terça-feira, 22 de março de 2011

Quando os boatos não correspondem aos fatos.


Imaginem se Geraldo Alckmin ou José Serra, ambos tucanos, fizessem uma aliança em São Paulo com Marta Suplicy e Aloísio Mercadante, ambos petistas, para colocar Ciro Gomes, um socialista, como prefeito de São Paulo. Seria o caos para a oposição, não seria?

Em Belo Horizonte, Minas Gerais, por obra e arte do tucano Aécio Neves, é exatamente este o quadro político. A capital mineira possui um prefeito do PSB, graças a um acordo entre o PSDB e o PT. Em São Paulo, os tucanos preferiram fazer uma aliança com o DEM, um partido de oposição, em vez de fazer como em Minas, onde os tucanos apoiaram o PSB, um partido da base aliada do governo federal.

O que descrevemos acima é um fato político inquestionável: a tendência chapa-branca de Aécio Neves em contraponto com a tendência oposicionista de José Serra e de Geraldo Alckmin, que enfrentaram Lula nas urnas, enquanto o mineiro bajulava o ex-presidente, apoiando-o por  debaixo dos panos. Sim, porque Lula venceu as duas eleições em Minas, da mesma forma que Dilma venceu em 2010. Não existe oposição em Minas. Existem interesses. Projetos pessoais. Fisiologismo no seu estado da arte. Desde os tempos do "só vou na boa" Tancredo Neves.

É visível o dedo de Aécio Neves agindo para desestabilizar o sólido quadro da oposição em São Paulo, o reduto eleitoral que garante a hegemonia paulista nos rumos do PSDB. Fomentou e financiou politicamente a divisão do DEM, que está originando o PSD. Ou alguém tem alguma dúvida que Kassab permaneceria no DEM se ele voltasse a ser liderado pelo grupo ligado a Jorge Bornhausen e Marco Maciel que, hoje, lamentam profundamente o processo de renovação que colocou o incompetente, o desagregador, o venal Rodrigo Maia na presidência da legenda? No entanto, com o suporte do mineiro, Rodrigo Maia, ACM Neto, Onix Lorenzoni e outras pálidas figuras da política nacional, aprofundaram a divisão do DEM, praticamente empurrando com ofensas públicas e declarações nojentas o prefeito da capital e o vice-governador do maior estado do país para formar um novo partido.  Kassab foi expulso do DEM muito antes da convenção nacional e muito antes de articular a criação do PSD.

A campanha de linchamento político movida contra Gilberto Kassab, feita à base de boatos plantados e de superestimação de fatos políticos corriqueiros e banais, é de estarrecer. Aécio Neves quis fazer uma chapa com Ciro Gomes, em 2010. Com o PSB. Mantém a prefeitura de Belo Horizonte nas mãos dos socialistas. Seu sonho de consumo é ter o PSB nordestino de Eduardo Campos como vice na sua chapa presidencial de 2014. No entanto, Kassab foi execrado por conversar com o PSB sobre uma futura fusão.  Sobre analisar o potencial de um PMDB sem liderança com a morte de Quércia. Mas escuta aqui: o PSDB-MG já não fez uma fusão na prática com o PSB-MG e já não é uma coisa só? Aécio Neves não tem uma aliança com o PT, em Belo Horizonte e em inúmeros municípios mineiros?  O que diferencia a aliança tucano-petista de Minas da aliança pessedista-petista da Bahia?

Desfeito o boato da fusão com o PSB, que ainda pode acontecer tendo em vista o caótico quadro partidário brasileiro, Kassab passou a ser apedrejado por dizer que não faria oposição sistemática ao governo Dilma. Não é exatamente o que o tucano Antonio Anastasia está fazendo em Minas Gerais, com declarações textuais de que não existe oposição à Dilma? Não é exatamente isto que Aécio Neves fez durante os últimos oito anos ou alguém lembra de algum conflito do tucano traíra com Lula?

O que mais impressiona é ver um deputado sério, honesto, trabalhador como Ronaldo Caiado (DEM-GO) soltar o verbo contra Kassab, caindo na conversa mole de dois boyzinhos irresponsáveis e deslumbrados como ACM Neto e Rodrigo Maia. Servindo de sparring para um Aécio Neves, que vai dar um pé no traseiro do DEM em 2014, se for o candidato, trocando-o pelo "abominável "PSB, que tanto ataque rendeu ao destrambelhado Kassab.

A verdade é que, em relação ao PSD, muitos boatos não estão correspondendo aos fatos. Tem gente no DEM muito mais próxima do PMDB e do PP do que do novo partido, aguardando ansiosamente por uma janela para mudança, que Michel Temer vai abrir, segundo informações de fonte segura. Se o DEM não minguar para o lado de Kassab, tendo em vista a demonização do Partido da Boquinha ou do Partido Sem Decência, vai esvair-se para outras legendas. A única coisa que vai sobrar, que é o que interessa para Aécio Neves, é o tempo de TV.

