Editorial do Estadão sobre o destroçamento da Petrobras pelos gafanhotos petistas:
Os estragos já conhecidos são enormes, mas só com mais contas e mais
informações será possível avaliar com precisão os danos causados à
Petrobrás, maior empresa brasileira, pelo aparelhamento de sua direção,
pelo relaxamento dos controles, pelo populismo e pelos interesses
pessoais e partidários encastelados a partir de 2003 no Palácio do
Planalto. Erros políticos e administrativos levaram a desperdícios
multibilionários, como no projeto da Refinaria Abreu e Lima, à perda de
foco, à redução do fluxo de caixa, à elevação de custos, à insuficiência
de investimentos e à queda de produção.
É preciso levar esses fatores em conta para entender o aumento das
importações de combustíveis, estimadas neste ano em US$ 18,8 bilhões -
4,5% mais que no ano passado -, segundo o Centro Brasileiro de
Infraestrutura (CBIE). Ou para entender os efeitos financeiros dos
subsídios ao consumo interno de derivados de petróleo - no caso do gás
de cozinha, uma perda de R$ 10,5 bilhões entre janeiro de 2011 e o
primeiro trimestre deste ano, também de acordo com os cálculos do CBIE,
dirigido pelo especialista Adriano Pires.
O aumento dos gastos com a importação, 24,5%, será necessário para a
empresa atender a um consumo 4% maior que o do ano passado. A Petrobrás
poderá aumentar seu faturamento e melhorar suas condições financeiras,
em 2014, se produzir 7,5% mais que no ano passado. Mas, se essa meta for
alcançada, a produção apenas voltará ao nível de 2011, de cerca de 2
milhões de barris por dia, segundo comentário de Adriano Pires citado
pelo Globo. Esses números indicam um duplo fracasso.
Em 2006, fantasiado com o uniforme laranja do pessoal da Petrobrás, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou o Brasil autossuficiente
em petróleo e "dono de seu nariz" (este último detalhe evidencia uma
visão primária da economia e do comércio internacional). Oito anos
depois, o País continua dependente de importações. Isso poderia ter
ocorrido simplesmente por incapacidade de acompanhar o aumento do
consumo. Mas a história é mais feia: a produção diminuiu. Este é o
segundo fracasso, explicável pelo investimento insuficiente e mal
planejado.
Enquanto se preparava para a exploração das reservas do pré-sal, a
empresa perdia capacidade produtiva. Preparava-se mal, é preciso
lembrar, porque o modelo irracional concebido pelo governo impõe à
empresa uma participação extremamente custosa nas licitações. Isso tanto
afeta a capacidade financeira da Petrobrás quanto limita a mobilização
de grupos privados para a exploração das novas áreas.
As perdas com o subsídio ao consumo de gás de cozinha também foram
estimadas pelo CBIE. A estimativa é parcial, porque o governo, desde
2003, tem obrigado a empresa a manter os preços defasados.
Só na gestão da presidente Dilma Rousseff o subsídio cortou R$ 10,5
bilhões do faturamento da empresa. O custo desse tipo de política é
muito maior, no entanto, porque também o preço da gasolina é controlado
politicamente. Em vez de combater a inflação, o governo tenta
administrar os índices por meio do controle de preços e tarifas. Essa
política tem afetado também as tarifas de transporte coletivo e de
energia elétrica, provocando distorções na demanda e gerando enormes
custos fiscais.
A controles indevidos, como o de preços, é preciso somar os
descontroles administrativos. Segundo um relatório de 2009 elaborado por
um grupo de auditoria interna da Petrobrás, a área de abastecimento
comprometeu milhões em contratos de fretes sem atender aos padrões
mínimos em vigor na empresa.
De acordo com o relatório, no ano anterior contratos informais
envolveram despesas de US$ 278 milhões, noticiou a Folha de S.Paulo.
Esta é mais uma informação sobre os padrões administrativos do
ex-diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa, preso por envolvimento
em operações do doleiro Alberto Youssef e libertado na semana passada
por ordem do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. É
mais uma informação, também, sobre como um estilo de governo vem
consumindo há anos a saúde da maior empresa brasileira.
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