sexta-feira, 2 de março de 2012

PT e Haddad trazem desde já aborto e kit gay para o debate para tentar vacinar o debate eleitoral. Inútil! Partido e candidato terão de responder por sua obra, como todo mundo

É curioso! Até agora, o PSDB e o tucano José Serra, pré-candidato do PSDB à Prefeitura,  não tocaram na palavra “aborto”. Aliás, é uma mentira estúpida a conversa de que esse foi um tema levantado pela oposição em 2010. A afirmação faz pouco da história e dos evangélicos, estes, sim, os primeiros a se incomodar com as opiniões da então candidata Dilma Rousseff.
Os tucanos, ao contrário do que sustentam os mistificadores, trataram do assunto foi pouco na campanha eleitoral. De certo modo, fugiram do embate. Volto a 2012. Serra não fez nenhum comentário a respeito, mas Rui Falcão já falou. Serra está calado sobre o tema, mas Fernando Haddad já se posicionou. O PSDB, em suma, ignorou essa pauta até agora, mas Gilberto Carvalho já deu seus pitacos. A própria Dilma, como vimos, está preocupada com a questão, tanto que nomeou Marcelo Crivella para o Ministério da Pesca. Como ele próprio deixou claro, nunca nem sequer botou uma minhoca no anzol. O objetivo de sua nomeação é tentar diluir o mal-estar com os evangélicos e facilitar as coisas para Fernando Haddad.
Na entrevista que concedeu anteontem ao Portal Terra — curiosamente reproduzida, partes dela ao menos, pelos grandes jornais de São Paulo —, Haddad acusou a oposição de ter estimulado esse debate e se disse pessoalmente contrário ao aborto, mas defendeu a necessidade de políticas públicas que cuidem das mulheres que abortam… Ora, quem é contra? Sustentou ainda que as críticas ao kit gay — que o MEC, sob o seu comando, preparou para ser enviado a estudantes — estimulam a violência e sugeriu que, caso seus adversários tratem desses temas, isso será ruim para eles. É mesmo, é? Se entendi direito, Haddad se mostra inclinado a dar discas àqueles que vão disputar a eleição com ele. Magnânimo!
A verdade é que o PT tem um medo brutal desses embates. O que o partido faz é aplicar algumas vacinas, tentando atuar preventivamente para desfazer áreas de mal-estar. Também se esforça para que a imprensa passe a demonizar esses temas como assuntos que estariam fora da alçada política. Os porta-vozes do PT na imprensa — há um monte — e até na academia insistem: “É preciso debater a cidade, encontrar soluções para o trânsito, dar uma resposta às creches”… Ora, claro que sim!
Ocorre que São Paulo tem milhares de estudantes na rede municipal de ensino. É mais do que lícito — trata-se de uma obrigação — indagar se Haddad enviaria os kits gays às escolas municipais se prefeito fosse. Lembrem-se que aquelas peças alopradas só não foram parar nas salas de aula porque Dilma vetou. Isso é política, sim! O pré-candidato petista vem de um partido profundamente comprometido com a defesa da legalização do aborto, por exemplo, tanto que Eleonora Menicucci é ministra. Ora, a cidade de São Paulo tem uma rede de saúde imensa. Se Haddad for eleito, ela vai cuidar da vida ou ser organizadora da morte? Esses são temas políticos, sim, senhores! Haddad foi o chefe de um MEC que ideologizou ao extremo os livros didáticos e até as provas de proficiência. Se eleito, porá nesse rumo as escolas municipais?
Com suas vacinas preventivas, já sob a orientação da marquetagem, o PT e Haddad tentam criar anátemas no debate, para o que concorre o jornalismo amestrado. Com que então, como se vê, eles são os primeiros a trazer o aborto e o kit gay para a arena eleitoral para decretar que esses são temas que não poderão ser abordados? Estou entendendo mal, ou o ex-ministro da Educação pretende submeter a sua própria biografia e o seu trabalho a uma plástica?