Hoje Afif Domingos, que está liderando a criação do novo partido, dá uma entrevista esclarecedora no Estadão. Afirma que o PSD não vai fundir com ninguém e vai manter a aliança com o PSDB em São Paulo. As coisas, assim, começam a voltar para o devido lugar. Afif pode ser o nome que falta para a sucessão de Kassab. Assim como Kassab pode ser o vice para Alckmin ou Serra, em 2014, dependendo da composição da chapa presidencial. Não há motivo algum para brigas. O que os tucanos devem ficar preocupados é com o que o DEM que sobrar em São Paulo vai fazer contra os tucanos, de agora em diante. Porque DEM de São Paulo passou a ser DEM do Aécio Neves.

O mais importante é que o PSDB paulista acorde para um fato: Aécio Neves já destruiu o DEM e para ele seria ideal que o PSDB desmontasse em São Paulo. Enfraquecer São Paulo é o maior objetivo do tucano , pois só assim ele leva a cabeça de chapa em 2014. O inimigo não é o pobre e inábil Kassab. O inimigo está dentro da trincheira e o nome dele é Aécio Neves e o seu Projeto Minas. Pelo nome, dá para ver que São Paulo não faz parte dos seus planos.

Por fim, alguém há de perguntar por que tanta preocupação com o PSDB? Porque,infelizmente,  o DEM era o único partido que poderia representar grande parte do eleitorado, longe desta geléia tucana. Não há a mínima chance que surja alguma nova alternativa, depois do bombardeio aberto contra o PSD. Assim como qualquer tucano paulista é melhor do que Aécio, nada é pior do que o PT, por mais que o PSDB tente. 

PSD reafirma aliança com PSDB em 2012 e 2014, em SP.

Um dos principais adversários da fusão do PSD com o PSB, o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos defende o apoio da nova legenda à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB), caso ele esteja bem avaliado para disputar novamente o Palácio dos Bandeirantes. "Kassab tem 50 anos de idade. É uma pessoa que tem inteligência para saber qual é a sua vez. E quando é a sua vez", disse Afif em entrevista ao Estado

Por que sair do DEM e fundar um novo partido?Essa é uma decisão que foi bastante amadurecida, com o compromisso de que nós estávamos saindo para formar um novo partido, e não para fazer um bypass de uma fusão para escapar da fidelidade partidária. Era uma questão de incompatibilidade com o DEM, de um grupo político que está junto há muito tempo. Desde a campanha de 1989. A conversa foi exatamente no sentido: é para reeditar um projeto que todos nós sonhamos de fazer um partido novo? Se for nessas condições, eu vou. Se for para fazer um bypass, não conte comigo.
E a fusão com o PSB?O PSD é um partido que vai disputar a eleição.
E depois disso?Não sabemos o que vai acontecer. Depende do sucesso das adesões, das articulações. Estou confiante. Mas quando você sai para um projeto desses, você tem que ter uma ideia na cabeça e uma câmera na mão. Isso nós temos. 
A queda da popularidade de Kassab é atribuída à movimentação política nos últimos meses.É um equívoco de interpretação. O problema é a ênfase da notícia. O jornalismo gosta de novidade. A novidade está na cena política, não na gestão. Tem muita coisa na gestão que continua fazendo e vai fazer mais.
O PSD já nasce com uma imagem de legenda trampolim?O importante não é a imagem, é o som, o que você vai dizer. Até então a imagem era feita por aquilo que você não disse. O que foi interpretado. Daqui para a frente, é o que estamos dizendo e o que vamos fazer.
No Palácio dos Bandeirantes, houve descontentamento com o ingresso do sr. em um partido que apoia o projeto de Kassab se lançar governador em 2014.Outra versão que não cabe. O partido nasce para disputar a eleição de 2012, em aliança com o próprio PSDB. A nossa divergência não foi com o PSDB, foi com o DEM. Aqui em São Paulo, além do aspecto de estarmos juntos, existe o compromisso firmado nas urnas. Sou o vice-governador e vou cumprir a aliança até o fim.
Quando o sr. diz até o fim, inclui a eleição de 2014?Cumprir o mandato, como vice-governador. Cumprir as funções do governo. Agora, o que vai acontecer no jogo político, ninguém pode adivinhar. Mas a nossa intenção é que a gente trabalhe para o Geraldo ter sucesso e que vá para a reeleição. E ele terá o nosso apoio, sim.
 
DO B. DO CEL

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