O caderno “Ilustríssima”, da Folha, trouxe neste domingo um excelente texto de Marcelo Bortoloti e Paulo Werneck sobre a Fundação Casa de Rui Barbosa, que vai ser presidida pelo petista Emir Sader, acusado por alguns de sociólogo e intelectual. Há alguns anos considero este senhor um país mental, a que dei o nome de “Emirados Sáderes”. O texto da Folha, intitulado “Um emirado para Emir”, seguiu ao menos um pedaço dessa trilha. Já escrevi três posts sobre a indicação do bruto para a fundação: dois no dia 18 — “Abaixo o preconceito! Tiririca para a Casa de Rui Barbosa!” e ”Sader, o novo presidente da Casa de Rui Barbosa, se diz um especialista acadêmico em “Lula”!!! É mole?” — e um no dia 24: “Um país mental chamado Emirados Sáderes. Ou: A Madraçal do Emir“. Se era para escolher um quase analfabeto para a instituição, por que não o palhaço que é campeão de votos?
O “professor” já havia barbarizado numa entrevista ao jornal O Globo ao anunciar a pretensão de transformar Slavoj Zizek, Eduardo Galeano e Marilena Chaui em referências da reflexão na Casa. A grande ousadia de Zizek é justificar o terrorismo como uma moderna forma de luta política. Lixo moral! Marilena e Galeano são dois dinossauros daquela esquerda que alguns chamam “carnívora”, mas que, estou certo, é “herbívora”, já que pensa com os pés no chão — os quatro… Falarei um pouco mais da instituição abaixo. Quero me fixar um tantinho em Emir. Na conversa com a Folha, ele exagerou na delinqüência intelectual e, é o caso de avaliar, pode ter cometido um crime que dá cadeia, cuja pena é inafiançável e imprescritível: racismo. E nem é necessário que alguém o acuse disso. Se quiser, o próprio Ministério Público tem a prerrogativa de denunciá-lo. Por que escrevo isso?
Caetano Veloso, em sua coluna no jornal O Globo, criticou a entrevista que Emir dera ao jornal, inclusive a intenção de levar aqueles intelectuais para a fundação. À Folha, Emir comentou a opinião do compositor nestes termos:
“O Caetano ziguezagueia, fala qualquer coisa. O Gil foi ministro tem que ter mais coerência, tem que fazer política. Quem diria que aquele nego baiano tem muito mais articulação do que o Caetano?”
“O Caetano ziguezagueia, fala qualquer coisa. O Gil foi ministro tem que ter mais coerência, tem que fazer política. Quem diria que aquele nego baiano tem muito mais articulação do que o Caetano?”
Epa!!!
Alguém aí tem alguma interpretação alternativa para o que disse Emir Sader? Ele até emenda depois: “O Caetano é um cara conservador, tradicional, e o Gil é um cara inovador, com o qual eu me identifico”. Pode até ser. Mas as palavras têm sentido. Quando este gigante do pensamento considera um paradoxo, e ele considera, um “nego baiano” ter “mais articulação” do que Caetano, está afirmando, evidentemente, que o normal é que “negos baianos” não sejam tão articulados quanto brancos baianos. O seu “quem diria?” expressa o que ele considera ser uma contradição. A frase me parece inequivocamente racista, além de revelar uma das muitas ignorâncias de Emir. O pai do “nego baiano” era um médico bem-sucedido, e ele próprio era formado em administração de empresas quando se lançou na vida artística. Não é alguém que endosse o folclore do “nego baiano” saído do Pelourinho para o estrelato. Na seqüência, quando elogia o “inovador” Gil, ainda parece fazê-lo à esteira daquele suposto paradoxo. Dessem duas cachaças ao valente, haveria o risco de dizer: “Eu, embora branco, me identifico mais com Gil…”
Instituição respeitável
Essa foi uma das barbaridades ditas por Emir na conversa com os jornalistas da Folha. É espantoso que este senhor esteja para dirigir uma instituição federal respeitável, que tem passado e tem presente. Lembra o texto da Folha:
É vasta a lista de trabalhos relevantes lá realizados. Para citar apenas alguns exemplos, foi ali que Antonio Houaiss escreveu um monumento sobre edição de livros no país: “Elementos de Bibliologia” (1967). Também foram realizados trabalhos relevantes na área de filologia, como o “Vocabulário do Português Medieval”, de Antônio Geraldo da Cunha, e o levantamento de manuscritos de autores como Álvares de Azevedo, José de Alencar e Cruz e Souza.
