quinta-feira, 31 de julho de 2014

Nordeste: a preocupação de Dilma

Campanha petista tenta consolidar hegemonia em seu histórico reduto eleitoral, mas esbarra no crescimento da oposição e na insatisfação da população com promessas não cumpridas

Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br)

Depois de perder força no Sudeste, a campanha à reeleição de Dilma Rousseff (PT) preocupa-se agora em não abrir espaço para a oposição na região onde o PT historicamente registra seus maiores índices de aprovação. A presidenta lidera as pesquisas na região Nordeste, mas se vê diante de um cenário bem diferente de 2010, quando a então candidata conseguiu a adesão de quase 90% dos nordestinos na disputa contra o tucano José Serra. Agora, quatro anos depois, além de perder eleitores para a chapa encabeçada pelo pernambucano Eduardo Campos (PSB), Dilma sofre com a migração de integrantes da sua base aliada para campanhas dos opositores e vê o senador Aécio Neves (PSDB) celebrar alianças com puxadores de votos em Estados estratégicos como Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia.
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A CONTA
Produtores rurais e moradores que perderam plantações durante a seca
amargaram prejuízos financeiros estimados em R$ 15 bilhões
No domingo 20, ao participar da missa pelos 80 anos da morte de Padre Cícero, na cidade de Juazeiro do Norte (CE), Aécio Neves deu o tom da ofensiva do PSDB na região e anunciou que vai apresentar este mês um plano estratégico para o Nordeste, incluindo o aumento de repasses financeiros para municípios de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Na prática, atendeu a um pleito dos prefeitos nordestinos, que reclamam que são tratados de maneira desigual em relação às cidades mais ricas. “Será um conjunto de ideias que vai permitir o desenvolvimento do Nordeste”, disse ele. Já Eduardo Campos planeja intensificar a campanha na região na reta final das eleições. Ele acredita que a divulgação de suas realizações em Pernambuco, Estado que governou por oito anos, pode gerar uma identificação dos nordestinos com a candidatura socialista. “A campanha no Nordeste começa mais tarde. Temos certeza de que, à medida que ela avançar, nós teremos um cenário semelhante ao que ocorre no Sudeste: a migração de antigos aliados para candidaturas de oposição”, aposta.
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Outra preocupação no PT é com a lista de pendências do atual governo com a região. O Nordeste viveu a pior seca dos últimos 50 anos durante o mandato de Dilma Rousseff e o Executivo não conseguiu cumprir nem metade das promessas que fez a produtores rurais e aos moradores que perderam plantações, ficaram sem água e amargaram prejuízos financeiros estimados, por um estudo da Organização Mundial de Meteorologia, em R$ 15 bilhões. O governo do PT também não concluiu obras consideradas essenciais, como a transposição do rio São Francisco e a ferrovia Transnordestina. A conta já começou a ser cobrada pelo eleitor.
Foto: Eraldo Peres/AP Photo 
DA ISTOÉ

