Políticos à venda existem em toda parte. Variam o preço e o cinismo.
Nesses quesitos o Brasil revela-se um líder mundial. Depois que a Lava
Jato invadiu a bilionária divisão de propinas da Odebrecht, a bancada
dinheirista do Congresso se oferece para reformar o modelo político
apodrecido. A articulação deflagrada em Brasília revela o tamanho da
ilusão dos que imaginam que os políticos, alvos de uma rejeição jamais
vista, são capazes de entender que a impaciência do país com a rapinagem
virou uma força política a ser levada em conta.
Nesta
quarta-feira, reuniram-se em Brasília os presidentes da República,
Michel Temer; da Câmara, Rodrigo Maia; do Senado, Eunício Oliveira; e do
Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes. Em meio às labaredas,
discutiram regras de prevenção ao incêndio a serem fixadas numa reforma
do sistema político-eleitoral. Em nota, convidaram a sociedade civil a
se unir à empreitada. Enumeraram quatro objetivos.
1. Buscar a racionalização do sistema político;
2. Redução dos custos das campanhas políticas;
3. Fortalecimento institucional das legendas;
4. Maior transparência e simplificação das regras eleitorais.
Beleza. Agora só falta responder a quatro perguntinhas: 1) Como confiar aos responsáveis pela irracionalidade corrupta a busca da racionalidade saneadora? 2) Congressistas que trazem o código de barras à mostra terão credibilidade para tratar de custos? 3) Antes de fortalecer as legendas, não seria o caso de cassar as que apodreceram? 4) As contas eleitorais serão expostas online, em tempo real, ou vem aí mais uma transparência de cristal Cica?
A
reunião do Planalto foi comandada pelo delatado Michel Temer, que
chefia um governo com cinco ministros lançados no caldeirão da
Odebrecht. A pseudoreforma será conduzida por Rodrigo Maia e Eunício
Oliveira, ambos pendurados de ponta-cabeça na nova lista de candidatos à
investigação que a Procuradoria acaba de solicitar ao Supremo Tribunal
Federal.
Uma autodepuração como essa, tão impregnada de
autodesmoralização, não tem o menor risco de dar certo. Mas eles
continuarão ameaçando. Convém retirar as crianças da sala. DO J.DESOUZA
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