segunda-feira, 21 de maio de 2012

Chega de conversa mole! Matando a charada: “Carlinhos” é só um dos “Cachoeiras” da Delta.



Pergunto:
“Quem é o ‘Cachoeira’ do Rio, por exemplo?”

Por Reinaldo Azevedo
Os fragmentos de narrativa e de conversas que vão vazando das escutas feitas pela PF nas operações Vegas e Monte Carlo vão nos fazendo perder a noção do todo. Aos poucos, os vários pedaços da verdade vão contribuindo para construir o que tem tudo para ser uma grande mentira e um elogio à impunidade.
Pensemos.
“Será que Fernando Cavendish, o dono da Delta, está envolvido com jogo do bicho, caça-níqueis, essas coisas?” Não há, até agora, nenhum sinal, certo? Não existem evidências, pois, de que Cavendish seja sócio de Cachoeira na contravenção, mas há indícios de sobra de que este era parceiro daquele em alguns empreendimentos.
Estão acompanhando?
Outra questão relevante. Ainda que não existisse uma Delta, Cachoeira seria quem é no mundo da contravenção. Essa sua atividade específica independe de contratos com o governo, licitações, obras públicas etc.
Assim, ele tem de ser investigado e, dado o que já se sabe, punido por suas ações no jogo. Atenção para isto: o contraventor já existia antes de a Delta ser o que é. Haveria a obrigação de investigá-lo ainda que ele não tivesse contato com construtora nenhuma.
O que estou querendo dizer é que a investigação tem de ser dividida em dois grupos: num deles, encontramos Cachoeira, os caça-níqueis, a exploração do jogo etc.
É coisa séria, que merece atenção?
É, sim! Afinal, ele contava até com parlamentares que atuavam como despachantes de seus interesses, a exemplo do que se depreende de seus diálogos com o senador Demóstenes Torres.
Restringir, no entanto, a investigação a Cachoeira, como quer o PT — defendeu essa posição até numa resolução nacional —, corresponde a fraudar de forma espetacular a verdade.
Quem é Cachoeira mesmo?
Cachoeira é um contraventor que tem de ser punido na forma da lei, independentemente de seus vínculos com Cavendish. MAS ELE TAMBÉM ERA O HOMEM DA DELTA NA REGIÃO CENTRO-OESTE.
E agora chegamos ao ponto: Cavendish não aparece nas conversas de Cachoeira sobre jogo porque, de fato, não tem nada com isso!
O bicheiro era o seu operador e intermediário em assuntos no Centro-Oeste. Seu raio de ação não ia muito além dessa região, especialmente Goiás e o Distrito Federal.
Assim, insisto: duas investigações precisam ser feitas:
a)
a que envolve as ações ilegais do bicheiro como bicheiro;
b)
a que envolve as ações do bicheiro como parceiro da Delta.
E é nesse ponto que a coisa fica interessante: Cachoeira era apenas um dos, digamos, “escritórios” que cuidavam do interesse da empresa.
Cavendish, que já declarou ser possível comprar um senador por R$ 6 milhões, ESTABELECEU UMA PARCERIA COM ELE EM ASSUNTOS LOCAIS. Mas certamente não era o bicheiro que atuava como procurador da Delta no Rio, por exemplo.
Quando Cândido Vaccarezza mandou aquele torpedo amoroso para o governador Sérgio Cabral (PMDB), já sabia que o nome do governador do Rio não frequenta as conversas do bicheiro com sua turma.
ORA, NEM PODERIA!
Tanto no jogo ilegal como no assalto ao erário, a região de Cachoeira, insisto, é o Centro-Oeste.
O leitor esperto já se tocou, não?
Cumpre perguntar: quem é o braço operativo de Cavendish no Rio, por exemplo?
