quarta-feira, 25 de junho de 2014

A MORTE DO PT – Segunda parte. Ou: Para não repetir a agonia da ditadura

Vamos lá. Escrevi aqui no sábado sobre o fim do poder petista — ou a morte do PT como o conhecemos: esse partido capaz de ditar o ritmo dos acontecimentos, que acredita que pode mesmo ser uma força hegemônica na política, mais ou menos como Gramsci imaginou que seria um Partido Comunista operando no melhor da sua potência. E sustentei que há duas hipóteses para a derrocada petista: a otimista: o partido perde as eleições em outubro próximo, o que espero que aconteça. E a pessimista: Dilma vence a reeleição, consegue mais um mandato, e o país caminha para uma crise de proporções razoáveis.
Batia um papo outro dia com o economista José Roberto Mendonça de Barros, que sabe das coisas e dispensa apresentações. Ele fez uma analogia que me pareceu pertinente, e eu lhe avisei que roubaria a sua imagem (rsss). José Roberto afirmou que a eventual vitória de Dilma lembraria o mandato desastrado — no que concerne à desordem econômica — do general Figueiredo, nos estertores da ditadura. Ou por outra: o modelo já tinha feito água por todos os lados; a coalizão política já era frágil; a sociedade queria outra coisa, mas tivemos de aguentar mais seis anos de um governo que já nascia moribundo, que tinha os olhos voltados para a retaguarda, que se dedicava permanentemente ao trabalho de contenção, não de formulação de políticas públicas com vistas ao futuro.
Ditadura moribunda e democracia são realidades muito distintas, sei disso. O que me interessa nessa imagem do economista é destacar a falência de um modelo e o colapso da coalizão política que o sustentava. O ciclo petista, reitero, chegou ao fim— a questão é saber se o país se encontra com a rapidez necessária com o novo ou se escolherá quatro anos de reacionarismo, olhando para trás.
Acabaram-se as circunstâncias que fizeram a glória da gestão do PT e que permitiram ao partido formar a maior base de apoio do Ocidente: crescimento acelerado da China, juros internacionais baixos, demanda interna extremamente aquecida, folga fiscal e criação de “campeões nacionais” à base de incentivos oficiais. Cada uma dessas facilidades engendrou um discurso político e permitiu que o governo se comportasse de forma dadivosa, cevando uma clientela. Nunca foi, que fique claro, uma modelo de crescimento, mas de administração de oportunidades.
À medida que as facilidades deixam de existir, e lá vai algo que parece tautológico, mas que não é, aparecem, então, as dificuldades. O Brasil parou de crescer, e a sociedade se dá conta de que o PT não tem a pedra filosofal da eterna felicidade. Num país ainda com tantas carências, o crescimento pífio, com inflação alta e juros elevados, gera um caldo de descontentamento que cobra, sim, o seu preço político. E ele se traduz hoje na crescente perda de sustentação da candidatura Dilma — o que é um dado auspicioso para um país que precisa mudar.
Há uma conta interessante a ser feita. Dilma concorria em nome de um governo que tinha quase 90% de aprovação em 2010. Mesmo assim, a diferença de votos em seu favor, na disputa com José Serra, foi de apenas 12.041.141 (56.05% contra 43,95%). Prestem atenção a estes dados:
quadro eleitoral
Somadas as diferenças a favor do PT na Bahia, Pernambuco, Ceará, Minas, Rio e Maranhão, temos 12.654.768 votos — superior ao que a petista teve de votos a mais do que Serra no total. São Paulo deu a vitória ao tucano, mas por um placar ainda bastante robusto para o PT. Uma coisa é certa: o partido não conta mais com as facilidades que tinha nesses estados. Em Pernambuco, Eduardo Campos tende a ter uma avalanche de votos; Minas penderá para Aécio; na Bahia, os adversários do PT se juntaram; há um clima anti-Sarney no Maranhão que pode arranhar o petismo; no Rio, o palanque do partido na disputa presidencial está desestruturado por excesso de ambição.
Não estou aqui a dizer que Dilma vai perder a eleição. Não sou Pitonisa. Evidencio que a situação, para ela, é bastante difícil. Restou ao PT, insisto neste ponto, a campanha de cunho terrorista contra os adversários e dobrar a aposta no “promessismo” — promessas que, de resto, não serão cumpridas porque não haverá como. O melhor para o Brasil seria a derrota agora, já em 2014. A eventual reeleição da presidente significará a sobrevivência de um modelo que já morreu e do qual o PT não sabe sair porque não tem uma coalizão política para tanto.
Por Reinaldo Azevedo-Revista Veja

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