Juliana Carpanez
Do UOL, em São Paulo
O Poder Judiciário perdeu musculatura constitucional, abriu mão de sua força e independência
Walter Maierovitch, jurista
A independência, explica, é a de o Supremo impor medidas cautelares
--como afastamento e recolhimento noturno-- ao Poder Legislativo para
que as execute. Na prática, será necessário aval do Legislativo quando
essas medidas interferirem "direta ou indiretamente" no exercício do
mandato parlamentar. As ordens do Supremo, portanto, poderão ser
contestadas e reformadas pela maioria do Senado e da Câmara –como o
afastamento de Aécio Neves (PSDB) e a proibição de ele sair à noite.
Diante da mudança, Maierovitch diz acreditar que a última palavra
ficará sempre com o Legislativo. O que, segundo ele, termina com a
recente queda de braço entre os dois poderes: "Acabou. Se fosse boxe,
[os ministros do STF] teriam jogado a toalha no meio do ringue. Dia 17
[data prevista para o Senado votar o afastamento de Aécio], o
Legislativo vai estar lá [para definir o futuro do senador afastado]".
Aécio foi denunciado pelos crimes de corrupção e obstrução de Justiça,
por suspeitas de ter negociado propina com o empresário Joesley Batista,
da JBS."Nesse momento que estamos vivendo, não há como desvincular [os fatos] da Operação Lava Jato, da corrupção", continua o jurista. Ele menciona a operação Mãos Limpas, contra a corrupção política na Itália, que terminou sendo chamada de operação "mãos decepadas" pelos resultados decepcionantes. "Na decisão de ontem [quarta-feira], o Supremo saiu com uma mão decepada. Se olharmos para a Lava Jato e fizermos essa comparação, é esse o contexto", continua.
Para Maierovitch, a decisão cria um desvirtuamento no sistema republicano, baseado na igualdade de todos perante a lei --sem exceções, por exemplo, para parlamentares.
Josias de Souza: Entre Cunha e Aécio, Supremo vira ex-Supremo
'Ministros do STF vestem toga política'
O especialista não relaciona diretamente esta decisão ao aumento da impunidade para senadores e vereadores. Mas fala que a votação causou um desequilíbrio do sistema: "A balança de Têmis, deusa que representa a Justiça, está desequilibrada. E ela também jogou fora sua espada, que é símbolo de sua força".Se isso aconteceu, na opinião de Maierovitch, é porque os ministros do STF vestem togas políticas e não da Justiça. "O que acontece ali é político. E isso leva a uma discussão sobre o Poder Judiciário que temos, no qual seus ministros, com algumas exceções, vestem a toga da ideologia de grupos políticos. Não digo que são mais juristas, mas para alguns falta a principal qualidade de um juiz: a isenção."
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