O bicheiro pode ser hábil, poderoso e tal, mas aquela não era uma área que ele dominasse. Podem virar do avesso os contratos de R$ 1,1 bilhão do estado do Rio com a Delta, e duvido que se encontre por ali o dedo de Cachoeira. A construtora, está claro como a luz do dia, tinha operadores regionais.
No Centro-Oeste, ficamos todos sabendo, parece difícil fazer um negócio sem se molhar na fonte do contraventor, mas não fora dali.
Tendo a achar que isso explica aquele rasgo vaccarezzo-shakespeariano.
O petista dirceuzista estava dando garantias a Cabral de que a CPI vai se limitar ao Centro-Oeste e não quer saber dos outros “Cachoeiras” espalhados Brasil afora.
Quem não se lembra?
A Polícia Federal e a Controladoria Geral da União (CGU) acusaram maracutaias da Delta no Ceará, em 2010!!!
A operação Mão Dupla identificou de tudo por lá: propina, fraudes em licitações, desvio de verbas, superfaturamento, pagamentos irregulares e emprego de material de qualidade inferior ao contratado em obras comandadas pelo Dnit.
Um diretor local da Delta, Aluizio Alves de Souza, e o superintendente no Dnit no Estado, Joaquim Guedes Martins de Neto, foram presos.
Mesmo assim, o governo celebrou com a construtora outros 31 contratos, no valor de quase R$ 800 milhões.
Pergunto: o Ceará estava sob a jurisdição de Cachoeira??? Não! O “homem” da construtora no Estado era outro.
Pergunto outra vez: “Quem será, hein, o ‘Cachoeira’ de Cavendish no Rio?
Assim como, no Centro-Oeste, foi preciso recorrer ao estado paralelo cachoeirístico para viabilizar negócios, quem terá, nas terras fluminenses, feito pela Delta o que fazia Cachoeira na região central do Brasil?
Entenderam o busílis?
Uma coisa é apurar a infiltração da contravenção no estado etc. e tal…
É grave?
É grave!
Mas isso, convenham, para os cofres públicos, beira a irrelevância quando se pensa, só para ficar nas obras do PAC, em R$ 4 bilhões!
A INVESTIGAÇÃO QUE MAIS INTERESSA É OUTRA: QUAIS SÃO OS BRAÇOS QUE OPERAM O ESQUEMA DELTA NO BRASIL?
Esse é o ovo de Colombo.
E parece que é isso o que a CPI quer esconder.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que deixou por um tempos a militância em favor da descriminação da maconha para cuidar de outros baratos na CPI, chama a possibilidade de investigar a Delta em escala nacional de “devassa”!!! E
sse é um dos que preferem perseguir a imprensa a ficar no encalço de larápios, que roubam os cofres públicos.
Agora, sim!
Agora, sim!, as coisas parecem mais claras.
Misturar no mesmo imbróglio a jogatina — que tem de ser investigada e punida! — e o esquema Delta corresponde a mentir de forma asquerosa para os brasileiros.
No Centro-Oeste, em razão das atividades preexistentes de Cachoeira, essas duas coisas se cruzaram. Cachoeira ainda é um contraventor local, com aspirações de estender nacionalmente a sua influência. A Delta, nesse sentido, lhe era um canal e tanto.
A teia verdadeiramente nacional é outra: chama-se Delta.
E é preciso saber o nome dos outros “cachoeiras”. PARA QUE TODOS SEJAM PUNIDOS POR SEUS EVENTUAIS CRIMES.
Punir apenas Carlinhos Cachoeira, Demóstenes e mais um, dois ou três não é injusto, não, no que diz respeito à turma e às suas ações. Punir apenas essa gente é injusto com o Brasil! E se trata de mais uma aposta na impunidade, que está na raiz de toda essa lambança.
Se a CPI não investigar para valer a Delta no Brasil inteiro, estará mandando um recado aos demais “Cachoeiras” do esquema:
“Vocês são nossos, nós somos seus, e o Brasil e os brasileiros que se danem”
.
REV VEJA
21.05.2012

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