Quando
escrevi o post sobre o episódio Tóffoli-Noblat, não sabia que o próprio
Eduardo Pertence, um dos filhos de Sepúlveda Pertence, havia entrado em
contato com o jornalista para desdizer o que dissera em sua primeira
mensagem. Escreveu Noblat no Twitter:
“Eduardo Pertence acaba de me telefonar. Pediu desculpas. Reconheceu q onde estava não dava p/ouvir o que Tóffoli disse ou não.”
É mesmo,
é? Parece que esse rapaz muda de ideia com a ligeireza com que evoca o
nome do pai. Lamentável! Em tempo: quando o ministro Dias Toffoli
disparou a sua metralhadora cheia de mágoas contra o jornalista, estava
em companhia de Kakay, um dos advogados do mensalão.
Algo me
dizia aqui que essas personagens todas já haviam se reunido antes numa
mesma notícia: Eduardo Pertence, Dias Toffoli, Kakay… E era verdade.
Reli um post escrito aqui no dia 24 de setembro do ano passado.
Ele remete a uma reportagem publicada na VEJA, de autoria de Daniel
Pereira e Rodrigo Rangel, que reproduzo na íntegra. Vale a pena ler até o
fim. É tudo espantoso!
*
Dá-se como regra que em Brasília os assuntos mais candentes não são resolvidos nos gabinetes e nos plenários, mas em restaurantes, quartos de hotel e festas particulares. Na semana passada, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), a segunda mais alta corte do país, transformou em pó a mais extensa investigação já feita sobre a familia do presidente do Senado, José Sarney. Realizada entre 2007 e 2010, a operação mapeou os negócios do clã maranhense nas abas do poder público, f1agrou remessas milionárias para o exterior, além de dinheiro do contribuinte indo parar em contas de empresas controladas, segundo a polícia, por “laranjas” do primogênito do senador, o empresário Fernando Sarney. Transações quase sempre sustentadas por verbas de órgãos historicamente comandados por apadrinhados do superpoderoso parlamentar, como as estatais do setor elétrico. De tão complexo, o caso se desdobrou em cinco inquéritos. Três deles estavam prestes a se transformar em processos judiciais. Antes que isso acontecesse, porém, veio a decisão do STJ.
*
Dá-se como regra que em Brasília os assuntos mais candentes não são resolvidos nos gabinetes e nos plenários, mas em restaurantes, quartos de hotel e festas particulares. Na semana passada, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), a segunda mais alta corte do país, transformou em pó a mais extensa investigação já feita sobre a familia do presidente do Senado, José Sarney. Realizada entre 2007 e 2010, a operação mapeou os negócios do clã maranhense nas abas do poder público, f1agrou remessas milionárias para o exterior, além de dinheiro do contribuinte indo parar em contas de empresas controladas, segundo a polícia, por “laranjas” do primogênito do senador, o empresário Fernando Sarney. Transações quase sempre sustentadas por verbas de órgãos historicamente comandados por apadrinhados do superpoderoso parlamentar, como as estatais do setor elétrico. De tão complexo, o caso se desdobrou em cinco inquéritos. Três deles estavam prestes a se transformar em processos judiciais. Antes que isso acontecesse, porém, veio a decisão do STJ.
