quinta-feira, agosto 30, 2018
Quando
o presidenciável Jair Bolsonaro se referiu à vultosa aplicação de
recursos públicos por parte do governo federal em veículos da grande
mídia nacional durante a tal "sabatina" do Jornal Nacional da TV Globo,
sabia muito bem o que estava dizendo.
Tanto
é que o Jornal Folha de S. Paulo publicou no dia 30 de junho de 2015,
uma ampla reportagem assinada pelo jornalista Fernando Rodrigues com o
seguinte título: TV Globo recebeu R$ 6,2 bilhões de publicidade federal
com o PT no Planalto.
Claro
que não foi apenas a TV Globo a receber dinheiro público para veicular
propagandas governamentais. Outros veículos da grande mídia também foram
beneficiados.
A
reportagem é extensa e fartamente ilustrada com tabelas. Vou reproduzir
em seguida uma das tabelas de aplicação de dinheiro público destinado à
dita mainstream media nacional e em seguida a primeira parte da
reportagem que pode ser lida na íntegra clicando AQUI. Vejam a tabela e leiam o texto inicial:
Clique sobre cada uma das tabelas para vê-las ampliadas |
A
Rede Globo e as 5 emissoras de propriedade do Grupo Globo (em São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Brasília e Recife) receberam um
total de R$ 6,2 bilhões em publicidade estatal federal durante os 12
anos dos governos Lula (2003 a 2010) e Dilma (2011 a 2014).
Como
a cifra só considera TVs de propriedade do Grupo Globo, o montante
ficaria maior se fossem agregados os valores pagos a emissoras
afiliadas. Por exemplo, a RBS (afiliada da Globo no Rio Grande do Sul e
em Santa Catarina) recebeu R$ 63,7 milhões de publicidade estatal
federal de 2003 a 2014.
Outro
exemplo: a Rede Bahia, afiliada da TV Globo em Salvador, que pertence
aos herdeiros de Antonio Carlos Magalhães (1927-2007), teve um
faturamento de R$ 50,9 milhões de publicidade federal durante os 12 anos
do PT no comando do Palácio do Planalto.
A
TV Tem, que abrange uma parte do rico mercado do interior do Estado de
São Paulo, em 4 regiões (com sedes nas cidades de São José do Rio Preto,
Bauru, Itapetininga e Sorocaba), faturou R$ 8,5 milhões de publicidade
estatal federal em 2014. Essa emissora é de propriedade do empresário
José Hawilla, conhecido como J. Hawilla (pronuncia-se "Jota Ávila"), que
está envolvido no escândalo de corrupção da Fifa.
Os
dados deste post são inéditos. Nunca foram publicados com esse nível de
detalhes até hoje. Os valores até 2013 estão corrigidos pelo IGP-M, o
índice usado no mercado publicitário e também pelo governo quando se
trata de informações dessa área. Os números de 2014 são correntes (sem
atualização monetária).
A
série histórica sobre publicidade do governo federal começou a ser
construída de maneira mais consistente a partir do ano 2000. Não há
dados confiáveis antes dessa data.
O
volume total de publicidade federal destinado para emissoras próprias
do Grupo Globo é quase a metade do que foi gasto pelas administrações de
Lula e Dilma para fazer propaganda em todas as TVs do país. Ao todo,
foram consumidos R$ 13,9 bilhões para veicular comerciais estatais em
TVs abertas no período do PT na Presidência da República. As TVs da
Globo tiveram R$ 6,2 bilhões nesse período.
Apesar
do valor expressivo destinado à Globo, há uma nítida trajetória de
queda quando se considera a proporção que cabe à emissora no bolo total
dessas verbas.
As
emissoras globais terminaram o governo do tucano Fernando Henrique
Cardoso, em 2002, com 49% das verbas estatais comandadas pelo Palácio do
Planalto e investidas em propaganda em TVs abertas.
No
ano seguinte, em 2003, já com o petista Luiz Inácio Lula da Silva na
Presidência, a fatia da Globo pulou para 59% de tudo o que a
administração pública federal gastava em publicidade nas TVs abertas.
Esse salto não se sustentou.
Nos
anos seguintes, com algumas oscilações, a curva global foi decrescente.
No ano passado, 2014, a Globo ainda liderava (recebeu R$ 453,5
milhões), mas chegou ao seu nível baixo de participação no bolo estatal
federal entre TVs abertas: 36% do total da publicidade.
Como
se observa, a queda de participação das TVs é também sentida na
audiência da maior emissora brasileira. Segundo a aferição realizada
pelo Ibope Media Workstation (Painel Nacional de Televisão, com base 15
mercados, durante 24 horas, todos os dias), a TV Globo teve 12 pontos de
audiência domiciliar média em 2014.
Todas
as 4 maiores emissoras de TV aberta enfrentaram quedas de audiência ao
longo dos últimos anos. Essa menor presença nas casas das pessoas,
entretanto, nem sempre está refletida em menos verbas publicitárias
federais.
A
Record, por exemplo, recebeu um verba de R$ 264 milhões em 2014 contra
R$ 244 milhões em 2013 (aumento de 8,4%), apesar da queda da audiência
da emissora de um ano para o outro (de 4,5 para 4,2 pontos no Ibope, das
6h à 0h).
Já
o SBT, terceira TV aberta no Brasil (cuja audiência ficou quase
estável, variando de 4,5 para 4,4 pontos no Ibope, de 2013 para 2014),
registrou uma queda no faturamento de publicidade estatal federal: saiu
de R$ 182 milhões para R$ 162 milhões.
Nota-se,
portanto, uma assimetria no tratamento dado pelo governo para as 2
maiores TVs que ficam abaixo da Globo quando se considera audiência e
valores de publicidade recebida.
Record
e SBT tiveram audiências muito semelhantes em 2014, na casa de 4 pontos
no Ibope. Só que a Record, emissora do Bispo Edir Macedo, da Igreja
Universal do Reino de Deus, recebeu cerca de R$ 100 milhões a mais de
verbas publicitárias federais no ano passado na comparação com o SBT, do
empresário e apresentador Silvio Santos.
Já
a Band (com apenas 1,7 ponto de audiência média no Ibope em 2014) teve
R$ 102,4 milhões de propaganda dilmista no ano passado. A Rede TV! (0,6
ponto de audiência) ficou com R$ 37,8 milhões.
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