(Leia primeiro post abaixo)
No dia 9 de outubro do ano passado, publiquei aqui um post sobre a campanha eleitoral ilegal feita nas dependências da São Francisco, sob o olhar cúmplice do diretor Antônio Magalhães Gomes Filho. Chamava-se “O funk-funk filosófico-liberticida de Marilena Chauí”. O animador de auditório foi Sérgio Salomão Shecaira, que pensa torto não faz tempo. Vale a pena ler. Aí está uma evidência de como esses valentes entendem o exercício do direito numa faculdade de direito:
Um ato de apoio à candidatura da petista Dilma Rousseff ocorrido ontem na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no Largo São Francisco, dá conta da democracia e da imprensa que os petistas querem para o Brasil.
Liderada pelos professores Marilena Chaui (filosofia) e Dalmo Dallari (direito), a manifestação foi escancaradamente ilegal. A Lei Eleitoral veda expressamente, sem qualquer ambigüidade, o uso de prédios públicos para fins eleitorais ou partidários. Então se recorre à trapaça: a chamada Sala dos Estudantes foi requisitada para a suposta “reunião de um grupo de estudo”. Não obstante, Chaui, Dallari e outros professores da faculdade se revezaram na defesa da candidatura Dilma, nos ataques ao tucano José Serra e, principalmente, à imprensa, aquela que Franklin Martins quer controlar. Que retrato melhor se pode obter do petismo senão uma manifestação ilegal de professores de direito numa faculdade de direito?
Marxilena Chaui, a Tati Quebra-Barraco do marxismo, da filosofia e da fusão do pensamento de Spinoza com o pragmatismo de Delúbio Soares, mandou ver no seu funk-funk filosófico-liberticida. Num país academicamente sério, esta senhora teria desaparecido junto com a desconstrução que José Guilherme Merquior fez do “seu” livro “Cultura e Democracia”, que ele demonstrou pertencer, em grande parte, a Claude Lefort. Mas ela seguiu impávida, escrevendo artigos semanais para os jornais, em especial para a Folha, que abria e ainda abre espaço para esses “inteliquituais”.
Segundo um site da patota, “Marilena Chaui defendeu que lideranças de esquerda e do PT deixem de atender jornalistas da imprensa convencional, em uma espécie de boicote a pedidos de entrevista. ‘Para defender a liberdade de expressão, é preciso não falar com a mídia’, propõe Marilena Chaui. Ela acredita que a mídia dá espaço para figuras do partido e de movimentos sociais apenas para ‘parecer plural’, mas promovendo um ‘controle de opinião’ sobre o que é publicado.”
Não se animem, leitores! Isso não vai acontecer. Esquerdistas não podem ver um microfone ou um gravador. Falam pelos cotovelos. Um dos alvos do ataque da turma foi o suprapartidário Manifesto em Defesa da Democracia, com quase 80 mil assinaturas, lançado, diga-se, em frente à faculdade, não dentro dela - os petistas não permitiram! Na “democracia deles”, um ato suprapartidário não pode ter lugar dentro da faculdade; já uma patusca que faz a defesa oblíqua da censura e de uma candidata à Presidência pode! Marilena foi além - porque ela sempre vai. Segundo disse, a eleição não pode se transformar num “plebiscito sobre o aborto”. Plebiscito? O tucano José Serra é contra a legalização. Então quem é a favor? Só pode ser a sua adversária, aliada de Marilena: Dilma Rousseff. Marxilena sempre é muito divertida.
No tal site de esquerda de onde extraio aquela magnífica fala de Marilena, escreve um sujeitinho: “Recentemente, Reinaldo Azevedo, colunista da Veja, assumiu a posição para a imprensa como partido de oposição no país.” Ai, ai… “Assumiu a posição para a imprensa!!!” Eu não sei qual analfabetismo deles é mais saliente: o moral, o profissional ou o literal.
