domingo, 6 de novembro de 2011

A IMPROBIDADE PROTEGIDA

A improbidade protegida
Agnelo Queiroz deixou o DF desprovido de sistema de segurança; não é pouco para justificar até impeachment
DENUNCIADOR FREQUENTE e respeitável, no passado, de irregularidades governamentais, o hoje governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, é um exemplo tanto de improbidade quanto da insuficiência da legislação para interromper a permanência no governo, ao menos durante as investigações, de um governante em tal situação.
Assim como reduz as manobras administrativas e políticas contrárias às investigações, a sempre difícil abreviação da permanência evita muitos efeitos nocivos das crises que se espicham à toa no tempo.
No caso do governo de Brasília e seu entorno, a crise já vem de longe, trazida pelas imagens do então governador José Roberto Arruda e vários de seus aliados políticos recebendo, todos, maços e massas de dinheiro ilegal.

O afastamento de Agnelo Queiroz não precisaria de mais do que o já divulgado sobre seu comprometimento com o desvio de verbas públicas, por intermédio de ONGs podres ligadas ao ou próximas do PC do B. O próprio Agnelo, no entanto, acrescentou uma comprovação direta da sua falta de condições, antes morais e agora também emocionais, para governar a capital do país.
A exoneração simultânea de seis dezenas de delegados da polícia do DF não é apenas ato de descontrole. Sua única explicação plausível é a de que Agnelo identificou a origem, em determinado setor da polícia, da gravação que atesta seu negado elo com um praticante (e agora denunciador) dos desvios.
Quis vingar-se do delegado responsável pelo setor, mas atingir só a ele seria imprudente. Preferiu imprudência ainda maior: o subterfúgio da exoneração coletiva.
O efeito prático da medida foi a desarticulação do sistema policial do DF. Os delegados que aguardam substituição já não comandam, de fato, o seu setor; e os futuros substitutos precisarão de tempo para montar suas equipes e dominar a nova função.
Ou seja, na prática, o governador Agnelo Queiroz deixou a capital desprovida do seu sistema de segurança policial, uma vez desmontada a funcionalidade da estrutura. Não é pouco para justificar até o impeachment, senão mesmo a intervenção federal.
Impeachment, o ativo senador Demóstenes Torres está pronto para pedi-lo, em nome do DEM, à Câmara Distrital, versão local das assembleias estaduais. Mas nem o único deputado distrital do DEM é voto certo pelo impeachment, como reza a regra das relações entre os deputados distritais, quaisquer que sejam, e o governador do DF, qualquer que seja.
Para não faltar, nesse caso, o toque da brasilidade carnavalesca, é o PC do B, em sua fantasia programática de combatente pelos desvalidos, o polo da apropriação indébita de verbas originalmente destinadas a programas em benefício de desvalidos.
JANIO DE FREITAS-FOLHA

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