Aécio Neves(PSDB-MG) fez a sua estréia no Senado. Finalmente. Em longo discurso, com mais de quatro horas entre a leitura e os apartes, não disse uma só palavra que pudesse mobilizar o eleitorado de oposição. Nenhuma. Fez um discurso de político para políticos. O eleitor que espere lá fora. Todos sabem que a eleição foi perdida para o PAC, para o Minha Casa, Minha Vida, para a Bolsa Família, para o PROUNI, para a Copa do Mundo, para o Trem-Bala, para os bilhões e bilhões torrados de forma irresponsável pelo governo Lula. Nenhuma palavra a respeito. Nenhuma cobrança. Nenhuma palavra de ordem para 44 milhões de eleitores.
Aécio Neves, na sua primeira participação pública como senador, preferiu continuar nos bastidores, falando de passado, de legados, de fatos que não tem mais a mínima importância dentro de um contexto eleitoral. A quem importa saber se o Plano Real é de FHC ou de Itamar? A quem importa se o PT votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal? O que importam estes temas, se 43% de brasileiros aprovam a política de juros, dos maiores juros do mundo, segundo pesquisa CNI/Ibope?
É perceptível que o discurso de Aécio não tem nada de moderno, como alguns pretenderam rotular. É, sim, o discurso da velha política, com o objetivo de agregar em sua volta os apoios fisiológicos e clientelistas. Ou alguém acha que é de graça o tempo concedido por Sarney, totalmente fora dos prazos regimentais, para que o palanque de Aécio fosse montado? Interessa a Sarney, a Jucá, a Clésio de Andrade, a estes velhos nomes manter todas as portas abertas, para o caso do PT ficar muito forte e ter que ser isolado por uma nova frente e uma nova reordenação das forças políticas. Aécio é uma boa moeda de troca para os corruptos de plantão. Fortalecê-lo, neste momento, é uma forma de pressionar o governo petista por mais cargos e mais dinheiro, tanto é que as liberações para os municípios, que estavam congeladas, estão sendo revistas, tendo em vista que o fortalecimento dos mesmos é um dos pilares do discurso do senador mineiro. Aécio se presta a este tipo de articulação com perfeição, foi talhado para isso.
Assistimos, assim, a um espetáculo reluzente da velha política das velhas raposas, estreladas por uma cara nova. Aécio Neves não reorganizou a oposição coisíssima nenhuma. Aécio Neves fez questão, o tempo inteiro, de dar esperança de continuidade à velha situação, aquela que um dia está de um lado, outro dia está de outro, mas que sempre está do lado certo. Naquela tarde, esta situação reafirmou que está com o PT e com Dilma. Mas deixou claro, nas entrelinhas, que sempre é bom ter uma saída chamada Aécio Neves, em caso de alguma emergência. Afinal de contas, o que mais foi saudado no senador mineiro foi a sua capacidade de negociação, sem agressividade, com elegância, com grandeza. Alguns viram em Aécio Neves um sopro de modernidade. Outros sentiram um cheiro de mofo e de bolor exalando das palavras de quem estava ali para assumir o papel de líder das oposições. O tempo dirá quem tem razão.
DO COTURNO NOTURNO
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