O autor alude a uma afirmação minha, feita durante debate no Clube Militar. Contestando, então, a bobagem de Lula segundo a qual a imprensa era um partido, ironizei - e minha fala está gravada: “Se bem que, em certo sentido, ele tem razão; a oposição no governo Lula foi tão mixuruca, que coube à imprensa a tarefa de defender os Artigos 5º e 220 da Constituição”. E afirmei que, dadas as muitas vezes em que o governo Lula os transgredia ou tentava transgredi-los, a defesa que a imprensa fazia da Constituição não deixava de ser uma espécie de oposição. Ou seja: eu estava contestando Lula, ironizando Lula e combatendo os arreganhos autoritários de Lula. Como é que um esquerdistazinho, um discípulo da professora do funk-funk liberticida registra isso? “Reinaldo Azevedo afirmou que a imprensa é um partido”. “Eles” querem mudar a imprensa para começar a trabalhar com o modelo de precisão que exibem em suas reportagens. A besta ao quadrado sabe muito bem o que foi que eu falei. Mas ele não tem compromisso com o fato, e sim com a sua “tarefa”.
À Folha, o professor de direito penal da USP Sérgio Salomão Shecaira afirmou que se tratou de um “ato pró-Dilma, não algo antiimprensa”. E emendou: “Atacamos bastante o PSDB, como resposta ao ‘Manifesto em Defesa da Democracia’, lido em frente à faculdade há algumas semanas”. Shecaira, como se nota, confessa a clara transgressão à Lei Eleitoral. Basta agora o PSDB acionar os meios legais competentes. A confissão está aí.
Já dei algumas chineladas lógicas nesse Shecaira - uma delas está aqui. Este senhor é autor de uma tese estupenda. Em 2007, ele andou enroscando com a política de segurança de São Paulo. Afirmava esse Colosso de Rhodes da lógica que era um absurdo o estado ser aquele que mais prende bandidos se é um dos que têm os menores índices de homicídio do país. Ao doutor em direito penal, com currículo para 400 talheres, não ocorreu que onde ele via contradição havia relação de causa e efeito. Shecaira é daqueles que se negam a reconhecer que haver mais bandidos na cadeia implica menos bandidos matando na rua. Ele ainda tentou espernear afirmando que a redução dos homicídios em São Paulo se devia ao Estatuto do Desarmamento, à diminuição do desemprego etc. Só não explicou por que, então, efeito semelhante não se registrou em outros estados. No Nordeste, houve aumento do número de homicídios. Assim são muitos dos nossos “acadêmicos”: com a ética de Marilena, o amor pelo estado de direito de Dalmo Dallari e a lógica cristalina de Shecaira. E todos lá, desrespeitando a lei e violando o estado de direito numa faculdade de direito - em nome, claro, dos desígnios mais sublimes do povo, que eles conhecem, no máximo, de ouvir falar!
Um ato de violência asqueroso foi cometido ontem na Faculdade de Direito da USP contra o ex-diretor e atual reitor da universidade, o competente João Grandino Rodas. A congregação da São Francisco, incitada por Antonio Magalhães Gomes Filho, atual diretor, aprovou uma moção declarando Rodas “persona non grata”, conforme proposta feita pelo notório professor Sérgio Salomão Shecaira, de quem já falei algumas vezes neste blog (e a quem voltarei). O reitor tem um grande defeito para a militância: é competente e não é um desses que ficam fazendo discurso esquerdopata só para ser simpático.
O Estadão traz a história na edição de hoje, contada, visivelmente, segundo a ótica dos inimigos do reitor. Carlos Lordelo, que assina o texto, chega a se referir a uma “autorização dada em 2007 por Rodas, então diretor, para que policiais entrassem no local para prender grevistas.” Isso nunca aconteceu. Basta ler o arquivo do Estadão. A faculdade tinha sido invadida por representantes do MST, da UNE, dos sem-teto e outros movimentos numa tal “Jornada da Educação”. Era gente estranha à instituição, não alunos “grevistas”. Ninguém foi preso. Em editorial, o jornal classificou a ação de “exemplar”.
Gomes Filho sucedeu Rodas na direção e decidiu desconstruir a gestão anterior. A lista da birra — que é ideológica — é grande. Os dois entraram em confronto. Até aí, é péssimo, mas vá lá. Ocorre que o atual diretor decidiu recorrer à galera, às massas. Acha que, se estiver em maioria — ao menos a maioria da minoria barulhenta —, então é porque tem razão. Rodas, vejam que homem mau!, modernizou o currículo da São Francisco, contratou professores e diminuiu o número de alunos por sala. Isso obrigou a que parte do acervo da biblioteca — apenas parte — tivesse de ser transferido para um prédio anexo, abrindo espaço aos estudantes. Seu sucessor reverteu a decisão.
