Os trapalhões
Quem pariu Mateus que o embale.
Na quinta-feira, o Senado do Paraguai rejeitou formalmente, por ampla maioria, a entrada da Venezuela no Mercosul.
Puxando pelos fatos: o Paraguai
vinha fazendo corpo mole no processo de aprovação da admissão da
Venezuela no Mercosul. No entanto, no dia 29 de junho, na reunião de
cúpula realizada em Mendoza, na Argentina, três dos quatro chefes de
Estado do bloco (Dilma Rousseff, Cristina Kirchner e José Mujica)
suspenderam unilateralmente o Paraguai das decisões do Mercosul, sob a
alegação de que a destituição de seu então presidente, Fernando Lugo, e a
posse do novo (antigo vice), Federico Franco, não haviam seguido todos
os procedimentos democráticos, na medida em que não deram completa
oportunidade de defesa. Em seguida, sem o voto do Paraguai, trataram de
aceitar a entrada da Venezuela, cujo presidente, Hugo Chávez, assumiu
sua cadeira na condução do grupo em cerimônia de posse realizada dia 30
de junho, no Palácio do Planalto, em Brasília.
A decisão do Mercosul foi
desautorizada ontem pela assembleia da Organização dos Estados
Americanos (OEA), que não viu nenhuma irregularidade no afastamento do
presidente Lugo.
Ao fato consumado pela cúpula do
Mercosul, o Paraguai respondeu agora com outro fato consumado. Na
condição de sócio e fundador do Mercosul, impôs seu direito assegurado
pelo Tratado de Assunção de rejeitar a entrada da Venezuela.
O que antes havia sido uma dupla
farsa (a de suspender o Paraguai e a de admitir a Venezuela), porque
feita ao arrepio das disposições dos tratados, tornou-se agora impasse
diplomático e comercial de proporções e consequências ainda
desconhecidas.
A decisão de Estado do Paraguai
terá de ser reconhecida. Levada às suas últimas consequências, os
membros do bloco ou terão de corrigir o mal feito, pela ausência de
depósito prévio dos instrumentos de ratificação assinado por todos os
sócios, ou terão de manter o Paraguai definitivamente fora do Mercosul,
sabe-se lá com que argumentos.
Em abril, haverá eleições para a
presidência do Paraguai e, nessas condições, até mesmo falsos pretextos
não poderão ser mais usados para manter a suspensão, especialmente
depois da decisão tomada pela OEA.
Enquanto não for contornado por
nova negociação entre as partes, o impasse não será somente diplomático.
Será também comercial. Que país ou que bloco econômico se disporá a
encaminhar negociações, sejam de que tipo forem, com o Mercosul, caso
não haja clareza a respeito de quem são os legítimos signatários dos
documentos?
O Itamaraty e o chanceler Antonio
Patriota bem que avisaram a presidente Dilma de que as decisões
anteriormente tomadas são ilegais. O presidente do Uruguai, José Mujica,
reconheceu tratar-se de medida política que, no entanto, atropelava
disposições jurídicas.
Essa trapalhada expõe a pressa e o
grau de leviandade com que estão sendo tomadas decisões no Mercosul.
Isso nada tem a ver com a importância estratégica da Venezuela e do seu
povo na comunidade sul-americana e na economia do Continente. Tem a ver
com desrespeito a regras do jogo previa e solenemente pactuadas. Se o
Estado de Direito não tem importância para o Mercosul e para o governo
brasileiro, então o que terá? É esse Mateus que nasce torto.
DO GENTE DECENTE
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