Ao lado, a enfermeira Helena Ventura: sua campanha a deputada federal,
que lhe rendeu apenas 29 votos, repassou 36 milhões de reais a
Bené(VEJA.com/VEJA)
A revista Veja que já começou a circular em São Paulo nesta manhã de
sexta-feira, revela em reportagem especial que existe um grande segredo
envolvendo esses três personagens.
Entenda o que une a mulher do governador mineiro Fernando Pimentel, a
mulher
humilde que teria gasto 36 milhões de reais numa campanha eleitoral e o
já
notório Bené, acusado de alimentar o caixa do Partido dos Trabalhadores
com
dinheiro desviado dos cofres públicos.
O editor publicou nota na quarta-feira, mostrando como Carolina de
Oliveira, jornalista que nasceu na periferia de Brasília e fisgou o
governador Pimentel e virou primeira-dama, tornou-se amiga de Helena
Ventura, uma enfermeira pobre, mas como Carolina e Pimentel é gente do
PT.
O trio está envolvido em grosso escândalo de corrupção.
Leia a reportagem aseguir, assinada por Rodrigo Rangel e Adriano Ceolini:
As duas mulheres que aparecem nesta reportagem não se
conhecem. Carolina de Oliveira é jornalista. Cresceu na periferia de Brasília e
hoje é a primeira-dama de Minas Gerais. Helena Maria de Sousa, ouHelena
Ventura, como também é conhecida, mora em Betim, na região metropolitana
de Belo Horizonte, é enfermeira da rede pública de saúde e se candidatou a
deputada estadual nas últimas eleições pelo PT. Apesar das trajetórias
aparentemente distintas, as duas são suspeitas de envolvimento no mais recente
escândalo de corrupção investigado pela Polícia Federal. Ambas, cada uma à sua
maneira, estão conectadas a Benedito de Oliveira Neto, o Bené, empresário de
Brasília que, na última década, fez fortuna como parceiro do governo federal,
teve como cliente a campanha da presidente Dilma Rousseff, foi preso e está
indiciado por formação de quadrilha.
O acaso levou Carolina a Bené. Formada em comunicação,
ela trabalhou numa empresa que prestava serviços ao então prefeito de Belo
Horizonte, Fernando Pimentel. Logo, foi promovida a assessora pessoal dele - e
não se separaram mais. Em 2010, Pimentel foi indicado para coordenar a campanha
presidencial de Dilma Rousseff. Carol o acompanhou. O prefeito delegou a
Benedito de Oliveira, seu amigo, a montagem do comitê central. Bené alugou a
casa e organizou toda a infraestrutura para o início da campanha. Ele era um
mero desconhecido, e continuaria nas sombras se não fosse um escândalo que
eclodiu antes mesmo do início da campanha. Além de marqueteiros e jornalistas,
o empresário contratou para o comitê uma equipe de ex-policiais e arapongas
para bisbilhotar a vida de adversários. Revelado por VEJA, o caso provocou o
afastamento da dupla Pimentel-Bené do comando da campanha - mas só da campanha.
Eleita, Dilma nomeou Fernando Pimentel para comandar o
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O ministro, por
sua vez, contratou Carolina como sua assessora no ministério. Ela cuidava dos
compromissos oficiais, acompanhava as viagens e estava presente na maioria dos
eventos de que ele participava. Em 2012, motivado por rumores, Pimentel
recomendou que a assessora deixasse o cargo. A pedido do ministro, ela foi
contratada por uma agência que presta serviços ao PT. Montou a própria empresa,
a Oli Comunicação, e, recentemente, oficializou a união com o agora governador
Fernando Pimentel. Nesse período, Bené continuou ganhando dinheiro. Foram mais
de 500 milhões de reais em contratos superfaturados com o governo. Tudo estaria
bem para todos se, no ano passado, Bené não tivesse sido apanhado outra vez com
a boca na botija. A polícia apreendeu um avião do empresário com 113 000 reais
em dinheiro e documentos que sugeriam que ele repetia na campanha de 2014 o
mesmo papel que desempenhara em 2010 - o caixa paralelo que financiava o PT.
As investigações indicam que Bené montou uma ampla rede
criminosa envolvendo empresas-fantasma para financiar as campanhas petistas,
incluindo a do governador Pimentel. Basicamente, ele superfaturava contratos
com o governo e repassava parte do que arrecadava aos partidos através de
doações legais, como no petrolão, ou clandestinas, através das
empresas-fantasma. Na operação policial que prendeu o empresário, a polícia
realizou buscas no apartamento onde Carolina Oliveira morava antes de se mudar
para Belo Horizonte. Procurava documentos que mostrassem negócios entre ela e o
empresário. A sede da Oli Comunicação estava registrada no mesmo endereço de
uma empresa-fantasma de Bené.
É nesse ponto que a história de Carolina converge com a
de Helena Ventura. Sindicalista e filiada ao PT, a enfermeira disputou três
eleições. Foi candidata a deputada federal em 2010, a vereadora em 2012 e, no
ano passado, tentou uma vaga na Assembleia Legislativa de Minas. Somando o
resultado das três eleições, ela teve incríveis 29 votos. Mas o que chamou
atenção foi o custo de sua última campanha. Dona de um salário de 2 000 reais,
Helena declarou ter gasto 36 280 000 reais com a candidatura. E o mais
interessante é que praticamente todo o dinheiro, 36 250 000 reais, foi pago a
um único fornecedor - a Gráfica Brasil, cujo proprietário é Benedito de
Oliveira. É evidente que existe algo muito estranho nessa história.
Há um grande segredo envolvendo esses personagens.
Segundo um relatório do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, o dinheiro
a ser repassado para a Gráfica Brasil tinha como origem declarada o fundo
partidário - a verba que os partidos políticos recebem dos cofres públicos. O
PT não quis se pronunciar. A enfermeira disse que desconhece tanto a origem
quanto o destino do dinheiro. "Se eu tivesse esse dinheiro, seria eleita
com certeza", afirmou ela ao jornal Hoje em Dia. Helena também garante que
nunca ouviu falar do empresário. Benedito de Oliveira, já solto, disse, por
meio de seu advogado, Celso Lemos, que nem sabe quem é Helena. Caroline
Oliveira não foi localizada. Seu advogado, Pierpaolo Bottini, informou que a
primeira-dama de Minas Gerais mantém apenas relações de amizade com a família
de Bené. Negócios? Nenhum. A coincidência de endereços teria sido apenas um
grande mal-entendido. O advogado diz que a Oli funcionou num escritório no
centro de Brasília até julho de 2014 e, depois disso, uma das empresas de Bené
se instalou no mesmo endereço. Por equívoco, alguém se esqueceu de formalizar a
mudança. Simples assim. DO POLIBIOBRAGA
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