Rodas, a exemplo do que se faz nas principais universidades do mundo, decidiu reformar duas salas especiais com recursos doados por doadores: o advogado Pinheiro Neto e a família de Pedro Conde, ambos ex-alunos da escola. A contrapartida seria batizá-las com seus respectivos nomes. A decisão foi revertida. A reitoria da USP determinou a suspensão de salário de funcionários grevistas. Gomes Filho mandou pagar. Vale dizer: Rodas fez a São Francisco andar para a frente; seu sucessor, para trás.
A violência e a demagogia
Rodas expôs num relatório os problemas; o diretor respondeu. Desagradável? Sim, mas vá lá. O que se deu ontem, no entanto, ultrapassa todos os limites do aceitável. Por sugestão do professor Shecaira — volto a ele daqui a pouco —, a congregação aprovou uma moção declarando o reitor, ex-aluno e ex-diretor da escola (que fez por ela o que sucessivas gestões não conseguiam fazer), “persona non grata”. Isso quer dizer que eles não aceitam mais que ele pise da faculdade que, em última instância, dirige. Reuniram-se numa espécie de “Comuna da São Francisco” para declarar a sua independência.
Abusando da retórica supostamente condoreira, que iria bem nas arcadas, mas que é só vulgaridade demagógica, o que é péssimo, bradou Gomes Filho: “Declaramos persona non grata um diretor que fez a polícia invadir a Faculdade de Direito”. Invadir uma ova! Isso na boca de um especialista em direito é um absurdo! Uma universidade é autônoma, mas não é um país independente. As leis continuam a valer ali dentro, especialmente numa faculdade de direito. Invasores eram os grupos estranhos à instituição que a tomaram e impediam o seu funcionamento. E o homem seguiu adiante: “Como é que na República existe uma autoridade que nem é eleita, é escolhida — e a gente sabe como ele foi escolhido — e se julga nessa condição?” A lei faculta ao governador de Estado escolher o reitor. O diretor daquela que já foi a faculdade de direito mais importante do país não reconhece o império da lei? E o que quis dizer com “a gente sabe com ele foi escolhido”? A rigor, o governador nomeia quem quiser. A praxe é receber uma lista tríplice. José Serra escolheu Rodas, que era o segundo.
Encantado com suas próprias tolices, o diretor comparou a gestão de Rodas à ditadura militar e convidou os alunos a cantar a música “Apesar de Você”, de Chico Buarque. A isso chegamos! Acho que já está bem caracterizado, até aqui, quem é Rodas e quem é Gomes Filho. De fato, nem na ditadura a São Francisco declarou alguém “persona non grata”. Quem são mesmo os ditadores de hoje?
Campanha ilegal em favor do PT
O problema dessa gente toda com Rodas é que ele não é petista. E a prática dos petistas é a eliminação do adversário, nem que seja por meio de um simbolismo — como declará-la persona non grata. Magalhães permitiu, no ano passado, que a Faculdade de Direito da USP fosse usada num ato em favor da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência. Uma das estrelas do evento foi justamente o professor Shecaira, que ontem se referiu à moção contra Rodas nos seguintes termos: “Hoje é um dia memorável. Tive o tesão de propor à congregação que essa prerrogativa de persona non grata fosse dada ao Rodas.”
Entenderam? Ele teve “tesão”! Essa é a linguagem que certos professores passaram a falar na São Francisco. Um esquerdista tendo “tesão” de agredir um inimigo? Eu não duvido disso, não! Aliás, eu acho que ele estava mesmo falando a verdade. Terá seu terno saído intacto? No próximo post, trato daquela patuscada.
Como vocês lerão — ou se lembrarão —, a faculdade impediu Helio Bicudo de ler um Manifesto em Defesa da Democracia nas dependências da instituição. Teve de fazê-lo na rua, do lado de fora. Nem mesmo um mísero aparelho de som lhe foi cedido. Dias depois, Shecaira comandou, de dentro da São Francisco, CONTRARIANDO A LEI, um ato de apoio a Dilma.
Eis aí essa gente na sua inteireza: aos amigos, tudo, menos a lei. Aos inimigos, nada; nem a lei!