quarta-feira, 6 de abril de 2011

Em busca de um recomeço.


Segue abaixo o artigo publicado hoje, na Folha de São Paulo, pela senadora Kátia Abreu (futuro PSD), intitulado "Em busca do recomeço". Ontem, liderando 25.000 pequenos agricultores e pequenos pecuaristas, vindos de todo o Brasil, a senadora do Tocantins mostrou que é um liderança nacional, de um setor que sustenta, em vários sentidos, a economia do país. Nenhuma bandeira de partido na manifestação. Dezenas de deputados de todos os partidos aprovando a mobilização em discursos de defesa à nova lei. Nenhuma empresa do tão atacado agronegócio estava presente, já que estas não precisam de lei nova ou velha, estas compram e vendem do jeito que querem. No final, um abraço verde-amarelo no Congresso pedindo o que há de mais nobre: que os deputados votem o novo Código Florestal já eque levem a discussão de eventuais discordâncias para o plenário, onde a democracia é representada.

Antes que seja censurada por ideias que não defendemos e por intenções que não temos em função do projeto do novo partido em organização, o PSD, lembrei-me de uma providência que Benjamin Franklin adotou ao se engajar na luta pela independência americana, em 1731: escreveu um pequeno texto de duas páginas, que republicou até o fim da vida no seu jornal, o "Pennsylvania Gazette", contendo a essência dos seus princípios.

Uma prevenção eficaz contra os preconceitos, as intrigas e as falsas interpretações. Nesses termos, começo pelo verbo correto que indica a minha movimentação política. Dizer que estou "mudando de partido" é pouco, impreciso, incompleto. Da mesma forma, é falso que esteja deixando a oposição. Ou, mesquinhamente, que abandono a legenda em que iniciei minha vida política. Esses verbos, "sair", "mudar", "trocar", "abandonar", não expressam o sentido da minha ação. O verbo é "fundar". Junto com amigos de várias procedências, participamos do núcleo dirigente de uma nova legenda, absolutamente original, a começar pela declaração de independência absoluta em relação às classificações topográficas a que nos acostumamos.

Não estamos inventando um limbo inexistente, mas definindo um novo conceito. Não adotaremos alinhamentos automáticos. Estamos fundando um partido para ser ele mesmo. Partidos não precisam de adjetivos, mas, como tudo na vida, precisam de caráter. É preciso que haja clareza e compromissos com suas metas e princípios. Quando o governo estiver em consonância com nosso programa, terá nosso apoio. Quando não estiver, não terá. Ter caráter é ser, acima de tudo, fiel aos seus princípios. O voto popular designará nosso papel, jamais composições, troca de cargos ou compensações de qualquer ordem. Segundo, porque deveremos adotar o sistema da democracia interna -no modelo "cada militante, um voto"- para escolher candidatos, dirigentes e definir as grandes linhas de ação. Algo muito diferente da prática político-partidária brasileira. Também o conteúdo perseguido não conterá as platitudes ou generalidades habituais. Não seremos escravos de ressentimentos, de definições imobilistas, de revanchismos e de idealismos espasmódicos de véspera de eleições.

Três coisas são imprescindíveis. Primeiro, os princípios de defesa da liberdade sem adjetivos e da prática, sem restrições, dos direitos humanos. Segundo, a intransigente exigência de moralidade. Terceiro, não teremos os chamados "candidatos naturais". Ninguém será candidato de si mesmo. As prévias não podem ser opcionais, devem ser obrigatórias. Um partido de militantes, e não de dirigentes autoritários. A tolerância diante do intolerável, praticaremos com humildade.

No plano econômico, quem disse que são incompatíveis a proteção social e o direito de propriedade, os estímulos à formação de empresas, o reconhecimento do lucro auferido legal e eticamente? Sou uma democrata incondicional que acredita que somente a economia de mercado pode erradicar a pobreza, por ser a única que gera riqueza. Esperem pelos programas e definições que estão no forno, com propostas precisas, sem subterfúgios, para essa combinação de solidariedade e desenvolvimento. Buscaremos na educação o instrumento verdadeiro que garanta a liberdade. A educação não deve ter seu foco apenas na qualificação profissional para o mercado, mas principalmente capacitar o cidadão para fazer suas escolhas.

Para terminar, um desafio aos críticos apressados: o reconhecimento e a defesa da classe média, que soma hoje 52% da população e detém 46,5% da renda nacional, nos caracterizará como esquerda ou direita? Não ataquem antes de o time entrar em campo. Não é justo.
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Em artigo na Folha de São Paulo, Fernando Barros e Silva, um dos maiores patrulheiros a serviço da esquerda, escreve:

"Oposição é parte da ação governativa." Com essa frase de antologia, Kátia Abreu tentava explicar como vai se comportar o seu novo partido, o PSD de Kassab: "Oposição não é empresa de demolição. Quem assim pensava e agia era o PT", disse a senadora pelo Tocantins (e hoje maior líder ruralista do país), em entrevista ontem ao jornal "O Estado de S. Paulo". Estamos, pois, numa situação em que a Rainha do Gado deserta do moribundo DEM e anuncia que não lhe interessa mais confrontar abertamente o governo. Oposição, daqui em diante, só de ladinho.

Como não sai da sua caverna para olhar o povo, este dinossauro da imprensa deveria saber  que o seu "Rainha do Gado" não é ofensivo.  É elogioso. Só que o elogio é pequeno e injusto. Felizmente para a agricultura e  a pecuária brasileiras, a senadora Kátia Abreu também ostenta o título  de Rainha da Soja, Rainha do Trigo, Rainha do Arroz, Rainha das Commodities do Reino Animal e Vegetal ou, sendo mais preciso ainda,  Rainha dos Superavits da Balança Comercial do Brasil. Aliás, o artigo do caquético, maniqueísta e reducionista jornalista das cavernas esquerdosadas é em tom desesperado. Para ele, o mundo é quadrado, não é redondo. Tem que ter esquerda, tem que ter direita, tem que ter centro ou perde as referências. Com gente assim é sempre assim quando aparece alguma coisa de novo entre a terra produtiva e o céu azul do Brasil.

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