É claro
que listas de “mais influentes” têm o peso que têm. Não mudam nada na
ordem das coisas. Ao contrário: elas é que são o resultado do que se
comenta por aí e indicam a relevância de figuras públicas.
Tudo
depende, também, de quem as elabora. Quando se trata da revista “Time”,
convém prestar alguma atenção. Ela reflete a percepção que tem o mundo
sobre as figuras mais influentes da política, da economia, dos negócios,
do showbiz etc.
Muito bem:
há quatro latino-americanos na lista das cem personalidades mais
influentes da “Time”. O papa Francisco está lá, por razões óbvias.
Goste-se ou não de sua atuação — não está entre os meus papas
prediletos, confesso —, a verdade é que, por natureza, o cargo lhe dá
destaque. De certo modo, não tem de disputar o lugar com ninguém.
Há três
outros nomes do subcontinente: Nicolás Maduro, o ditador da Venezuela;
José Mujica, o esquisito que governa o Uruguai, e Michelle Bachelet,
recém-eleita presidente do Chile, pela segunda vez. Dilma está fora.
Ai, ai…
Tudo
somado, o PIB desses três países, em dólares, não chega a 40% do
brasileiro: US$ 330 bilhões (Chile), US$ 420 bilhões (Venezuela) e US$
55 bilhões (Uruguai). O do Brasil passou dos US$ 2 trilhões em 2013.
Somadas as populações, são pouco mais de 50 milhões de pessoas; no
Brasil, já somos 200 milhões.
No
entanto, segundo a “Time”, José Mujica, o exótico, que governa 3,5
milhões de uruguaios, é mais influente do que a nossa Soberana. Não li o
motivo que justifica a sua inclusão. Muito provavelmente se deve à
legalização e estatização da maconha no país. Vale dizer: um péssimo
motivo.
Maduro
também não deve estar na turma em razão de alguma virtude. O critério da
“Time” não é moral: é de influência e pronto. Hitler e Stálin, a seu
tempo, já tiveram seu lugar. A única que pode ter atraído a atenção por
alguma qualidade é Bachelet.
Assim,
leitores, se Dilma houvesse feito uma grande porcaria, mas reverenciada
em certos círculos — como Maduro e Mujica —, é até possível que
integrasse a lista. Mas nem mesmo uma bobagem de alcance mundial ela
fez. Trata-se apenas de uma figura irrelevante. A presidente de uma das
dez maiores economias do mundo, do mais importante, mais populoso e mais
rico país da América Latina foi simplesmente ignorada. Espero que,
desta feita, o ministro Thomas Traumann se contenha e não decida dar um
pito na revista americana…
Não acho
que, por isso, Dilma deva dormir na pia. Mas o fato reflete um
progressivo desinteresse do mundo pelo Brasil. Acabou o encanto. A
revista inglesa “Economist” já pôs o Cristo Redentor na capa, como um
foguete. Acabou essa onda.
Ainda
assim, Dilma poderia ser uma figura internacionalmente relevante, em
razão, por exemplo, de uma política externa audaciosa, robusta. Mas quê…
Ninguém liga para o que pensa o governo brasileiro. É justo. Vejam o
papel lamentável do Itamaraty na crise venezuelana.
O caso de
Maduro, aliás, é emblemático. A “Time” constatou que há mais gente
interessada em saber o que pensa um ditador asqueroso do que o que pensa
a amiga do ditador asqueroso.
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