Uma das
turmas do tribunal considerou que juízes de primeira instância não
poderiam ter autorizado a quebra dos sigilos fiscal, bancário e
telefônico de Fernando Sarney e de outros investigados apenas com base
em informações do Coaf, o órgão governamental encarregado de monitorar
operações financeiras suspeitas. Foi uma transação de 2 milhões de
reais, realizada no fim do ano eleitoral de 2006 e mapeada pelo Coaf,
que serviu como ponto de partida para a investigação. Incumbidos da
operação, Polícia Federal e Ministério Público discordam, obviamente, da
decisão. Advogados criminalistas, claro, festejam. Independentememe de
qual lado está com a razão, o fato é que o veredicto do STJ dá força à
sensação de que os poderosos e aqueles que orbitam em seu redor nunca
experimentam a força da lei no Brasil. É mais um elemento a confirmar a
fama de paraíso da impunidade. Fama danosa ao país, mas que garante uma
vida tranquila a figuras de proa da República às voltas com denúncias
graves. Gente como os notórios Paulo Maluf, Luiz Estevão, Jader Barbalho
e Renan Calheiros, beneficiados por um caldo cultural que tem como
ingredientes a promiscuidade entre agentes públicos e empresários, a
falta de apetite das instituições para punir certas castas e a letargia
da população diante de malfeitos.
Para
entender as razões que protegem políticos e corruptores do acerto de
contas com a Justiça, é preciso retroceder ao descobrimento. Diz o
professor e doutor em história Ronald Raminelli, da Universidade Federal
Fluminense: “A impunidade é uma prática que veio para cá com os
portugueses. Na Europa daquele período, os nobres e poderosos tinham
privilégios e não eram submetidos às mesmas leis dos homens comuns. A
diferença é que os europeus foram se livrando dessa tradição ao longo do
tempo, mas aqui ela perdura até hoje”. Na gênese dessa prática está a
necessidade de autopreservação da elite política – comportamento que se
cristaliza, por exemplo, nas absolvições de parlamentares criminosos e
na dificuldade do Congresso em aprovar leis saneadoras na seara ética.
“Para os poderosos, até hoje fica a interpretação da lei da melhor
maneira possível. Há uma rede de proteção em que as leis são sempre
interpretadas de acordo com os interesses dos grupos dominantes”.
prossegue Raminelli.
A Justiça
é uma engrenagem indissociável desse processo. O problema começa na
forma como são preenchidas as vagas nos tribunais superiores. Os
ministros são escolhidos pelo presidente da República. Antes de
assumirem, têm de ser sabatinados e aprovados pelo Senado. “O processo
de escolha é uma verdadeira simbiose entre Legislativo. Executivo e
Judiciário e foi levado a um ponto intragável, em que há sempre a
perspectiva, por parte dos magistrados. de agradar aos políticos de
plantão, que podem ajudá-los a galgar postos mais altos na Justiça”,
afirma o procurador Alexandre Camanho, presidente da Associação Nacional
dos Procuradores da República. “Virou uma grande bancada de compadres,
onde todos se protegem, se frequentam, e quem quiser ter vaga no STJ ou
no STF tem de usufruir de proximidade e prestígio com os políticos.” Com
mais de cinquenta anos de vida pública, ex-presidente da República e
pela quarta vez no comando do Senado, ao qual cabe realizar as
sabatinas, Sarney construiu uma rede de relações e de influência sem
precedentes – com ramificações em todos os poderes, principalmente no
Judiciário.
Relator
do caso que resultou no arquivamento do processo que investigou a
família Samey, o ministro Sebastião Reis Júnior foi empossado em junho
passado no STJ. Um de seus amigos diletos é o advogado Antonio Carlos
de Almeida Castro. Kakay, como o advogado é conhecido em Brasília,
também é amigo de Sarney e defensor do clã maranhense há tempos. Essa
relação de proximidade entre os três teve alguma coisa a ver com a
decisão da semana passada? Certamente não. Mas relações assim fomentam
determinadas lendas. “O Sebastião é meu amigo há muito tempo, mas não
atuei nesse caso, não conheço os detalhes do processo nem sabia que ele
era o relator”. diz Kakay. Em fevereiro, o advogado organizou uma
feijoada na mansão em que mora, em Brasília, que reuniu ministros.
senadores e advogados famosos. Sebastião Reis era um dos convidados. Na
ocasião, apesar de ainda ser aspirante à vaga no STJ. já. era paparicado
como “ministro” por alguns convivas. O ministro do Supremo Tribunal
Federal José Dias Toffoli também participou da feijoada. que varou a
madrugada. Ah. as festas e os quartos de hotel em Brasflia.
