sexta-feira, 23 de março de 2012

Católicos voltam a distribuir panfleto anti-PT em ato contra aborto

“Dilma nomeia ministras abortistas”, diz bispo durante manifestação interrompida por feministas na capital paulista 

Bruna Carvalho, iG São Paulo | 22/03/2012 08:10


Feministas e católicos agitam seus cartazes a favor e contra o aborto
Quarta-feira, às 11h, na Catedral da Sé, em São Paulo. Cerca de cem manifestantes de 20 entidades católicas preparam um ato público. Distribuem camisetas brancas, nas quais se liam a frase: “Aborto Não”. Preparam a caixa de som e começam a erguer cartazes.
“Diga Sim à Vida”, “Queremos a CPI do Aborto”, “Em Memória das Vítimas do Aborto”, “Fora Assassina. Ministra Eleonora Menicucci”. Em poucos minutos, com microfones preparados, o ex-deputado federal pelo PTC Paes de Lira, que assumiu o cargo por ser suplente de Clodovil Hernandes mas foi derrotado em 2010, faz seu pronunciamento.
"Os jovens devem sacudir o espírito das pessoas mais velhas, que estão acomodadas, que estão acreditando nos benefícios puramente materiais proferidas, produzidas e prometidas por um governo que, na calada da noite, se prepara para estabelecer uma política de chacina de inocentes."
De shorts jeans e cabelos presos, uma mulher surge ao lado do ex-coronel da PM. Elisa Gargiulo, 32 anos, traz um cartaz diferente. Ela, que é vocalista de uma banda, Dominatrix, afirma que pertence ao movimento feminista. “Em memória das mulheres vítimas do aborto ilegal”, está escrito em seu cartaz.
Outros cinco unem-se a Elisa, com suas mensagens contrastando com aquelas proferidas pelos manifestantes iniciais, que rezavam um Pai Nosso e uma Ave-Maria no microfone. “Eu aborto, Tu abortas, Ela aborta. Todas somos clandestinas”.
A presença das feministas, ainda que em número reduzido, incomoda. Alguns dos manifestantes discutem com o grupo, que rebate. Um católico, que disse não pertencer a nenhum grupo específico e se apresentou apenas como Valter, se exalta. (Veja vídeo)
"É a nossa opinião e vocês têm que ficar quietas", e acusando-as de agressividade, afirma: "legal que vocês são as pacifistas, né? São os pacifistas, os ‘bicholas’ e também os guerrilheiros. Legal essa esquerda. Vocês são os pacifistas e também os terroristas."


Os manifestantes atrás dele vaiam. Ao lado das feministas, gritam “Vida sim, aborto não”. Após 30 minutos, ainda com cartazes a mostra, elas se afastam da aglomeração.



Foto: Reprodução Ampliar
Panfleto de 2010 voltou a circular na última quarta-feira
Folhetos de 2010
O ato católico segue. Entre os papéis distribuídos aos presentes, um folheto de 26 de agosto de 2010, que provocou controvérsia nas últimas eleições.
Assinado pelo Conselho Episcopal Regional Sul I da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o “Apelo a todos os brasileiros e brasileiras”, relacionando o PT e a então candidata e atual presidenta Dilma Rousseff a práticas ligadas à legalização do aborto, recomenda “encarecidamente” que, “nas próximas eleições, (os brasileiros e brasileiras) deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalização do aborto”.
À época, considerados uma prática de crime eleitoral, os folhetos foram apreendidos pela Polícia Federal e a CNBB chegou a condenar o uso eleitoral da fé cristã. Segundo um parecer do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi permitida a sua devolução à CNBB. Nesta quarta, eles voltaram a ser circulados. Somente na Praça da Sé, 100 mil foram distribuídos.
Procurada pelo iG, a CNBB afirmou que tinha conhecimento da manifestação, e que seu posicionamento quanto aos panfletos continua sendo o mesmo daquele divulgado em 2010 - o de condenar o uso eleitoral da fé cristã. No entanto, de acordo com sua assessoria, a Conferência atribui a responsabilidade ao Regional Sul I, acrescentando que não pode intervir em uma diocese, cuja palavra final é a do bispo.
Em outro documento oferecido às mãos dos transeuntes, assinado pelo bispo emérito de Guarulhos, Dom Luiz Gonzaga Bergonzini – cuja diocese encomendou os panfletos na época -, é prometida uma segunda rodada: “Outros documentos novos poderão ser redigidos, assinados por nós, para serem distribuídos. A morte não pode vencer a vida.”
“Elas não são católicas”
O bispo Bergonzini faria um segundo ato em seguida. Os manifestantes da Catedral da Sé seguiram para o Fórum João Mendes. Lá, ele, acompanhado de seu advogado, entregou uma ação de indenização por perdas e danos contra o grupo Católicas pelo Direito de Decidir.
Na ação, é pedido que a ONG retire o termo “católicas” de seu nome, e não se refira mais ao bispo. O valor da indenização pedida é de R$ 600 mil. “No entendimento de Dom Luiz, elas não são católicas. O argumento é que o procedimento (delas) é totalmente contra o que diz a Igreja Católica, o Código Canônico, o catecismo e a bíblia”, explica João Carlos Biagini, o advogado.
Soltando balões vermelhos, que representam “as almas das crianças abortadas”, os manifestantes recebem Dom Luiz, já fora do Fórum. “As atitudes que o nosso governo, nossa presidenta toma, (ela) está tirando a castanha com a mão do gato. Ela não fala abertamente. Mas nomeia ministras que são abortistas”, afirma o bispo.
O principal alvo do ato deste início de tarde foi a ministra da Secretaria de Direitos das Mulheres, Eleonora Menicucci, que nos anos 70 se colocava de forma favorável à descriminalização do aborto. Em entrevista recente, disse que sua opinião pessoal quanto ao tema não interessa e que o debate deve ser levado ao Congresso da República.
"A minha posição pessoal, a partir de hoje, não diz respeito, não interessa. A partir do momento em que eu aceitei o convite da presidenta, eu sou governo. Descriminalização do aborto é uma matéria que não diz respeito ao Executivo, diz respeito ao Legislativo".
O bispo, nesta quarta-feira, contra-ataca. “A questão do aborto não é discutível. Vão discutir se pode matar ou não? Não tem meio termo. Não tem meia vida. Ou mata ou não mata. Discutir se pode matar ou não? Não tem cabimento. Isso é um engodo, simplesmente para votar a questão e aprovarem a morte.”
Veja o vídeo
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Balões vermelhos no ar – alguns presos em galhos de árvore -, o bispo, padres, militantes pela antiga TFP (Tradição, Família e Prosperidade) e manifestantes capitaneados pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB começam a se retirar do local. Pouco mais de cinco permanecem em frente ao fórum. São surpreendidos por uma transeunte, com cerca de 60 anos, que acusa os panfletos, datados de 2010, de terem favorecido José Serra na campanha eleitoral. Dois a seguem, mas ela vai embora. Não sem antes gritar: “Assassinos. Vocês são assassinos.”
DO IG-ULTIMO SEGUNDO

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