A inútil irritação oficial com o mercado

EDITORIAL O GLOBO

Em vez de criticar banco, o FMI ou analistas, o governo deveria encarar a vida real e agir. Por exemplo, para o Brasil enfrentar o impacto da alta dos juros nos EUA
O governo enfrenta, nos últimos dias, uma crise no relacionamento com os fatos econômicos. A primeira grande rusga ocorreu em torno de uma análise feita no Santander para clientes preferenciais. O banco entrou na mira da artilharia oficial e da campanha à reeleição da presidente, por citar algo já conhecido: a bolsa tem subido quando saem pesquisas negativas para o projeto da reeleição, e vice-versa.
Essas oscilações relacionadas a sondagens eleitorais são interpretadas como reação de investidores em ações de empresas estatais que pagam alto preço devido ao intervencionismo característico da administração Dilma. A Petrobras é o exemplo mais evidente, forçada a acumular perdas majestosas por subsidiar o preço interno de combustíveis, e com isso adiar pressões sobre a inflação. O investidor em ações faz uma dedução lógica: se Dilma não se reeleger, a empresa deixará de perder dinheiro, e ele, acionista, receberá mais dividendos.
Logo em seguida, na terça, veio o desgosto, expresso pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, com o Fundo Monetário Internacional. Agora, devido a um relatório em que se alinham pontos críticos da economia brasileira. Também aqui, nada de novo. São questões que há tempos estão no mapeamento dos problemas brasileiros feito por analistas independentes.
Os técnicos do Fundo não veem como o Brasil voltará a crescer a taxas razoáveis - a última estimativa do FMI para este ano é de 1,3%, e 0,9% na projeção de analistas do setor financeiro do país -se não executar reformas estruturais. A própria gerente-geral do Fundo, a francesa Christine Lagarde, listou tarefas a serem executadas em Brasília: combater a inflação, os desequilíbrios fiscais, os déficits externos. Tudo também por demais conhecido.
Em vez de se crispar e responder no reflexo, de forma agressiva, a qualquer crítica sobre a economia, o governo deveria entender as análises, reconhecer que há mesmo problemas e tratar de manejar com esta realidade.
Não adianta praguejar contra o mercado. Subsidiar preços, comprimir inflação com tarifas atrasadas, dar subsídios fiscais pesados ao setor elétrico, na verdade um "esqueleto" em construção nas contas públicas, etc. apenas adiam problemas. E os agravam. É óbvio.
O tempo não para, e o mundo, por exemplo, precisa se preparar para o momento em que os Estados Unidos acabarão de vez com a política monetária expansionista e voltarão a elevar os juros. No segundo trimestre, soube-se ontem, os EUA cresceram à taxa anualizada de 4% - algo como quatro vezes mais rápido que o Brasil.
Em vez de criticar analista de banco, o FMI e o mercado, o Planalto precisa encarar a vida real. E agir. A economia brasileira sofrerá um impacto maior ou menor dessa guinada americana a depender de atitudes que o governo assumir agora diante de evidentes vulnerabilidades.
31 de julho de 2014DO R.DEMOCRATICA

Dilma na sabatina da CNI: a doutora em preço de gás diz que 13 menos 4 é igual a 7, viaja da Ucrânia para o Japão em menos de um minuto, confunde usina nuclear com furacão e submerge num tsunami


Até o colunista acharia que o título do post é coisa da elite golpista, gente que acorda e dorme debochando da presidente da República, se não pudesse apresentar como prova o vídeo que registra um trecho das considerações finais de Dilma Rousseff na sabatina da CNI. A candidata à reeleição começa discorrendo sobre as variações do preço do gás no mercado internacional, estaciona de novo em reticências bêbadas e diz o seguinte:
“Na Ucrânia pagam 13 dólares o… o milhão de BTU. Mas.. 4 pra 13 dá sete.. pagam… quanto é que paga? Depois do furacão.. (Uma alma caridosa na plateia corrige a maluquice aritmética: NOVE!). Aliás 4 pra 13 dá 9.. eu tô pensando no furacão Ka.. o furacão não.. em Fugujima  (sic)… Como é que chama.. no Japão.. O tsunami…”
Pena que o vídeo não tenha incluído o fecho recitado em dilmês erudito: “No Japão a diferença é aquela que eu disse”. O Japão jamais saberá que diferença é essa. Mas todos os japoneses sabem que Fukushima nunca foi “Fugujima” sempre foi Fukushima. E aprendem ainda na infância que 13 menos 4 jamais será igual a 7.
DO AUGUSTO NUNES-REV VEJA

Governo Dilma: de costas para a realidade.