Festança
No dia 17 passado, um sábado, Toffoli, Kakay e representantes de famosas bancas de advogados de Brasília voltaram a se encontrar em uma festa, em Araxá, Minas Gerais, no casamento de um dos filhos do ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence. O aeroporto da cidade não via um movimento assim tão imenso fazia muito tempo. Os convidados mais famosos chegaram a bordo de aviões particulares, inclusive o ministro Dias Toffoli. Em nota, ele explicou que o avião lhe fora cedido pela Universidade Gama Filho, do Rio de Janéiro, onde dá aulas. Naquele dia, por coincidência, o ministro, que estava junto de sua companheira, informou que tinha um compromisso de trabalho no campus que a instituição mantém em Araxá.
No dia 17 passado, um sábado, Toffoli, Kakay e representantes de famosas bancas de advogados de Brasília voltaram a se encontrar em uma festa, em Araxá, Minas Gerais, no casamento de um dos filhos do ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence. O aeroporto da cidade não via um movimento assim tão imenso fazia muito tempo. Os convidados mais famosos chegaram a bordo de aviões particulares, inclusive o ministro Dias Toffoli. Em nota, ele explicou que o avião lhe fora cedido pela Universidade Gama Filho, do Rio de Janéiro, onde dá aulas. Naquele dia, por coincidência, o ministro, que estava junto de sua companheira, informou que tinha um compromisso de trabalho no campus que a instituição mantém em Araxá.
Sepúlveda
Pertence é o presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência –
uma espécie de vigilante e fiscal do comportamento das autoridades do
Executivo. Além de Kakay e Toffoli, ele recebeu como convidados o
ex-senador Luiz Estevão (condenado a 31 anos de prisão e que deposita
suas últimas esperanças em se safar da cadeia nos recursos que serão
julgados no STJ e no Supremo) e o empresário Mauro Dutra (processado por
desvio de dinheiro público) – e advogados que defendem ou já defenderam
ambos. Toffoli é relator de um dos processos de Luiz Estevão no
Supremo. Os quartos do hotel mais luxuoso da cidade foram ocupados,
portanto, por juízes, réus e advogados que atuam em processos comuns. A
feijoada de Brasília terminou na madrugada do dia seguinte, com um
inofensivo karaokê. A festa de Araxá também avançou a madrugada,
embalada por música eletrônica. Havia, porém, uma surpresa guardada para
o final.
Lança-perfume
Depois das 3 da manhã, as bandejas dos garçons passaram a circular com frascos de lança-perfume, uma droga ilegal, que pode levar à prisão de quem a distribui. Quem a consome, se flagrado, também tem de se explicar à Justiça. “Teve gente que passou mal no banheiro, mas foi tudo de boa”, conta um dos convidados. Àquela hora, rezemos, os guardiães das leis, incluindo os anfitriões, já haviam se recolhido aos seus aposentos. Não teriam testemunhado, assim, o que, pelas leis vigentes no país, ainda é considerado crime. No dia seguinte, os jatinhos estacionados no aeroporto decolaram em direção a Brasília. Na segunda-feira, quando começa a semana de trabalho, os convivas passam a chamar-se de excelências. Voltam a ser juízes, advogados e réus. Só na aparência. infelizmente.
Depois das 3 da manhã, as bandejas dos garçons passaram a circular com frascos de lança-perfume, uma droga ilegal, que pode levar à prisão de quem a distribui. Quem a consome, se flagrado, também tem de se explicar à Justiça. “Teve gente que passou mal no banheiro, mas foi tudo de boa”, conta um dos convidados. Àquela hora, rezemos, os guardiães das leis, incluindo os anfitriões, já haviam se recolhido aos seus aposentos. Não teriam testemunhado, assim, o que, pelas leis vigentes no país, ainda é considerado crime. No dia seguinte, os jatinhos estacionados no aeroporto decolaram em direção a Brasília. Na segunda-feira, quando começa a semana de trabalho, os convivas passam a chamar-se de excelências. Voltam a ser juízes, advogados e réus. Só na aparência. infelizmente.
