VALENTINA DE BOTAS
Entre o Brasil de Marco Antonio Villa onde as instituições não estão funcionando e o de J.R. Guzzo, descrito no memorável Aqui Entre Nós da última terça feira, em que o estado de direito democrático se anaboliza pela conduta de Sérgio Moro na Lava Jato, qual vigora? Talvez ambos que, sem ser só esses, são o mesmo. As realidades coexistem nesta Macondo tanto mais real quanto inverossímil, lambendo-se e repelindo-se.
Em magnífico artigo na edição passada de VEJA, Guzzo constata um Brasil que nunca houve, simbolizado não só nas prisões de certa elite econômica, mas sobretudo na impotência dos poderosos perante a lei – a melhor tradução do estado de direito que a todos iguala e se consolida, em essencial ciclo virtuoso. O amargo da celebração de tão boa nova se adensa na também acertada constatação de Villa quanto às sucessivas patifarias que motivaram, precisamente, a prisão dos empreiteiros e que amontoam indícios colossais, diluvianos, hiperbólicos, incontornáveis, incessantes do protagonismo do jeca e da respectiva criatura na fundação da república do pixuleco para assaltar o Estado.
Como quase 70% da população brasileira, quero a abreviação do mandato de Dilma – mesmo sem mandato para votar no eventual processo de impeachment de Dilma, continuo livre para querer o impeachment de Dilma –, não por capricho, mas porque a presidente está sitiada pelas leis, do código penal à legislação eleitoral. E não há salvação fora delas que preveem, inclusive, o impeachment. Ah, mas o instituto nasceu para não ser usado porque é traumático, enseja males desconhecidos, vai se banalizar e tal. Ora, a ser assim, fica estabelecido que os presidentes delinquam com tal volúpia até se imunizarem contra a punição que, traumática, existe para não ser aplicada: um estado de direito jabuticaba.
Se a Lava Jato não é culpada pela queda do PIB, e ela não é culpada pela queda do PIB, o impeachment também não poderia ser responsável por males adivinhados. Pois o mal maior não é exatamente o rio que banha as vastas solidões da porção da Macondo que Villa denuncia, no curso do qual uns se pretendem acima de todos os outros e da lei? O jeca merece cadeia; Dilma, o impeachment; e o PT, a extinção. Ou restará a sina de avançarmos para trás e o revigorado estado de direito, em que os mandantes se safam pela colossal magnitude das delinquências deles no paradoxo da jabuticaba, frutificará em outra de nossas singularidades indesejadas.
Se o Brasil continuar um país onde vagarão livres os fantasmas dos chefes da escória que o terão esbulhado por 16 anos custando 50, o menos traumático será o injusto sacrifício inevitável de pagarmos o que o dinheiro compra, pois para todo o resto existe nossa esperança que, entre os brasileiros decentes, há muito não é profissão, mas um bico para sobreviver no país adiado, essa promessa grávida de frustração interrompendo o Brasil nunca havido para que vigore a Macondo pixuleca: o anticlímax do estado de direito.
DO A.NUNES
Entre o Brasil de Marco Antonio Villa onde as instituições não estão funcionando e o de J.R. Guzzo, descrito no memorável Aqui Entre Nós da última terça feira, em que o estado de direito democrático se anaboliza pela conduta de Sérgio Moro na Lava Jato, qual vigora? Talvez ambos que, sem ser só esses, são o mesmo. As realidades coexistem nesta Macondo tanto mais real quanto inverossímil, lambendo-se e repelindo-se.
Em magnífico artigo na edição passada de VEJA, Guzzo constata um Brasil que nunca houve, simbolizado não só nas prisões de certa elite econômica, mas sobretudo na impotência dos poderosos perante a lei – a melhor tradução do estado de direito que a todos iguala e se consolida, em essencial ciclo virtuoso. O amargo da celebração de tão boa nova se adensa na também acertada constatação de Villa quanto às sucessivas patifarias que motivaram, precisamente, a prisão dos empreiteiros e que amontoam indícios colossais, diluvianos, hiperbólicos, incontornáveis, incessantes do protagonismo do jeca e da respectiva criatura na fundação da república do pixuleco para assaltar o Estado.
Como quase 70% da população brasileira, quero a abreviação do mandato de Dilma – mesmo sem mandato para votar no eventual processo de impeachment de Dilma, continuo livre para querer o impeachment de Dilma –, não por capricho, mas porque a presidente está sitiada pelas leis, do código penal à legislação eleitoral. E não há salvação fora delas que preveem, inclusive, o impeachment. Ah, mas o instituto nasceu para não ser usado porque é traumático, enseja males desconhecidos, vai se banalizar e tal. Ora, a ser assim, fica estabelecido que os presidentes delinquam com tal volúpia até se imunizarem contra a punição que, traumática, existe para não ser aplicada: um estado de direito jabuticaba.
Se a Lava Jato não é culpada pela queda do PIB, e ela não é culpada pela queda do PIB, o impeachment também não poderia ser responsável por males adivinhados. Pois o mal maior não é exatamente o rio que banha as vastas solidões da porção da Macondo que Villa denuncia, no curso do qual uns se pretendem acima de todos os outros e da lei? O jeca merece cadeia; Dilma, o impeachment; e o PT, a extinção. Ou restará a sina de avançarmos para trás e o revigorado estado de direito, em que os mandantes se safam pela colossal magnitude das delinquências deles no paradoxo da jabuticaba, frutificará em outra de nossas singularidades indesejadas.
Se o Brasil continuar um país onde vagarão livres os fantasmas dos chefes da escória que o terão esbulhado por 16 anos custando 50, o menos traumático será o injusto sacrifício inevitável de pagarmos o que o dinheiro compra, pois para todo o resto existe nossa esperança que, entre os brasileiros decentes, há muito não é profissão, mas um bico para sobreviver no país adiado, essa promessa grávida de frustração interrompendo o Brasil nunca havido para que vigore a Macondo pixuleca: o anticlímax do estado de direito.
DO A.NUNES
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