O pachorrento Guido Mantega não faz outra coisa senão negar fatos que qualquer pessoa razoavelmente informada conhece. Merece este editorial do Estadão:
O Brasil estaria bem melhor, com maior crescimento, inflação menor, exportações bombando e contas públicas mais sólidas, se o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconhecesse os problemas e gastasse menos tempo negando fatos bem conhecidos por qualquer pessoa razoavelmente informada. Ele se envolveu em mais uma batalha desse tipo, nesta semana, em mais um esforço inútil para contestar avaliações apresentadas em relatórios do Fundo Monetário Internacional (FMI). No primeiro documento, sobre efeitos colaterais de mudanças na política dos países mais importantes, o Brasil é incluído na lista dos sete emergentes mais vulneráveis. Os outros são Rússia, Turquia, Indonésia, Índia, Argentina e África do Sul. No segundo, a situação das contas externas brasileiras é apresentada como "moderadamente frágil", com risco de rápida piora, em caso de forte desvalorização dos produtos básicos.
Segundo o ministro, o FMI repetiu, no primeiro estudo, um erro cometido há meses por outras instituições, quando incluíram o Brasil na lista dos países mais sujeitos a problemas, se as condições financeiras ficassem mais apertadas. O Brasil, segundo ele, enfrentou muito bem as dificuldades já ocasionadas pela mudança na política monetária americana. O câmbio, disse o ministro, está estabilizado e o País continua sendo um dos principais destinos do investimento estrangeiro direto.
Mas ele deixou de mencionar dois detalhe importantes. O real foi uma das moedas mais afetadas pelas mudanças nos mercados cambiais, no ano passado, e a instabilidade só foi contida graças a repetidas intervenções do Banco Central (BC). Essas intervenções foram mantidas neste ano, para impedir ou limitar o efeito inflacionário da depreciação do câmbio. Além disso, o investimento estrangeiro direto continua insuficiente - como já foi no ano anterior - para cobrir o déficit na conta corrente do balanço de pagamentos. Caiu, portanto, a qualidade do financiamento necessário ao fechamento das contas externas.
O esquecimento, ou negligência proposital, desses dois detalhes deixou na sombra um amplo conjunto de problemas. Nem o governo prevê para este ano um crescimento econômico superior a 1,8%, número apontado há poucas semanas pelo Ministério do Planejamento. No mercado, as projeções são inferiores a 1%. O FMI, em sua última revisão do panorama econômico mundial, baixou de 1,8% para 1,3% a estimativa de expansão do PIB brasileiro. Reduziu as projeções para outros países, também, mas os números previstos para o Brasil estão entre os piores, no cenário global, e desde o ano passado têm sido revistos para baixo.
O ministro da Fazenda está certo quanto a um ponto: o FMI tem errado em relação à economia brasileira. Mas tem errado por excesso de otimismo e por levar a sério, mais do que deveria, a política de Brasília.
O Brasil, como outros emergentes, perdeu dinamismo nos últimos anos e isso se deve, segundo a análise do FMI, mais a fatores estruturais do que à conjuntura internacional. São problemas internos: infraestrutura deficiente, contas públicas em mau estado, inflação elevada e contas externas em deterioração.
O câmbio valorizado é parte do problema, admitem os analistas do FMI. Mas eles poderiam acrescentar: esse problema persistirá enquanto a inflação for muito alta e o BC, para atenuar a alta de preços, intervier no mercado para conter a depreciação do real
Todos esses problemas têm sido extensamente discutidos por economistas brasileiros e estrangeiros. Mas o governo se recusa a enfrentá-los seriamente. As autoridades têm preferido maquiar as contas públicas e administrar os índices de inflação, contendo os preços de combustíveis, da eletricidade e do transporte público.
A situação "moderadamente frágil" das contas externas é um complemento previsível desse quadro. O País dispõe de reservas próximas de US$ 380 bilhões e isso proporciona alguma segurança. Mas a segurança efetiva e duradoura só poderia provir de um aumento da produtividade geral do País e da competitividade. Disso o governo tem cuidado muito mal.
DO ORLANDO TAMBOSI