Volto a agosto de 2012
O noivo era justamente Eduardo Pertence, que está lá no primeiro parágrafo deste post. Era isso o que eu queria dizer quando falei em promiscuidade. Ainda voltarei a esse tema para indagar e responder: “Quando um homem público ou uma autoridade deixa de ser homem público e autoridade?”
O noivo era justamente Eduardo Pertence, que está lá no primeiro parágrafo deste post. Era isso o que eu queria dizer quando falei em promiscuidade. Ainda voltarei a esse tema para indagar e responder: “Quando um homem público ou uma autoridade deixa de ser homem público e autoridade?”
O caso Noblat-Toffoli e a promiscuidade de Brasília. Ou: A República dos Fidalgos cercada pela ralé — nós todos!
Recebi
muitos pedidos para que escreva algo sobre o post publicado na madrugada
de sábado pelo jornalista Ricardo Noblat em seu blog, relatando um
episódio estupefaciente. Saía ele de uma festa, em Brasília, quando,
disse, foi colhido por uma metralhadora de impropérios disparados por
ninguém menos do que José Antonio Dias Toffoli, ministro do Supremo
Tribunal Federal, membro de um colegiado que distingue apenas 11 pessoas
na República.
O ministro
estaria descontente com uma opinião expressa por Noblat, que também
havia defendido que ele se declarasse impedido de participar do
julgamento. Reproduz o jornalista as palavras que teriam sido ditas pelo
ministro (em vermelho):
— Esse rapaz é um canalha, um filho da puta.
Repetiu “filho da puta” pelo menos cinco vezes. E foi adiante:
— Ele só fala mal de mim. Quero que ele se foda. Eu me preparei muito mais do que ele para chegar a ministro do Supremo.
— Esse rapaz é um canalha, um filho da puta.
Repetiu “filho da puta” pelo menos cinco vezes. E foi adiante:
— Ele só fala mal de mim. Quero que ele se foda. Eu me preparei muito mais do que ele para chegar a ministro do Supremo.
Comentar o quê?
Divirjo de
Noblat em muitas escolhas. Quando se trata de coisa relevante, digo
aqui a razão. Mas pergunto: por que motivo inventaria uma história
cabeluda como essa? O jornalismo petralha definiu os seus inimigos de
estimação, não é? Aqueles que estariam sempre, segundo seus delírios,
perseguindo os heróis petistas. Noblat não está entre os alvos fixos da
turma. José Dirceu, se não me engano, é colunista do seu blog — Toffoli
também teria se referido a esse fato com esta fala:
— O Zé Dirceu escreve no blog dele. Pois outro dia, esse canalha o criticou. Não gostei de tê-lo encontrado aqui. Não gostei.
— O Zé Dirceu escreve no blog dele. Pois outro dia, esse canalha o criticou. Não gostei de tê-lo encontrado aqui. Não gostei.
Tendo acontecido assim, vê-se um Toffoli tomando, de público, as dores de Zé Dirceu.
Brasília promíscua
Trabalhei em Brasília em 1996. Detesto sair de casa, mas fui a algumas poucas festas — poucas: minha filha mais velha tinha acabado de completar um ano, e minha mulher estava grávida da segunda; preferia ficar com elas. Já então estranhava o que chamei de “promiscuidade brasiliense”.
Trabalhei em Brasília em 1996. Detesto sair de casa, mas fui a algumas poucas festas — poucas: minha filha mais velha tinha acabado de completar um ano, e minha mulher estava grávida da segunda; preferia ficar com elas. Já então estranhava o que chamei de “promiscuidade brasiliense”.
