segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Raquel Dodge exclui da Lava Jato procuradores que prometera manter

Entre os afastados está Rodrigo Telles, que liderava as investigações contra o senador José Agripino, aliado do presidente Michel Temer. A nova procuradora-geral nomeou Luciano Maia, primo de Agripino, como seu vice

DIEGO ESCOSTEGUY E MARCELO ROCHA- EPOCA
16/09/2017 - 15h27 - Atualizado 18/09/2017 15h54
A futura Procuradora   Geral da República Dra Raquel Dodge (Foto:  Ailton de Freitas / Agência O Globo)
A nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, quebrou o compromisso público de manter os integrantes do grupo de trabalho da Lava Jato que se dispusessem a permanecer na PGR após a saída de Rodrigo Janot. Em portarias que serão publicadas no começo desta semana, a que ÉPOCA teve acesso, ela exclui da Lava Jato os procuradores Rodrigo Telles e Fernando Antonio de Alencar, dois dos principais investigadores da operação. Ambos já haviam manifestado intenção de ficar, tanto formalmente quanto em contatos informais com o grupo da nova procuradora-geral – e tinham recebido a confirmação de que prosseguiriam nas investigações. Os dois foram surpreendidos com a informação oficiosa, neste sábado (16), de que estão fora da Lava Jato. O procurador José Alfredo de Paula, novo coordenador da Lava Jato na PGR, confirmou a eles que ambos estão excluídos das investigações. Dodge toma posse nesta segunda-feira (18). O presidente Michel Temer prometeu comparecer ao evento.
A exclusão de Telles é especialmente significativa. Além de participar de quase todos os casos da Lava Jato na PGR, o procurador destacou-se por liderar as investigações contra o senador José Agripino, presidente do DEM e aliado de Temer. No ano passado, Telles comandou a investigação que resultou numa denúncia por corrupção passiva contra Agripino. O senador foi acusado de pedir propina de R$ 1 milhão a um empresário que detinha contratos com o governo do Rio Grande do Norte. Entre as provas há áudios que implicam fortemente Agripino, na avaliação dos investigadores. O caso permanece em sigilo, por decisão do ministro Ricardo Lewandowski, que o relata no Supremo.
José Agripino Maia (Foto: Antonio Cruz/ABr)
Incomodado com a atuação de Telles, Agripino pediu a cabeça dele a Janot no começo do ano, segundo o procurador-geral comentou com três interlocutores após o contato do senador. Janot disse ter recusado de pronto o pedido. Recentemente, já escolhida por Temer como substituta de Janot, Raquel Dodge anunciou como seu vice o procurador Luciano Maia, primo de Agripino.
Mesmo com a escolha do primo de Agripino e a alegada pressão do senador junto à PGR, Telles foi informado de que permaneceria no grupo de trabalho da Lava Jato, conforme a promessa pública de Raquel Dodge. Manteve contatos frequentes com três procuradores da turma de Raquel. Na quarta-feira (13), mais uma flechada contra Agripino: ele foi denunciado pela PGR ao Supremo, acusado novamente de corrupção – desta vez, suspeito de receber propina da OAS. Em ambas as denúncias, Agripino é acusado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em ambas, a participação de Telles foi decisiva.
Até a sexta-feira (15), Telles e Fernando Antonio de Alencar acreditavam que continuariam  na Lava Jato. Souberam que estavam fora em razão do vazamento das portarias com a exclusão deles. Após o vazamento, José Alfredo informou a Telles que “havia resistência” ao nome dele, sem dar detalhes.
Outro lado
Agripino Maia negou que tenha solicitado a substituição de Rodrigo Telles no grupo de trabalho da Lava Jato, seja a Rodrigo Janot ou a sua sucessora, Raquel Dodge. “Nunca pedi. Adiantaria fazer um pedido desse ao procurador Rodrigo Janot? Primeiro de tudo, não tem cabimento. E segundo: ele [Janot] é um homem de convicções. Jamais. Também nunca comentei com a doutora Raquel Dodge sobre procurador algum. Ele [Rodrigo Telles] cumpre as obrigações dele”, afirmou Maia. O parlamentar disse que soube de mudanças na Lava Jato pela reportagem. “Eu estou sendo informado por você da substituição deste procurador. Não fazia ideia.”
O parlamentar também negou participação no processo de escolha de Luciano Maia, seu primo, para a Vice-Procuradoria-Geral da República. “Isso seria me atribuir uma força que eu não teria nunca, fazer qualquer tipo de encaminhamento, sugestão ou de indicação de nome para compor a equipe da futura procuradora. Eu não tenho esse tipo de acesso. Não tive em momento algum oportunidade ou intenção de fazer qualquer tipo de indicação.” E acrescentou: “Luciano [Maia] é meu primo sim, um subprocurador com muitos anos de carreira. Tem o conceito dele e, assim como os demais integrantes da equipe da futura procuradora, foi escolhido por critérios técnicos. Não me consta que ele tenha pedido indicação a alguém. A mim muito menos”.
A assessoria de imprensa de Raquel Dodge informou que a composição do grupo de trabalho da Lava Jato será definida em portaria a ser assinada na segunda-feira (18), dia em que ela assume o comando da Procuradoria-Geral da República. A assessoria afirmou que parte dos procuradores da equipe atual da Lava Jato havia solicitado o desligamento.

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