terça-feira, 29 de março de 2011

Os “artistas” que cobram para nos salvar…

Entendo a revolta dos “artistas” quando são comparados a trabalhadores comuns: quituteiras, caminhoneiros, jornalistas… Eles acham que, à diferença dessa gente toda, têm uma “mensagem”, “algo a dizer”; muitos acreditam mesmo que suas metáforas podem salvar o mundo. Imaginem: um caminhoneiro não seria ridículo a tal ponto. Ele, no máximo, considera importante transportar comida ou combustível daqui pra lá e de lá pra cá. Entende que fez uma escolha; que não está naquela atividade sob relho, que o Brasil não é responsável por sua opção profissional. Já alguns artistas…

Os mais ousados na defesa da exceção moral costumam ser os cineastas - quanto menos público têm, mais gostam de incentivos. É uma questão de lógica. Já fez tempo, parte da categoria acredita ter mais do que uma mensagem: há quem esteja convicto de ter “a” resposta para os problemas brasileiros, fazendo-nos um generoso favor.
Pois é… São cineastas porque querem, não é mesmo? São cantores porque querem. São atores porque querem. São livres para escolher o seu caminho. E, com efeito, também somos livres para consumir ou não o que produzem. Uma escolha, no entanto, não podemos fazer: deixar de pagar caro para que eles nos “salvem”!!!
Por Reinaldo Azevedo
Quando comparo Bethânia a uma quituteira, eu a estou elogiando, ora essa! Por que esse preconceito contra quem trabalha?

Muitas almas sensíveis ficaram zangadas por que indaguei qual a diferença entre um contador, uma costureira, uma quituteira e um artista. Por que o preconceito? Eu estou entre aqueles que acreditam que o mundo precisa de Shakespeare e de usinas hidrelétricas, por exemplo. Se quero entender a alma humana, as usinas têm pouco a me ensinar; se preciso de luz — a física mesmo, não a metáfora —, o bardo pode pouco, a menos que eu bote fogo nos seus livros, o que eu não faria porque não sou um daqueles professores de extrema esquerda que tomam a praça de vez em quando… Cada uma dessas profissões tem a sua função social.
Se alguém tem fome, aquela do corpo, chame a quituteira. E há, admito, quem sacie a fome do espírito com Maria Bethânia. Eu sou contra a estatização das quituteiras e das Bethânias, sem juízo de valor. Pouco importa se músicas e quitutes são bons ou ruins, uma coisa é certa: o estado não tem de arcar com o custo de produção nem de uma coisa nem de outra.
Os cantores e cineastas deveriam ter vergonha de reivindicar uma exceção moral!
Por Reinaldo Azevedo

2011 - Liberdade é escravidão, ignorância é força

O caso que relato abaixo, da entidade que foi obrigada a se retratar por ter criticado o MST, já reflete uma escala superior da censura à liberdade de expressão. Notem que a associação foi levada a falar sobre o movimento o contrário daquilo que pensa. Estamos  num universo orwelliano mesmo, do “1984″, em que “liberdade é escravidão”, e “ignorância é força”.
Alguns indagariam: “Qual é o problema de obrigar alguém a dizer o que não pensa desde que sejam coisas boas?”
Pois é…
Por Reinaldo Azevedo
Ditadura maoísta imposta pelo Ministério Público em pleno Pernambuco de 2011!

"Inimigo do povo" na China da Revolução Cultural admite seu erro... Nem Pequim, hoje, age como o Ministério Público de Pernambuco
"Inimigo do povo" na China da Revolução Cultural admite seu erro... Nem Pequim, hoje, age como o Ministério Público de Pernambuco
Ocorreria a alguma democracia do mundo punir um indivíduo ou uma associação por exprimir um ponto de vista sobre uma luta de caráter político? Não! Isso é coisa de ditaduras. Leiam o que vai abaixo. Volto em seguida:
Por Angela Lacerda, da Agência Estado:
“Reforma agrária - esperança para o campo, comida na sua mesa”. A afirmação, tendo como fundo fotos de trabalhadores cultivando a terra, ilustra 20 outdoors que foram afixados hoje em avenidas de Recife e região metropolitana e rodovias estaduais, como forma de retratação da Associação dos Militares do Estado de Pernambuco (AME) e da empresa Stampa que, em 2006, foram responsáveis pela veiculação de outro tipo de outdoor. Eles diziam: “Sem-terra: sem lei, sem respeito e sem qualquer limite. Como tudo isso vai parar?”.
A atitude, considerada preconceituosa, difamatória e de criminalização dos trabalhadores sem- terra, provocou a reação de entidades de defesa dos direitos humanos que recorreram ao Ministério Público do Estado de Pernambuco (MPPE) visando a impedir a continuação da campanha e a buscar uma punição.
O MPPE fez a mediação e o resultado foi um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no qual ficou acordado a veiculação dos outdoors favoráveis à reforma agrária e de reconhecimento à luta dos trabalhadores por acesso à terra. Além dos outdoors, que permanecerão expostos por duas semanas, a AME também irá publicar em seu site e em um jornal corporativo uma nota de desagravo redigida pelas entidades de direitos humanos.
“É uma reparação importante para a cidadania dos trabalhadores que lutam por justiça e ajudam a colocar alimento na nossa mesa”, comemorou Manoel Morais, da coordenação executiva do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) - uma das entidades signatárias do desagravo, ao destacar o “ineditismo” da decisão do MPPE, que considerou “histórica”.
Comento
É claro que se trata de uma violência, sim! Contra a associação! Um movimento que fez o quem na Cutrale ou na Aracruz é ou não “sem lei, sem respeito e sem qualquer limite”? Uma associação está proibida de emitir seu ponto de vista sobre uma agenda política, claramente ideológica, como é a do MST? A única postura possível, nesse caso, é concordar com o sr. João Pedro Stedile?
É o fim da picada! Quanto ao cartaz de agora, se tivemos os fatos como referência, será preciso dizer: o que leva comida ao prato dos brasileiros é o agronegócio. Aliás, leva comida até ao MST, que recebe cestas básicas do governo: verdade ou mentira?
Eis aí: o ministro Ayres Britto talvez dissesse que estamos diante de um caso em que o “direito individual não pode esvaziar o direito coletivo”. Nesse caso, o suposto direito coletivo esvazia o individual, não? Digo que é “suposto” porque o MST é um grupamento de caráter político. Eles representam uma leitura da questão agrária no país, não “a” questão agrária.
O que se viu acima é coisa típica dos tempos da revolução cultural maoísta, quando os “inimigos do povo” eram obrigados a se ajoelhar em praça pública, portando cartazes em que confessavam seus crimes ideológicos.
É o fim da picada! Creio que a tal associação não decidiu levar a coisa adiante! Duvido que uma aberração como essa passasse pela maioria do Supremo - ainda que o tribunal já tenha sido tocado pelo populismo.
Por Reinaldo Azevedo

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