Não havia
beberagem no Planalto Central que não juntasse jornalistas, deputados,
senadores, ministros, quadros da burocracia… Desenvolvi, desde aquela
época, tese que tenho até hoje: houvesse no Brasil tabloides de modelo
inglês, a República cairia. E não seria necessário praticar nenhuma das
delinquências do “News of the World”. Se querem saber, o Brasil seria
muito mais saudável. Quantas vezes se viram e se veem respeitáveis
autoridades a sair carregadas de restaurantes da moda, entupidas de
álcool, sem que se tenha publicado uma miserável nota nos jornais? Por
que não? Ah, isso tudo é vida privada!
Uma ova!!!
O jornalismo brasiliense desenvolveu uma gigantesca tolerância para
desvios de conduta de homens públicos. O pior é que isso está ligado, lá
vou eu, ao “fontismo”. Faz parte da camaradagem. Jornalista que decidir
contar o que viu nessas festas ou nesses convescotes sabe que está
marcado. Ninguém mais vai querer falar com ele — e pode ser alvo de
críticas dos próprios colegas.
Noblat não
teria escrito nada sobre a festa não fossem as ofensas de que foi alvo.
Tratava-se, segundo fiquei sabendo, de um encontro na casa de Fernando
Neves, ex-ministro do TSE. O blogueiro do Globo não era o único
jornalista. Havia outros. Toffoli não era a única autoridade. Havia
outras. Lá estava Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, um dos
advogados de defesa do mensalão — dos mais estrelados —, em processo no
qual Toffoli é… juiz!
“É assim
no mundo inteiro, Reinaldo!” Não! Errado! NÃO É ASSIM NO MUNDO INTEIRO!
Não no mundo democrático. Lamento! Esses eventos reúnem todas as
características da antiga corte, que separava os fidalgos — ainda que
pudesse ter suas divergências — da ralé.
Testemunho
Enviaram-me há pouco uma mensagem — não sei se é comentário publicado no blog de Noblat ou carta aberta; pouco importa — em que um rapaz chamado Eduardo Pertence contesta as informações publicadas pelo jornalista. Vale a pena ler. É um mimo e um emblema do que estou dizendo aqui.
Enviaram-me há pouco uma mensagem — não sei se é comentário publicado no blog de Noblat ou carta aberta; pouco importa — em que um rapaz chamado Eduardo Pertence contesta as informações publicadas pelo jornalista. Vale a pena ler. É um mimo e um emblema do que estou dizendo aqui.
“Caro Noblat,
Aprendi a lhe respeitar e admirar desde criança, por consequência do meu pai, Sepúlveda Pertence, seu amigo e admirador.
Contudo, não posso deixar de demonstrar meu espanto com essa leviana notícia. Estava eu, junto ao meu pai, nessa mesma festa. Você foi recebido na mesa dela, com todas as loas e elogios.
Fiquei na festa até o final, chegando a acompanhar o Min. Toffoli até o seu carro, quando ele foi embora. Afirmo não ter presenciado nada parecido com o que você noticiou aqui.
Não vi, nem ouvi dele, nada assemelhado as loucuras aqui publicadas. De minha parte, testemunho que isso não houve. De sua parte, espero que o Mensalão não esteja alterando sua noção de realidade.
Continue, fora isso, sendo o grande e admirável jornalista que sempre foi. Com respeito, mas espanto.
Eduardo Pertence.”
Aprendi a lhe respeitar e admirar desde criança, por consequência do meu pai, Sepúlveda Pertence, seu amigo e admirador.
Contudo, não posso deixar de demonstrar meu espanto com essa leviana notícia. Estava eu, junto ao meu pai, nessa mesma festa. Você foi recebido na mesa dela, com todas as loas e elogios.
Fiquei na festa até o final, chegando a acompanhar o Min. Toffoli até o seu carro, quando ele foi embora. Afirmo não ter presenciado nada parecido com o que você noticiou aqui.
