Ricardo Galhardo e Clarissa Oliveira, iG São Paulo
A situação do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, está cada vez mais delicada. Além da pressão da oposição e da opinião pública para que explique o súbito crescimento de seu patrimônio, o ministro agora tem que lidar com o isolamento no PT e no governo. A presidenta Dilma Rousseff também começou a dar sinais de afastamento. Apesar disso, pessoas próximas a Palocci apostam que ele não vai pedir para sair. Uma eventual demissão terá que partir de Dilma que, até agora, não revelou seus planos para o ministro.
Interlocutores de Dilma afirmam que a presidenta tem dado sinais cada vez mais claros de distanciamento. O primeiro deles é o fato de não ter levado Palocci para o almoço com senadores do PMDB, na última quarta-feira. Em vez do todo-poderoso ministro da Casa Civil, Dilma foi ao almoço acompanhada do até então pouco prestigiado ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio.
Outro sinal foi dado na cerimônia de lançamento do programa Brasil Sem Miséria, na quinta-feira. Dilma entrou no local do evento sozinha. Normalmente ela chega ladeada por Palocci, mas desta vez o ministro entrou no final da fila dos ministros que participaram do lançamento.
Durante o discurso, Dilma fez uma menção especial à ministra do Planejamento, Miriam Belchior, enquanto o nome de Palocci foi citado junto com os demais ministros. Para pessoas que conhecem o estilo da presidenta, foi um sinal de que o chefe da Casa Civil já não goza de privilégios em relação aos demais integrantes do primeiro escalão.
Um dos motivos para o comportamento de Dilma é a avaliação de que a crise envolvendo o patrimônio de Palocci vai provocar uma queda brusca na popularidade do governo. Segundo fontes petistas, uma pesquisa realizada em São Paulo mostra que a aprovação da administração federal caiu cerca de 10 pontos percentuais. A avaliação é que em todo o País a queda pode chegar a 15 pontos.
Foto: AE - Dilma tem dado sinais de que Palocci já perdeu qualquer tipo de tratamento privilegiado
Fogo amigo
No PT, a situação de Palocci não é melhor. Mesmo aliados tradicionais do ministro optaram por se afastar do caso. A única exceção, segundo um dirigente, é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a embarcar para Brasília para dar orientações ao ministro. A interferência, no entanto, logo alimentou as críticas à dificuldade do governo de gerenciar sozinho a crise.
A avaliação que predomina entre líderes da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), que dá as cartas no PT, é a de que o partido e o governo estão pagando o pato por um problema pessoal de Palocci. Ao contrário da crise do mensalão, quando vários petistas saíram em defesa do ex-tesoureiro Delúbio Soares por considerarem que as irregularidades foram cometidas em benefício dos candidatos petistas às eleições de 2004, o CNB avalia que Palocci agiu em nome próprio.
A insatisfação do PT ficou evidente na reunião realizada ontem pela executiva nacional da sigla, na qual dirigentes chegaram a pedir que o partido suspendesse qualquer operação para dar sustentação ao ministro e cobrasse publicamente que ele dê esclarecimentos. No fim das contas, o PT acabou negando o pedido de Palocci de esperar o parecer da Procuradoria-Geral da República antes de pedir sua cabeça.
Entre os petistas, o limite é a entrevista que o ministro deve dar ainda hoje ao Jornal Nacional. “Se ele der uma explicação convincente o partido poderá sair em sua defesa. Se continuar se negando a revelar informações, Palocci terá que se defender sozinho”, disse um dirigente do partido.
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