Maluf,
o Diabo em pessoa para o PT durante a maior parte da existência do
partido, abraça um feliz Alexandre Padilha, o “poste” que Lula quer
eleger governador de São Paulo: mais um pedaço da antiga alma petista
vendida no balcão eleitoral (Foto: Michel Filho/O Globo)
Sim, ele, Paulo Maluf, que no dia 30 de maio passado anunciou que apoiará o lulopetismo na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, a despeito de até então haver mantido apaniguados na administração do governador tucano Geraldo Alckmin, candidato à reeleição.
Maluf continua sendo o mesmo velho Maluf de sempre. Além dos processos a que responde por iniciativa do Ministério Público de São Paulo, o deputado está na lista de procurados pela Interpol, a Polícia Internacional, por iniciativa da promotoria de Nova York, nos Estados Unidos, sob acusação da prática de crimes de furto, fraude e lavagem de dinheiro.
Segundo a promotoria novaiorquina, Maluf desviou 11,7 milhões de dólares de obras públicas quando foi prefeito de São Paulo (1993-1996) e utilizou a sucursal novaiorquinha do Banco Safra, de onde o dinheiro foi remetido para o paraíso fiscal da Ilha de Jersey (território autônomo do Reino Unido), para a Inglaterra e para a Suíça.
A ficha de Maluf na Interpol: se aparecer em qualquer dos 190 países-membros, será preso (Reprodução Interpol)
Agora aliado e amigão do PT e do lulopetismo, Maluf era o Cão, o Maldito, o Inominável.
Desde que surgiu na política, bajulando a ditadura para conseguir ser prefeito biônico de São Paulo, depois, sendo secretário dos Transportes e, posteriormente, utilizando métodos que todo mundo conhece para ganhar a “eleição” indireta para governador biônico (cargo que exerceu entre 1979 e 1982), Paulo Salim Maluf, quase 83 anos de idade, foi combatido ferozmente pelos militantes que, a partir da fundação do partido, em 1980, seriam os quadros do PT.
Seu modo de fazer política, seu modo de governar, suas prioridades como homem público, sua proximidade com a ditadura e sua vassalagem abjeta aos ditadores de plantão, a maneira pela qual conseguiu ser “candidato” a presidente pelo Colégio Eleitoral — tudo o que contribuiu para unir políticos moderados que até então apoiavam o regime militar para unir-se ao candidato da oposição ao Planalto, Tancredo Neves — eram o rigoroso extremo oposto de tudo o que o PT, então “moralizador”, dizia defender.
Dizia — bem entendido! Porque depois que “Lulinha paz e amor” se elegeu presidente, em 2002 (precedido por comportamentos heterodoxos de prefeitos e governadores petistas, alguns alvos de processos criminais na Justiça), as coisas mudaram muito.
REGISTRO
PARA A HISTÓRIA — O aperto de mãos antes inimaginável: Lula, outrora
alegado defensor da decência na política e na vida pública,
derramando-se em sorrisos, com o antigo Diabo em pessoa — e Haddad no
meio (Foto: Folhapress)
Mais tarde, a partir de 2006, quando Collor se tornou senador– o mesmo Collor que havia, entre outras proezas, utilizado de forma sórdida a vida pessoal de Lula na histórica primeira eleição presidencial depois da ditadura, em 1989 –, sem problema e sem pudor algum aceitou a aliança com o homem escorraçado pelo povo e pelo Congresso da Presidência, e por aí vai.
Mas homenagear pessoalmente Maluf, como Lula fez no histórico dia 18 de junho de 2012, uma segunda-feira, foi um passo inédito, espantoso.
Significou um grau mais no constante processo de arremesso ao lixo que o PT pratica com suas antigas alegadas convicções e com sua superadíssima proclamação de rei da ética, que uma sentença condenatória no caso do mensalão terminaria de afundar na lama.
O ex-presidente dirigiu-se à mansão de Maluf na rua Costa Rica, no Jardim América, em São Paulo, levando seu candidato a prefeito da capital, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, acompanhado de todo um séquito petista (leia reportagem do site de VEJA), para agradecer o apoio do ex-Diabo à candidatura que Lula havia tirado do bolso do colete.
A procissão de beija-mão antes impensável do petismo até a casa de Maluf foi o preço que o PT pagou para ter 1 minuto e 43 segundos a mais de tempo no horário eleitoral gratuito.
Foi mais um lote da antiga alma que o PT vendeu.
Um pedacinho mais do que sobrou voltou a ser vendido no dia 30, quando Maluf, sorridente, abraçou um Padilha ainda mais sorridente.
Lula, dessa vez, não esteve presente.
Será por pudor? Difícil responder, e também irrelevante, porque a foto anterior, histórica e despudorada, não mais sairá dos registros públicos.
DO R.SETTI
Nenhum comentário:
Postar um comentário