quinta-feira, 26 de abril de 2012

Carlos Minc se oferece para substituir o Congresso e diz que a presidente Dilma lhe deu um sorriso “cúmplice”


A VEJA Online publica um texto de Cecília Ritto com informações verdadeiramente estupefacientes. A personagem da notícia é Carlos Minc, ex-ministro do Meio Ambiente e secretário da área do governo de Sérgio Cabral. A presidente Dilma Rousseff esteve nesta quinta no Rio numa solenidade do programa “Brasil Sem Miséria”. Distribuiu sorrisos e evitou temas espinhosos. Mas Minc falou pelos cotovelos. Segundo disse, a presidente prometeu “não decepcionar”, sugerindo que vai vetar o texto aprovado na Câmara em segunda votação. Excelente! Dilma tem um líder no Senado. Dilma tem um líder na Câmara. Dilma tem um líder no Congresso. Dilma tem uma ministra das Relações Institucionais. Dilma tem uma chefe (devo dizer “chefa”?) da Casa Civil. Dilma tem uma ministra do Meio Ambiente. Mas anuncia a Minc o veto???
O secretário expressou-se nestes termos, prestem atenção:
Falei para a presidente Dilma que fiz um estudo preliminar de 25 a 30 pontos que poderiam ser vetados e substituídos por uma medida provisória. Coloquei-me à disposição dela e disse que estou em contato com a ministra Izabela (Teixeira, do Meio Ambiente). Falei que estávamos ansiosos e com grande expectativa em relação à atitude dela. Ela sorriu, disse que não ia nos frustrar, que honraria os compromissos dela e que tomaria medidas”.
Viram só? Minc continua a falar como o assaltante de cofre da VAR-Palmares. O Código Florestal foi debatido em audiências Brasil afora. Passou por duas votações na Câmara e por uma votação no Senado. Foi submetido ao crivo de 513 deputados e 81 senadores. Tudo absolutamente inútil. Um único homem, Carlos Minc, vai substituir toda essa gente, tratada como gentalha. Quem ele representa? Que lhe deu a delegação para cuidar sozinho do código?
Minc continua a ser o mesmo homem responsável que chegou a sugerir, certa feita, que os escapamentos de ônibus fossem obstruídos por batatas… Referido-se ao código, afirmou que há uma espécie de anistia:
“Desobrigam o desmatador a recompor as áreas desmatadas. Isso dá ideia de que o crime compensa”.
É mentira! Seguindo o mesmo padrão da Câmara, o agricultor só se livra da multa se fizer compensação ambiental.
O secretário do Meio Ambiente do Rio vem lá de longe, não é?, da VAR-Palmares, do tempo da luta clandestina contra a ditadura e… CONTRA A DEMOCRACIA TAMBÉM. Disse que Dilma é sua “cúmplice” (a palavra é dele). Assim:
“Entendi que ela [Dilma] vai tomar medidas. Com risinho cúmplice, maroto e solidário, me falou: ‘Pode contar, vamos atuar, não vão ficar contraditório os compromissos que assumimos, não vamos decepcionar’”.
Não sei de Dilma espancou a sintaxe com essa impiedade, com esse desamor pela ecologia da língua portuguesa, em que concordância e regência conspiram contra o sentido… É possível. Quando falece o bom senso, o desamor pela “inculta & bela” é só o arremate dos males.
Ainda em estado de delírio, prosseguiu:
“O Brasil passou a ganhar prêmio de pais amigo do planeta. Não podemos pôr esse patrimônio a perder com uma lei que desprotege nossas florestas. Passaram a motosserra no código ambiental e a presidente Dilma não permitirá que isso aconteça dessa forma”.
A lei não desprotege floresta nenhuma! Ao contrário: o país passa a ter o código ambiental mais preservacionista do mundo. SAIBAM: NÃO HÁ EM TODO O PLANETA NADA PARECIDO COM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE! Ou então me mostrem. O Greenpeace e o Imazon tentaram provar que essa afirmação em maiúscula é falsa, e eu
provei aqui que eles estão errados.
O senhor Carlos Minc, que pretende usar o veto e a Medida Provisória mais ou menos como o terroristas usavam a pistola — para ganhar no argumento… — se esquece de que vetos presidenciais podem ser derrubados e de que medidas provisórias podem ser rejeitadas.
Lida mal com a lei
Mas eu entendo almas como a deste senhor. Ele lida mal com a institucionalidade; ele lida mal com as leis. Mesmo na condição de ministro do governo Lula — comprometido, pois, com as políticas públicas (ao menos as oficiais) de combate às drogas —, Minc participou de marcha em favor da legalização da maconha. Mais do que isso. Ele deu pinta num show de reggae que fazia, com clareza inquestionável, a apologia do consumo. Subiu ao palco, como se vê abaixo. Volto depois.
 
Voltei
“O que esse comportamento de Minc tem a ver com a fala desta quinta?” Tudo! Um país tem leis, tem instituições, tem decoro. Quem está investido da função pública tem compromisso com esses fundamentos, que são coletivos. Não pode sair por falando e fazendo o lhe dá na telha. Agora virou a festa da uva. O Supremo, quando lhe vem a vontade, decide usurpar funções que são do Congresso porque, ora vejam, aquele não age. Carlos Minc, com seu reconhecido amor pelas instituições, se oferece para ser revisor do Código Florestal e anuncia o “sorriso cúmplice” da presidente.
É claro que chego a duvidar da percepção de Minc. Ele pode ter entendido errado. Nunca se sabe quando está pronto para subir ao palco e dizer sandices…
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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