A queda
Eike Batista está para a economia como Lula está para a política
O GLOBO
O
“sucesso” de ambos, em suas respectivas áreas, tem a mesma origem.
Trata-se de um fenômeno bem mais abrangente, que permitiu a ascensão
meteórica de ambos como gurus: Eike virou o Midas dos negócios, enquanto
Lula era o gênio da política. Tudo mentira. Esse
fenômeno pode ser resumido, basicamente, ao crescimento chinês somado
ao baixo custo de capital nos países desenvolvidos. As reformas da era
FHC, que criaram os pilares de uma macroeconomia mais sólida, também
ajudaram. Mas o grosso veio de fora. Ventos externos impulsionaram nossa
economia. Fomos uma cigarra que ganhou na loteria.
A demanda
voraz da China por recursos naturais, que por sorte o Brasil tem em
abundância, fez com que o valor de nossas exportações disparasse. Por
outro lado, após a crise de 2008 os principais bancos centrais do mundo
injetaram trilhões de liquidez nos mercados. Isso fez com que o custo do
dinheiro ficasse muito reduzido, até negativo se descontada a inflação.
Desesperados por retorno financeiro, os investidores do mundo
todo começaram a mergulhar em aventuras nos países em desenvolvimento.
Algo análogo a alguém que está recebendo bebida grátis desde cedo na
festa, e começa a relaxar seu critério de julgamento, passando a achar
qualquer feiosa uma legítima “top model”.
Houve uma enxurrada de fluxo de capitais para países como o Brasil. A própria presidente Dilma chegou a reclamar do “tsunami monetário”. Os investidores estavam em lua de mel com o país, eufóricos com o gigante que finalmente havia acordado. Havia mesmo?
O
fato é que essa loteria permitiu o surgimento dos fenômenos Eike
Batista e Lula. Eike, um empresário ousado, convenceu-se de que era
realmente fora de série, que tinha um poder miraculoso de multiplicar
dólares em velocidade espantosa, colocando um X no nome da empresa e
vendendo sonhos.
Lula, por sua vez, encantou-se com a adulação
das massas, compradas pelas esmolas estatais, possíveis justamente
porque jorravam recursos nos cofres públicos. A classe média também
estava em êxtase, pois o câmbio se valorizava e o crédito se expandia.
Imóveis valorizados, carros novos na garagem, e Miami acessível ao
bolso.
O metalúrgico, que perdera três eleições seguidas,
tornava-se, quase da noite para o dia, um “gênio da política”, um líder
carismático espetacular, acima até mesmo do mensalão. Confiante desse
poder, Lula escolheu um “poste” para ocupar seu lugar.
E o “poste” venceu!
Nada iria convencê-lo de que isso tudo era efeito de um fenômeno mais complexo do que ele compreendia.
Dilma
passou por uma remodelagem completa dos marqueteiros, virou uma
eficiente gestora por decreto, uma “faxineira ética”, intolerante com os
“malfeitos”.
Tudo piada de mau gosto, que ainda era engolida
pelo público porque a economia não tinha entrado na fase da ressaca. O
inverno chegou.
O crescimento chinês desacelerou, e há riscos de
um mergulho mais profundo à frente. A economia americana se recuperou
parcialmente, e isso fez com que o custo do capital subisse um pouco. Os
ventos externos pararam de soprar. Os problemas plantados pela enorme
incompetência de um governo intervencionista, arrogante e perdulário
começaram a aparecer.
A maré baixou, e ficou visível que o
Brasil nadava nu. O BNDES emprestou rios de dinheiro a taxas subsidiadas
para os “campeões nacionais”, entre eles o próprio Eike Batista.
O
Banco Central foi negligente com a inflação, que furou o topo da meta e
permaneceu elevada, apesar do fraco crescimento econômico. Os
investidores começaram a temer as intervenções arbitrárias de um governo
prepotente, e adiaram planos de investimento.
A liquidez
começou a secar. O fluxo se inverteu. E o povo começou a ficar muito
impaciente. Eike Batista se viu sem acesso a novos recursos para manter
seu castelo de cartas.
As empresas do grupo X despencaram de
valor, sendo quase dizimadas enquanto as dívidas, estas sim, pareciam se
multiplicar. A palavra calote passou a ser mencionada. O BNDES pode
perder bilhões do nosso dinheiro.
Já a presidente Dilma,
criatura de Lula, mergulhou em seu inferno astral. Sua popularidade
desabou, os investidores travaram diante de tantas incertezas, e todos
parecem cansados de tamanha incompetência.
Eike e Lula deveriam ler Camus: “Brincamos de imortais, mas, ao fim de algumas semanas, já nem sequer sabemos se poderemos nos arrastar até o dia seguinte”.
09/07/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário