O Brasil criou, em 2011, 1,9 milhão de empregos, número 23,5% menor do que o total criado no ano anterior. Entre oito segmentos pesquisados, a pior performance foi na indústria, setor no qual a abertura de postos recuou 60%. Em dezembro, como ocorre tradicionalmente, o número de demissões superou o de novas contratações no mercado formal e o resultado final foi um saldo de 408,2 mil vagas fechadas Os dados, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foram apresentados ontem pelo Ministério do Trabalho. Em dezembro, apesar de toda a desaceleração da economia, o saldo entre admitidos e demitidos ficou muito próximo das 407,5 mil vagas em igual mês de 2010. Em dezembro, foram demitidos 1,713 milhão de trabalhadores e contratados outros 1,305 milhão. O Ministério do Trabalho atribuiu os desligamentos de dezembro à entressafra agrícola, às férias escolares e ao "esgotamento da bolha de consumo no fim do ano".
No ano, as contratações líquidas de 1,9 milhão - diferença entre 21,7 milhões de admissões e 19,8 milhões de dispensas - ficaram inferiores às projeções do governo. No primeiro semestre de 2011, o Ministério do Trabalho projetava a oferta de 2,5 milhões de vagas. Em setembro, o governo já trabalhava com uma estimativa menor, de 2,3 milhões. Na indústria, a criação líquida de vagas com carteira assinada decresceu de 544 mil em 2010 para 215 mil no ano passado, uma redução de 60%. Sob essa mesma base de comparação, as admissões na construção civil recuaram de 334 mil para 223 mil; no comércio a oferta passou de 612 mil para 452 mil e, no setor serviços, diminuiu de 1 milhão para 926 mil.
Na indústria, setor mais afetado pela desaceleração da economia brasileira - o crescimento de 10% em 2010 deu lugar a uma expansão inferior a 1% em 2011 -, o corte final de vagas em dezembro foi 5% maior que em dezembro do ano anterior. Setorialmente, contudo, as quedas foram bem mais expressivas: alta de 140% no setor químico (de 7,8 mil demissões líquidas em 2010 para 18,7 mil em 2011) ou de 190% (de 2 mil para 5,8 mil) na indústria de material de transporte. A compensação veio do setor de alimentos, cujo corte de vagas foi bem inferior ao usual para dezembro: 24 mil vagas a menos, diante de 62 mil em 2010 ou 94 mil em dezembro de 2009.
A agropecuária, que em 2010 havia registrado mil demissões líquidas, inverteu a situação e terminou o último ano com oferta de 86 mil empregos com carteira assinada, já descontadas as demissões. Na administração pública, as admissões líquidas subiram de 10 mil em 2010 para 17 mil no ano passado. Na indústria extrativa mineral, as oportunidades passaram de 18 mil para 20 mil. Na avaliação do professor da PUC Rio e economista da consultoria Opus José Márcio Camargo, o resultado de dezembro e o dado consolidado do ano passado reforçam a percepção de enfraquecimento no ritmo de expansão do mercado de trabalho. "Há uma clara tendência de arrefecimento."
Camargo diz que a queda de 23,5% na geração de emprego já era esperada, como consequência da desaceleração no crescimento da economia - que saiu de uma taxa de 7,5% em 2010 para uma expansão estimada entre 3% e 3,5% em 2011. "O ano de 2010 foi forte e fora de padrão", comentou. A expansão mais moderada do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012 deve confirmar a tendência de queda na oferta de vagas também neste ano, prevê. O mercado de trabalho da indústria deverá apresentar fraco desempenho "e isso acabará afetando o setor serviços", projetou o economista.
O diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz, avaliou que a geração líquida de 1,9 milhão de empregos foi boa se considerada a redução do ritmo de crescimento do PIB. "O nível de desaceleração da economia não repercutiu, na mesma intensidade no mercado de trabalho; por isso, o resultado do Caged foi bom", disse. "Para mantermos a geração de 2,5 milhões de empregos, como vimos em 2010, a economia teria que ter avançado 5% no ano passado." Para Clemente Ganz, 2012 deverá apresentar oferta líquida de, aproximadamente 1,5 milhão de contratações. "A tendência não é de grandes contratações porque no ano passado, que foi um ano de desaceleração, as empresas evitaram demitir", afirmou.No fim deste mês, o Dieese apresentará a taxa de desemprego para as sete regiões metropolitanas que pesquisa. O percentual de dezembro deve ficar próximo a 9,5% e a taxa média de 2011, em torno de 10%.
DO VALOR ECONOMICO
Nenhum comentário:
Postar um comentário