Instituído por Michel Temer há 13 dias, o modelo de demissão de
ministros em suaves prestações já está com o prazo de validade vencido.
Ministros denunciados pela Procuradoria na Lava Jato, esclareceu Temer,
amargariam um afastamento temporário, conservando o salário e o
privilégio de foro. Convertidos em réus pelo Supremo Tribunal Federal,
os ministros seriam, aí sim, mandados ao olho da rua. Eliseu Padilha, o
chefe da Casa Civil, ainda não foi denunciado. Tampouco virou réu.
Entretanto, embora a ficha de Temer ainda não tenha caído, a demissão do
chefe da Casa Civil tornou-se incontornável. Até aliados do presidente
já admitem em privado que o mais conveniente seria que o ministro,
licenciado por problemas de saúde, não retornasse.
Temer enxerga
em Eliseu Padilha uma honestidade incrível. Mas o braço brasiliense da
força-tarefa da Opreação Lava Jato passou a ver no ministro uma
inocência inacreditável. A incredulidade dos investigadores cresceu
depois que o ex-assessor presidencial José Yunes veio aos holofotes para
dizer que recebeu, a pedido de Padilha, um envelope levado pelo doleiro
Lúcio Funaro. O enredo tem pontos de contato com as delações da
Odebrecht, que indicam o escritório paulista de Yunes como um dos
endereços de entrega de parte dos R$ 10 milhões que Temer solicitou a
Marcelo Odebrecht em 2014.
Em política, não adianta brigar com o
inevitável. Diante de um pé d’água, a primeira coisa a fazer é encontrar
um guarda-chuva. A segunda, é abrir o guarda-chuva. A terceira, é
tentar se molhar o mínimo possível. Alcançado por um temporal, Padilha
deixou Temer ensopado. O modelo de demissão a prazo —afastamento na
denúncia e exoneração no envio ao banco dos réus— deixou o almoxarifado
do Planalto sem guarda-chuvas. A fórmula pode interessar aos ministros
que estão na chuva. Mas mantém a reputação do presidente, já encharcada,
à mercê de todo tipo de intempérie.
A integridade de um
presidente da República é como a gravidez. Não dá segunda safra. Mas
convém a Temer manter ao menos as aparências. O autodenominado “núcleo
duro” do Planalto se liquefez. A cúpula do governo vira chorume junto
com a fina flor do PMDB. E Temer encontra-se perigosamente próximo do
lixão para o qual a Lava Jato arrasta personagens como Renan Calheiros,
Romero Jucá, Edison Lobão, José Sarney, Jader Barbalho… A atmosfera
malcheirosa adensou-se com a chegada
ao Brasil dos operadores de propinas Jorge e Bruno Luz, presos em
Miami. Licenciado da presidência do PMDB, Temer comandou o partido por
15 anos. Perdeu o direito de usar o bordão “eu não sabia”.DO J.DESOUZA
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