quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

RESPOSTA A UM HOMEM PODEROSO, CASADO COM UMA MULHER PODEROSA

Um dos mecanismos mais desonestos, no que concerne ao debate intelectual, é ignorar o objeto que distingue as opiniões e os valores dos debatedores, partindo para o puro e simples apelo à torcida e ao xingamento. Enviam-me um violento ataque desferido contra mim — grande novidade! —  pelo ex-procurador-geral do Estado Marcio Sotelo Felippe. Ele não gostou de uma crítica que fiz à Associação Juízes Pela Democracia, aquela que sustenta, LITERALMENTE, haver homens que estão acima da lei. Compreendo as motivações pessoais de Sotelo, embora ele devesse ser mais comedido. Ele é marido de uma das principais militantes da associação, a juíza Kenarik Boujikian Felippe, que posou, como publiquei, ao lado de João Pedro Stedile. A tal associação tinha acabado de premiar o chefão do MST. Segundo entendi, ele representaria uma espécie de ideal de democracia e justiça. Não, não vou, por isonomia, chamar a minha mulher para me defender. E sugiro a Sotelo deixar o machismo de lado. Uma juíza, que lida com o destino de tantas vidas, é certamente capaz de falar por si mesma. Está na hora de criar a Associação Juízes pela Igualdade de Gênero.
Sotelo deixou de lado os fatos e preferiu partir para a simples adjetivação, associando-me ao nazismo. Pois é, meu senhor… As pessoas descontentes costumam atacar aqueles de que dissentem das mais variadas maneiras. Também já fui chamado de agente da CIA por um desses subintelectuais de esquerda — que ainda teve o desplante de me processar por me ofender; perdeu! — e até do Mossad!!! Uau! Por que este senhor não pergunta aos representantes da comunidade judaica no Brasil quem é Reinaldo Azevedo, o que pensa e com quem dialoga. Um conselho, senhor Felippe: tenha a decência de debater o que está escrito em vez de fugir da contenda pela porta dos fundos da desqualificação. Essa é uma tática covarde.
A crítica que fiz à Associação está aqui. Escreve Sotelo:
“Reinaldo Azevedo vem numa escalada de violência verbal.  Perdeu a noção de limites. Embriagado pelo sucesso de sua retórica ultradireitista em certo segmento social, criou um círculo vicioso em que ele e seus leitores alimentam-se reciprocamente de ódio. Sua linguagem incita o ódio dos leitores, e o ódio dos leitores  o incita a tornar-se mais violento e permissivo.”
Por que ele não cita uma passagem do meu texto que prove a sua afirmação? Por que ele não diz onde está a violência? Por que ele não prova onde está o meu erro? Por que, em vez de atacar a mim e aos meus leitores, não evidencia em que trecho recorri à “retórica ultradireitista”? Se estou “incitando o ódio”, por que ele não me processa? A resposta é simples: porque nada disso aconteceu! É uma invencionice. Se ele encontrar no meu texto uma só crítica que não seja de natureza intelectual e técnica, paro de escrever. Mas eu posso, sim, encontrar na nota da Associação Juízes pela Democracia a afirmação clara, insofismável, indiscutível, inegável, de que existem homens acima da lei. Está aqui:
Não é verdade que ninguém está acima da lei, como afirmam os legalistas e pseudodemocratas: estão, sim, acima da lei, todas as pessoas que vivem no cimo preponderante das normas e princípios constitucionais e que, por isso, rompendo com o estereótipo da alienação, e alimentados de esperança, insistem em colocar o seu ousio e a sua juventude a serviço da alteridade, da democracia e do império dos direitos fundamentais.”
Sotelo diz que “pincei” uma frase do texto. A afirmação é falsa. O meu texto contestando a associação é longuíssimo; eu a analisei trecho a trecho, fazendo o que ele não faz: cuidando de cada palavra. Sotelo deixa de lado o que escrevi e prefere me atacar, acusando jogo bruto. Naquele trecho em que ataca até os meus leitores, se notarem bem, há a indisfarçada sugestão de que devo ser censurado. Por quê? Ora, porque discordo dele. Vão dizer que não é motivo o suficiente…
É impressionante! Sotelo tem de negar o conteúdo da nota que a associação emitiu para poder me atacar. Diz ele:
“A nota da AJD diz, em certa passagem, que a lei, seja em si mesma, seja na sua aplicação, deve ser recusada se contrariar princípios constitucionais. Acontece todos os dias nas sociedades democráticas.   Nas decisões dos tribunais, juízes ou administradores públicos.  Do ponto de vista dos cidadãos, relaciona-se com o conceito de desobediência civil, tal como praticado por Gandhi e Martin Luther King, filosoficamente consolidado, ainda que de escassa repercussão prática. No conflito entre uma regra positiva  e a moralidade, prevalecem a moralidade e os princípios constitucionais.”
