Vargas anunciou nesta segunda-feira (7) que vai se licenciar do cargo. Mesmo assim, só o Supremo tem poderes para investigá-lo.
No despacho que encaminha parte da investigação ao Supremo, o juiz federal Sérgio Moro diz: "Revendo os autos constato que, entre os diversos fatos investigados, foram colhidos, em verdadeiro encontro fortuito de provas, elementos probatórios que apontam para relação entre Alberto Youssef e André Vargas, deputado federal".
Ainda segundo o despacho, é "prematura a afirmação de que tal relação teria natureza criminosa".
Pedro Ladeira/Sérgio Lima/Folhapress | ||
O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PT), e o doleiro Alberto Youssef |
Mensagens de celular do deputado para o doleiro sugerem que um financiamento de R$ 31 milhões do Ministério da Saúde, para a produção de um medicamento, foi obtido por meio de "contatos políticos". A parceria foi assinada em dezembro do ano passado, quando o ministro era Alexandre Padilha (PT), candidato ao governo de São Paulo.
A informação de que um político teria ajudado o doleiro a conseguir o financiamento foi prestada por um dos sócios da Labogen, Leonardo Meirelles, que decidiu colaborar com a Polícia Federal. A Labogen, que estava quebrada, com dívidas de R$ 54 milhões, tornou-se parceira da EMS, o laboratório com o maior faturamento do país, de R$ 5,2 bilhões em 2012.
Em conversas reveladas pela revista "Veja" no último fim de semana, o deputado sugere que é sócio do doleiro. "Acredite em mim. Você vai ver o quanto isso vai valer. Tua independência financeira e a nossa também, é claro".
O doleiro foi preso no último dia 17 sob acusação de remessa ilegal de dólares para o exterior, lavagem de dinheiro, corrupção de funcionários públicos e financiamento ao tráfico de drogas.
A Folha revelou tanto o caso do jatinho quanto o da suposta influência política para obtenção do financiamento de R$ 31 milhões.
Vargas disse em pronunciamento na semana passada que encaminhou o pedido do doleiro como faz com outras demandas que chegam ao seu gabinete. Ele disse que é amigo de Youssef há 20 anos, mas não teve qualquer interferência nas fases posteriores da parceria com o Ministério da Saúde.
O advogado de Youssef, Antônio Augusto de Oliveira Basto, diz que a eventual influência política no financiamento obtido por Youssef "não é crime". "O lobby político é a coisa mais comum desse país. É usado por empresários, juízes e associação de trabalhadores. Pedir ajuda a político não é crime".
O Ministério da Saúde cancelou a parceria depois de questionamentos da reportagem da Folha e decidiu investigar as condições em que a parceria foi negociada.
Padilha diz apoiar o fim da parceria e a apuração.
DA FOLHA-SP
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