Por Augusto Nunes - Veja Online
Entre um sarau com blogueiros estatizados e um passeio na Guiana, o presidente Lula lembrou-se de que os barulhos no Rio não eram fogos de artíficio nem anunciavam a entrada na Sapucaí de alguma escola de samba e comunicou ao companheiro Sergio Cabral — por telefone — que a parceria continua. “Ele terá tudo o que pedir dentro da lei”, recitou.
A declaração é o que os americanos chamam de no news — a não-notícia, o antifato, a trivialidade descartável. É também uma frase exemplarmente cretina, constata quem a confronta com o seu oposto. Alguém pode imaginar um presidente dizendo que um governador não terá nenhum pedido atendido, a menos que solicite algo ilegal? Lula é capaz de tudo, certo. Mas até para esse tudo há limites.
Depois de credenciar-se a disputar com Dilma Rousseff a final do campeonato brasileiro de platitudes, fez o que sempre faz em situações de perigo: tirou o corpo fora. “É preciso respeitar a soberania do Rio”, descobriu o presidente que vive se metendo no Oriente Médio, no Irã, em Honduras e em quaisquer paragens que lhe pareçam eleitoralmente lucrativas. Até a eleição do dia 31, Lula, Dilma e Cabral faturaram gulosamente o milagre da pacificação do Rio. Desmontada a falácia, o presidente debitou o prejuízo na conta do governador.
Em fevereiro de 2007, em outra conversa por telefone com Cabral, Lula foi muito além do palavrório protocolar ao saber que as coisas haviam esquentado de novo no Complexo do Alemão. Que o companheiro dormisse em paz, avisou o maior dos governantes desde Tomé de Souza. A Força Nacional de Segurança Pública, parida e comandada pelo marechal de bombachas Tarso Genro, estava devidamente adestrada, com a faca nos dentes e ansiosa por mostrar seu valor.
Não poderia haver cenário tão perfeito para o espetáculo de estreia, concordaram os parceiros. O mosaico de favelas penduradas em morros controlados pelos mais ferozes narcotraficantes do país conheceria a bravura e a eficácia da “Força”, como Lula e Tarso se referiam, com cara de pai orgulhoso, à tropa invencível. Feliz, o governador atravessou a madrugada sonhando com a chegada da salvação. Confiante como um general alemão em 1940, o presidente ordenou que o exército fantasma se materializasse no Rio e entrasse em ação.
O vídeo enviado pela comentarista Lilian mostra o que aconteceu. Tem . Em pouco mais de 2 minutos, reduz a farrapos fantasias costuradas durante oito anos pelos estilistas do Brasil do faz-de-conta. E explica por que enfim se solicitou a ajuda das Forças Armadas. O esquema de segurança pública do governo federal nunca existiu.
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