Informei em 14 de agosto que o senador Fernando Collor, invocando o desgosto que lhe causaram três textos aqui publicados, havia ajuizado mais uma ação indenizatória contra o colunista.”Para jornalistas sérios, processos movidos por casos de polícia são medalhas”, registrou o post. “A gradação é determinada pelo prontuário de quem, em vez de dar trabalho a oficiais de Justiça e magistrados, deveria estar recolhido a uma cela. Um Fernando Collor, por exemplo, vale medalha de ouro. Só ele já me garantiu quatro. Vem aí a quinta”.
Veio na quarta-feira passada, quando a ação foi considerada improcedente ao ser julgada em primeira instância. “O exercício da liberdade de imprensa não se sobrepôs à honra do político”, entendeu o magistrado encarregado do caso. Nesta segunda-feira, antes que eu tivesse tempo de festejar a quinta, soube que a sexta medalha está a caminho: agora mirando num texto publicado em 14 de maio, Collor acionou de novo a garrucha de ações indenizatórias.
O título do post faz o resumo da ópera: “O farsante escorraçado da presidência acha que o bandido vai prender o xerife“. Como sempre, o ex-presidente despejado do gabinete que desonrou reivindica uma indenização em dinheiro por danos morais e a publicação da sentença no site de VEJA. Como sempre, faz de conta que tem uma imagem a preservar. Mas desta vez será surpreendido com uma novidade no rol das testemunhas de defesa: o depoente Luiz Inácio Lula da Silva.
Estava à espera de uma chance para arrolar o palanque ambulante num processo do gênero depois do comício promovido em Diadema há pouco menos de um mês. Para ensinar à plateia que votar no que parece novo é um perigo, Lula amparou-se na figura que o derrotou na primeira tentativa de chegar ao Palácio do Planalto. “Em 1989, o nosso país teve uma eleição presidencial e se estabeleceu neste país a ideia de que havia um candidato novo. E o povo votou no tal do novo para dirigir o país. O novo era o Collor e vocês sabem o que aconteceu”.
Lula contou o que aconteceu em 1993, pouco depois da queda do então adversário. “Você tem pena de Fernando Affonso Collor de Mello?”, perguntou-lhe o radialista Milton Neves. Ouça a resposta no áudio e leia a transcrição do parecer emitido pelo entrevistado.
“Tenho. Não é que eu tenho pena. Como ser humano eu acho que uma pessoa que teve uma oportunidade que aquele cidadão teve de fazer alguma coisa de bem para o Brasil, um homem que tinha respaldo da grande maioria do povo brasileiro, ou seja. E ao invés de construir um governo, construir uma quadrilha como ele construiu, me dá pena, porque deve haver qualquer sintoma de debilidade no funcionamento do cérebro do Collor. Efetivamente eu fico com pena, porque eu acho que o povo brasileiro esperava que essa pessoa pudesse pelo menos conduzir o país, se não a uma solução definitiva, pelo menos a indícios de soluções para os velhos problemas que nós vivemos. Lamentavelmente a ganância, a vontade de roubar, a vontade de praticar corrupção, fez com que o Collor jogasse o sonho de milhões e milhões de brasileiros por terra. Mas de qualquer forma eu acho que foi uma grande lição que o povo brasileiro aprendeu e eu espero que o povo brasileiro, em outras eleições, escolha pessoas que pelo menos eles conheçam o passado político”.
No tribunal, minha testemunha nem precisará repetir o diagnóstico. Basta confirmar que é dele a voz no áudio. Collor acha que é perseguido por jornalistas rancorosos. Perto do que disse Lula, que virou seu amigo de infância, o que escrevi parece elogio.
POR AUGUSTO NUNES - REV VEJA
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