, ao que se sabe, outros
presidentes não nomearam nem acobertaram corruptos para satisfazer os
desejos de suas outras mulheres.
Se
o caso fosse apenas particular Lula poderia ter presenteado Rose com
joias caras, carros de luxo, apartamentos suntuosos. Afinal, o “pobre
operário” deve estar podendo bancar tudo isso. Mas preferiu mandar a
conta para o povo, pois quem paga a corrupção governamental somos nós.
Enquanto
não acontece outro escândalo petista um fato importantíssimo não tem
tido a relevância que merece. Refiro-me ao fracasso da expansão
econômica. A previsão de um PIB, em 2012, que talvez não chegue a 1%,
nos coloca de novo na rabeira dos Brics e configura o biênio perdido de
Dilma Rousseff. O governo camufla a inflação, altera os dados,
falsifica as informações. Inutilmente, pois a realidade acontece, independente da propaganda. E como é pesada a herança maldita de Lula da Silva e de sua sucessora, Dilma Rousseff.
* Texto da socióloga Maria Lucia Victor Barbosa.
DO MARIO FORTES
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