terça-feira, 29 de março de 2011

A trinca que trucida o português pode tirar o sono dos professores de Coimbra

Decidido a mostrar que não descansa sequer nos fins de semana, o ministro da Educação, Fernando Haddad, apareceu num seminário sobre a escassez de creches promovido em São Paulo no dia 26, um sábado, para apresentar a última ideia que lhe ocorreu: instalar uma escola pública perto de todo conjunto habitacional promovido pelo governo. “Se você prever (sic) a demanda potencial de educação, o MEC pode entrar simultaneamente construindo as escolas, enquanto constroem as casas”, explicou.

Ao trocar o correto previr por um bisonho prever, Haddad justificou o convite para acompanhar a presidente Dilma Rousseff na viagem a Portugal. A exemplo da Universidade Federal de Viçosa, que inaugurou a estranha prática, a Universidade de Coimbra também decidiu conceder o título de doutor honoris causa a um homem que nunca leu um livro nem sabe escrever. Um ministro da Educação que merece zero em conjugação verbal e uma presidente que amputa todos os erres finais dos verbos no infinitivo não poderiam ficar fora da festa do segundo doutorado do chefe.
“Quando Lula fala, o mundo se ilumina”, garantiu a companheira filósofa Marilena Chauí num post publicado em agosto de 2009 (veja a íntegra na seção Vale Reprise). Caso o palanqueiro desande na discurseira em Coimbra, a plateia descobrirá que ocorrem espantos de outra natureza quando Lula fala de improviso. Os plurais saem em desabalada carreira, a gramática se refugia na embaixada portuguesa, a regência verbal se esconde no sótão da casa abandonada, o raciocínio lógico providencia um copo de estricnina sem gelo e a razão pede a proteção da ONU para livrar-se de outra sessão de tortura.
Se ao espetáculo protagonizado pelo Exterminador do Plural forem somadas algumas declarações da Guilhotina do Infinitivo e do Terror dos Estudantes, os professores de Coimbra atravessarão algumas madrugadas tentando decifrar o enigma. Faz mais de 500 anos que o idioma oficial do Brasil chegou a bordo das primeiras caravelas. Mas os governantes da antiga colônia ainda não aprenderam a falar português.

AUGUSTO NUNES-VEJA

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