Primeiro a afronta, depois o recuo
Quando a presidente Dilma Rousseff nomeou Eleonora Menicucci para a pasta das Mulheres, estava em busca de moderação? Não! Estava em busca de confronto. Escolheu a sua antiga colega de cela, militante radical pró-aborto — ela confessou que o praticou com as suas próprias mãos, depois de um treinamento em clínicas ilegais na Colômbia —, porque queria pôr no Ministério uma leitura de mundo, uma expertise sobre o assunto, uma “especialista”. Vale dizer: escolheu, sim, a legalização do aborto, ainda que o discurso oficial seja outro. Não por acaso, dona Eleonora foi a uma reunião da ONU e ouviu calada a mentira estúpida de que morrem, por ano, no Brasil, 200 mil mulheres em razão de abortos malfeitos. Ouviu calada porque ela, como militante, é uma das responsáveis por esta mentira. Mentira que se espalha. Na síntese que fez da entrevista de Haddad ao Terra, reportagem da Folha não perde a viagem e diz que o aborto é uma das principais causas de morte das mulheres no Brasil. É mentira! Não é! É mais uma falácia do lobby pró-legalização.
Depois da provocação, vem a tentativa de passar mel na boca dos trouxas. Aí Gilberto Carvalho corre para falar com os evangélicos, Dilma nomeia Crivella, Haddad se diz contra o aborto, demais petistas saem culpando a oposição… Vamos ver se, neste ano também, a Justiça Eleitoral vai funcionar como Comissão de Censura e proibir os cristãos de se manifestar, mandando-os para a cadeia. Aconteceu em 2010, sob o silêncio cúmplice da imprensa.
Os extremistas
Ora, partidos e lideranças políticas têm de aprender a arcar com o peso de suas escolhas. O apoio à legalização do aborto compreende um conjunto de valores. É permitido defendê-lo, é claro! Mas é preciso saber que o contraditório existe. Esse conjunto de valores tem história.
Publiquei aqui ontem à noite, recomendo a quem não o leu, um texto sobre algo espantoso: a defesa que dois especialistas fazem do infanticídio, que chamam “aborto pós-nascimento”.  A tese choca por várias motivos, e um deles está no fato de que, em certa medida, os dois monstros morais têm alguma razão: boa parte dos motivos alegados pelos abortistas para legalizar a interrupção da gravidez se aplicaria, com efeito, aos recém-nascidos. Afinal, em muitos aspectos, eles ainda não são “pessoas” propriamente, não é mesmo?
Aqui e ali, leitores inferem que a minha opinião sobre o assunto é principalmente religiosa. É também, e essa é uma dimensão da vida respeitável como qualquer outra. Mas estão enganados. A minha restrição principal é de princípio e estaria presente ainda que eu fosse ateu: o que torna “humana” a vida de um ser e, pois, digna de respeito e protegida por lei? Quando é moralmente lícito dizer: “Este pode morrer, mas aquele não”? O que acho especialmente notável no texto de Alberto Giubilini e Francesca Minerva é que não lhes ocorre, em nenhum momento, que possa haver pessoas contrárias ao aborto. Dão de barato que há um grande consenso a respeito, que o mundo já assimilou essa prática como algo corriqueiro. O que eles fazem então? Ora, apenas ampliam o alcance da violação do princípio.
O infanticídio, no artigo dos dois, é visto como mero desdobramento natural da legalidade do aborto. Se querem saber, faz sentido! A moral que justifica um pode perfeitamente justificar o outro. Estão ambos tão tomados pela lógica da militância e pelos extremismos de grupos organizados que chegam a dizer que a adoção de recém-nascidos seria uma solução pior do que o infanticídio porque a mulher que tem o filho adotado não elabora direito a sua perda!!! Como ambos decretaram que fetos e recém-nascidos são temas moralmente irrelevantes, por que não matá-los?
Debater até o fim
Nada disso! A fealdade moral de algumas teses abraçadas por esses patriotas tem de ser exposta e detalhada. Se o petismo acha que pode nomear uma Menicucci num dia e proibir o debate sobre o aborto no outro, está enganado. Não será assim! Se as oposições vão fazê-lo ou não, pouco me importa. Não sou político e não é problema meu! Eu vou cobrar o que tem de ser cobrado. Se Haddad acredita que pode, num dia, interferir na formação moral das famílias para fazer proselitismo sobre comportamento sexual e depois dar sumiço na própria obra, está enganado também. Terá, sim, de responder por suas escolhas.
Não podemos — os que não concordamos com certas propostas — deixar que essa gente  prospere sem debate, sem reação. Afinal, é assim que eles começam a debater o aborto como “um direito da mulher” e terminam tentando convencer a sociedade de que o infanticídio e uma prática de elevada moralidade.
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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