segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Temer superestima invulnerabilidade do governo

As coisas poderiam estar mais tranquilas para Michel Temer, pois os juros caem, a inflação caminha em direção à meta e já não são negligenciáveis as chances de o PIB do primeiro trimestre ser positivo. No entanto, o presidente faz comentários que flertam com o equívoco de superestimar a invulnerabilidade política do seu governo. Temer tenta embromar a plateia.
O presidente ignora a homologação de delações pelo Supremo Tribunal Federal, mantém do seu lado auxiliares tóxicos, oferece o escudo do foro privilegiado a um amigo enrolado, patrocina uma indicação política para a Suprema Corte e leva ao balcão do fisiologismo a pasta da Justiça, de cujo organograma pende a Polícia Federal. Faz tudo isso e acha que pode melhorar a imagem do seu governo na base do gogó.
Temer dá de ombros para os inquéritos. Diz que não pode aceitar que “a simples menção inauguradora de um inquérito” possa incriminar um assessor a ponto de provocar o seu afastamento do cargo.
O que Temer disse, com outras palavras, foi o seguinte: “Não afastarei auxiliares alvejados por delações. Eu mesmo fui citado por um delator. Fui acusado de solicitar R$ 10 milhões a Marcelo Odebrecht, em pleno Palácio do Jaburu. Outro delator diz ter acertado comigo, no meu escritório em São Paulo, uma verba de campanha intermediada por Eduardo Cunha. Se delação bastasse, eu teria que renunciar.”
Temer relativizou as denúncias do Ministério Público Federal. Se ocorrerem, servirão, no máximo, para justificar o afastamento temporário de colaboradores. Se as denúncias forem recepcionada pelo Supremo e os acusados virarem réus, aí sim, o afastamento será defnitivo.
Nesse ponto, foi como se Temer dissesse: “Eu sei o que os ministros palacianos, meus amigos de três décadas, fizeram no verão passado. Mas cabe aos acusadores reunirem provas contra eles. Enquanto der, ficam no governo. Considerando-se o ritmo da Lava Jato em Brasília, é possível que minha gestão o chegue ao final sem que eu tenha que demitir os amigos.”
O presidente ainda não se deu conta —ou finge não ter percebido. Mas o núcleo palaciano do seu governo e o colegiado de pajés do seu PMDB encontram-se em avançado estágio de decomposição. Os operadores e conselheiros de Temer viraram chorume num instante em que a Fazenda celebra a melhoria do cenário econômico.
Para que a coisa continue melhorando, o Planalto terá de fazer passar no Congresso medidas amargas. Entre elas a reforma da Previdência. Disso depende a inversão da curva ascendente da dívida pública e a redução do déficit fiscal. O diabo é que a plateia talvez não se disponha a fazer sacrifícios por um governo que confraterniza com a suspeição, que ignora a investigação, que escamoteia a denúncia, que aguarda pela abertura de ações penais cuja abertura pode demorar muitos anos. DO J.DESOUZA

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