Mais recentemente, foi feito o preparo de uma edição crítica dos primeiros livros de poesia de Carlos Drummond de Andrade, por Júlio Castañon Guimarães, que também assina o estabelecimento de texto do volume de “Crônicas Inéditas” de Manuel Bandeira (Cosac Naify). A produção de Drummond para os jornais ainda inédita em livro foi levantada pela pesquisadora Isabel Travancas.
Essa foi uma das barbaridades ditas por Emir na conversa com os jornalistas da Folha. É espantoso que este senhor esteja para dirigir uma instituição federal respeitável, que tem passado e tem presente. Lembra o texto da Folha:
É vasta a lista de trabalhos relevantes lá realizados. Para citar apenas alguns exemplos, foi ali que Antonio Houaiss escreveu um monumento sobre edição de livros no país: “Elementos de Bibliologia” (1967). Também foram realizados trabalhos relevantes na área de filologia, como o “Vocabulário do Português Medieval”, de Antônio Geraldo da Cunha, e o levantamento de manuscritos de autores como Álvares de Azevedo, José de Alencar e Cruz e Souza.
Mais recentemente, foi feito o preparo de uma edição crítica dos primeiros livros de poesia de Carlos Drummond de Andrade, por Júlio Castañon Guimarães, que também assina o estabelecimento de texto do volume de “Crônicas Inéditas” de Manuel Bandeira (Cosac Naify). A produção de Drummond para os jornais ainda inédita em livro foi levantada pela pesquisadora Isabel Travancas.
Emir quer mudar tudo! Para ele, a Fundação Casa de Rui Barbosa tem de ser um centro de reflexão sobre o… lulismo! Não se trata de uma brincadeira nem de um resumo apressado. E sabem em quem ele se escora para justificar essa escolha? Na presidente Dilma Rousseff. Numa entrevista que a então candidata concedeu ao próprio Emir e a Marco Aurélio Garcia — sim, o Top, Top —, que virou livro, ela teria dito:
“Vocês têm que teorizar esse troço, nós estamos fazendo. Nós não temos tempo de pensar os limites, as contradições, os potenciais”.
O “vocês” são os “intelectuais” da estirpe de Emir; “esse troço” é o lulo-petismo. Indicado para presidir a Fundação, este iluminado acha que uma instituição dedicada à preservação de acervos literários e pesquisas históricas deve se converter num centro de louvação da herança lulista.
“Vocês têm que teorizar esse troço, nós estamos fazendo. Nós não temos tempo de pensar os limites, as contradições, os potenciais”.
O “vocês” são os “intelectuais” da estirpe de Emir; “esse troço” é o lulo-petismo. Indicado para presidir a Fundação, este iluminado acha que uma instituição dedicada à preservação de acervos literários e pesquisas históricas deve se converter num centro de louvação da herança lulista.
Confissão de ignorância
Os Emirados Sáderes ainda não invadiram a Fundação Casa de Rui Barbosa. A nomeação está para a acontecer. Embora ele queira mudar tudo por lá, confessa ignorar o trabalho que se faz na instituição que vai dirigir. Leiam isto:
O que Emir Sader destaca na produção da Casa Rui? “Eu vou fazer injustiças… A [historiadora] Isabel Lustosa faz um trabalho legal, a [crítica literária] Flora Süssekind… Mas aí é dizer mais ou menos o óbvio, né. A Lia Calabre, na parte de políticas culturais… Eu não conheço direito, não conheço por ignorância minha, mas não conheço por intranscendência da Casa. Você olha aquilo lá e não sabe em que momento do país aquilo foi produzido. Eu também não me informei muito. As coisas da casa não chegaram a mim. E lá de dentro não saiu essa transcendência, de colocar temas importantes”.