Epa!!! Eu contestei aquilo que vai em vermelho, meu senhor! Honestidade intelectual há de ser o princípio número um do polemista. Ora, é claro que a lei deve ser recusada se contrariar princípios constitucionais. Existe, para tanto, até um tribunal constitucional no país, não é mesmo? O que eu quero saber, senhor ex-procurador-geral do estado, é se o senhor acredita que “estão, sim, acima da lei, todas as pessoas que vivem no cimo preponderante das normas e princípios constitucionais”. Acredita nisso ou não? Quando o senhor era procurador-geral do estado, aplicou esse princípio? De que modo?
TENHA A CORAGEM DE DEBATER O TEXTO DA ASSOCIAÇÃO, MEU SENHOR! TENHA A CORAGEM DE DEBATER O QUE EU ESCREVI, NÃO O QUE O SENHOR ACHA QUE EU ESCREVI! Isso é feio! Num moleque, é passável. Num homem de barba e cabelos brancos, em que a aparência respeitável faz supor compromisso com a seriedade, não fica bem.
Nazista é afirmar que existem homens acima da lei!
Nazista é transformar um tribunal numa corte de exceção em nome da ideologia!
Nazista é considerar que o respeito à lei é coisa de “legalista e pseudodemocratas”!
Nazista é dar apoio objetivo a indivíduos encapuzados, que invadem o espaço público e se impõem pela força.
Nazista é constranger professores e alunos, impedindo, pela violência, que uma universidade exerça as suas atividades de ensino e pesquisa!
Sotelo não é o único a se manifestar. Há outras pessoas ligadas à tal associação que decidiram me atacar. TRATA-SE DE UM PROCESSO DE INTIMIDAÇÃO. Afinal, são juízes e indivíduos ligados a juízes, e isso significa que são pessoas poderosas, que, reitero, podem decidir o destino de muita gente.
A verdade é a seguinte: de tudo o que escrevi no meu texto original, o que verdadeiramente incomodou estas senhoras e estes senhores foi este trecho:
“Se vocês tiverem alguma demanda na Justiça, verifiquem se o juiz que vai cuidar do caso pertence à “Associação Juízes para a Democracia”. Se pertencer, verifiquem, em seguida, se a ‘outra parte’ integra um desses grupos que são considerados, sobretudo por si mesmos e pelas esquerdas de modo geral, os donos da democracia. Se isso acontecer, só lhes resta pedir que seja declarada a suspeição do magistrado.”
Isso doeu. E o motivo é escandalosamente óbvio. Se um juiz da tal associação considera que “estão, sim, acima da lei, todas as pessoas que vivem no cimo preponderante das normas e princípios constitucionais” e se um dos eventuais contendores de uma causa se encaixar nesse perfil, é evidente que a outra parte já perdeu, certo? Se essa parte está acima da lei, está até mesmo acima do juiz. Por que Sortelo não demonstra onde está o erro lógico do meu raciocínio?
Tenha a coragem, senhor Sotelo, de apontar que passagem do meu texto apela à violência. O seu, sim, incita o ódio contra mim. Uma das práticas corriqueiras do nazismo, diga-se, era acusar as vítimas de responsáveis pelo mal que as atingia. Hitler tinha a lista de todos os “males” que os judeus haviam feito à Europa, assim como o senhor tem a lista de todos os males que eu faço ao debate democrático.
O meu texto é público, meu senhor! O da associação também! Louvo o seu zelo sentimental, mas eu não critiquei a “sua mulher”. Eu nem sabia que os senhores eram casados. Parabéns pela união feliz! Eu critiquei uma associação de juízes que sustenta haver homens acima da lei.
Sou só um jornalista. O sr. é um ex-procurador-geral de estado, marido de juíza, com uma poderosa rede de amigos e de influência. Pois é, doutor, fazer o quê?
O estado de direito me obriga a lembrar que ainda existem juízes em Berlim!
Abandone a retórica da pura violência, dispa-se da arrogância do “sabe com que está falando?” e venha debater na planície. Mas tenha a coragem de contestar o que eu de fato escrevi.
PS - Como de hábito, sejam comedidos nos comentários. Vamos colaborar para que doutor Sotelo concorde conosco: NÃO EXISTEM HOMENS ACIMA DA LEI NUMA DEMOCRACIA!!! ISSO É COISA DE FASCISMO E COMUNISMO, REGIMES TOTALITÁRIOS.
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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