Não vi, nem ouvi dele, nada assemelhado as loucuras aqui publicadas. De minha parte, testemunho que isso não houve. De sua parte, espero que o Mensalão não esteja alterando sua noção de realidade.
Continue, fora isso, sendo o grande e admirável jornalista que sempre foi. Com respeito, mas espanto.
Eduardo Pertence.”
Comento
Sendo verdadeira essa mensagem (refiro-me à origem do texto, não ao seu conteúdo), noto a ligeireza com que o filho evoca o nome do pai para demonstrar que, no fim das contas, todos pertencem à mesma grei: à dos homens incomuns. Noblat é tratado como aquele que é recebido à mesa — afinal, jornalistas gozam da fidalguia por uma espécie de tolerância, não de mérito de berço, né? — e que acabou traindo a confiança da turma. Eduardo Pertence assegura que o fato não se deu (se ele fala a verdade, Noblat seria o quê?), mas expressa seu respeito ao outro, que segue sendo uma pessoa admirável, embora, segundo ele, minta um pouquinho… O que Eduardo tem de seu para asseverar que o outro falta com a verdade? O nome “Pertence” e o fato de conhecer o blogueiro desde criança…
Sendo verdadeira essa mensagem (refiro-me à origem do texto, não ao seu conteúdo), noto a ligeireza com que o filho evoca o nome do pai para demonstrar que, no fim das contas, todos pertencem à mesma grei: à dos homens incomuns. Noblat é tratado como aquele que é recebido à mesa — afinal, jornalistas gozam da fidalguia por uma espécie de tolerância, não de mérito de berço, né? — e que acabou traindo a confiança da turma. Eduardo Pertence assegura que o fato não se deu (se ele fala a verdade, Noblat seria o quê?), mas expressa seu respeito ao outro, que segue sendo uma pessoa admirável, embora, segundo ele, minta um pouquinho… O que Eduardo tem de seu para asseverar que o outro falta com a verdade? O nome “Pertence” e o fato de conhecer o blogueiro desde criança…
Ah, sim,
para quem não lembra: Sepúlveda Pertence é ex-ministro do Supremo
Tribunal Federal e é o atual presidente da Comissão de Ética Pública da
Presidência da República.
Fidalgo
quer dizer “filho de algo”. Se estudarem a origem espanhola da
expressão, chegarão a “hi d’algo”, que designava “home de dinheiro”, por
oposição ao Zé Ninguém, ao despossuído.
Eu estou
entre aqueles que consideram que um dos males de Brasília — apenas um
deles — é ter criado uma ilha da fantasia que protege do povo os
fidalgos. O poder público se tornou algo a ser compartilhado entre “os
iguais” na fidalguia. Os “diferentes” ficam na periferia: literalmente, o
resto do Brasil.
Estou
entre aqueles que acham que deputados, senadores, ministros de estado,
ministros do Supremo, autores em geral perdem boa parte do direito que
os homens comuns têm à chamada “vida privada”. Eu até poderia encher a
cara e dar vexame na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé —
embora nunca o tenha feito, que me lembre ao menos… Isso não é nem deve
ser notícia. Não carrego a força de uma representação. Não recebo
dinheiro público para ser um homem exemplar. Não disponho dos
instrumentos de qualquer dos Três Poderes da República.
Autoridades
da República têm de saber se portar — e, por óbvio, saber beber. Aliás,
como regra geral, todos deveriam ter um norte ético: “Se beber, não
xingue ninguém”.
E fica
aqui um convite aos coleguinhas de Brasília: comecem a contar tudo o que
vocês veem em festas e restaurantes. Terá um poder saneador da
República maior do que CPIs e julgamentos do Supremo.
PS – Ah, sim: Nelson Jobim também estava lá. Mas é inútil perguntar se ele viu alguma coisa.
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA
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