Os Emirados Sáderes ainda não invadiram a Fundação Casa de Rui Barbosa. A nomeação está para a acontecer. Embora ele queira mudar tudo por lá, confessa ignorar o trabalho que se faz na instituição que vai dirigir. Leiam isto:
O que Emir Sader destaca na produção da Casa Rui? “Eu vou fazer injustiças… A [historiadora] Isabel Lustosa faz um trabalho legal, a [crítica literária] Flora Süssekind… Mas aí é dizer mais ou menos o óbvio, né. A Lia Calabre, na parte de políticas culturais… Eu não conheço direito, não conheço por ignorância minha, mas não conheço por intranscendência da Casa. Você olha aquilo lá e não sabe em que momento do país aquilo foi produzido. Eu também não me informei muito. As coisas da casa não chegaram a mim. E lá de dentro não saiu essa transcendência, de colocar temas importantes”.
Eu vivo gozando da ignorância de Emir. Ele pensa mal, escreve mal, cita mal — já participei de um debate com ele em que atribuiu a Adam Smith o que este nunca dissera; um dos presentes insistiu para Emir revelar a fonte da citação; não existia; foi muito constrangedor! Noto, ao ler o trecho acima, que ele ignora o significado da palavra “transcendência” em todas as suas acepções. O que quer dizer, meu Deus!, “sair transcendência lá de dentro?” Imaginem, então, o que vem a ser a “intranscendência”, uma surpresa até para os dicionários…
E, obviamente, destaco a vigarice intelectual de quem confessa ignorar o trabalho que se faz na instituição que vai presidir, embora tenha demonstrado a intenção de mudar o rumo do trabalho. É o fim da linha!
De como Emir não foi ministro
Emir Sader queria ser ministro. Ele se mobilizou para isso. Ele puxou o saco para isso. Ele organizou um manifesto de intelectuais e artistas em favor de Dilma para isso. Mas cometeu um erro fatal. Convidou Chico Buarque para ser a grande estrela do movimento, e a ministra, como sabem, é Ana de Hollanda, irmã do colecionador de Jabutis em cima da árvores. O homem está frustrado. A Fundação Casa de Rui Barbosa é subordinada ao Ministério da Cultura. Assim que for nomeado, Ana passa a ser a chefe de Emir. Ele não contém seu ressentimento. Na entrevista à Folha, referiu-se ao corte do Orçamento nestes termos:
“Tem o corte, o orçamento é menor, e tem dívidas. Desde março, não se repassou nada aos Pontos de Cultura. Teve uma manifestação em Brasília. Está estourando na mão da [ministra] Ana [de Hollanda] porque ela fica quieta, é meio autista.”
Emir Sader queria ser ministro. Ele se mobilizou para isso. Ele puxou o saco para isso. Ele organizou um manifesto de intelectuais e artistas em favor de Dilma para isso. Mas cometeu um erro fatal. Convidou Chico Buarque para ser a grande estrela do movimento, e a ministra, como sabem, é Ana de Hollanda, irmã do colecionador de Jabutis em cima da árvores. O homem está frustrado. A Fundação Casa de Rui Barbosa é subordinada ao Ministério da Cultura. Assim que for nomeado, Ana passa a ser a chefe de Emir. Ele não contém seu ressentimento. Na entrevista à Folha, referiu-se ao corte do Orçamento nestes termos:
“Tem o corte, o orçamento é menor, e tem dívidas. Desde março, não se repassou nada aos Pontos de Cultura. Teve uma manifestação em Brasília. Está estourando na mão da [ministra] Ana [de Hollanda] porque ela fica quieta, é meio autista.”
É isto: Emir Sader acha que sua futura chefe é meio “autista”.
Este notável intelectual será nomeado para a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa na cota pessoal do Babalorixá de Banânia. Não escamoteia sua ignorância nem seus propósitos. A idéia é mesmo transformar a instituição numa divisão do PT. Repetindo aquelas que seriam palavras da própria presidente, não poupa nem mesmo a ministra da Cultura, petista como ele. Imaginem o que fará com a linha de pesquisa que não endossa seus preconceitos ideológicos.
Até outro dia, os adversários do PT se encarregavam de acusar o partido de aparelhar órgãos do estado. Eles negavam. Agora, há uma advertência, um aviso prévio: “Vamos aparelhar, sim!” Emir diz que transformará a entidade numa divisão do partido e deixa claro que não se subordinará nem àquela que será sua chefe.
Com a palavra, a presidente Dilma Rousseff, cuja diretriz ele diz estar obedecendo.
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