Josias de Souza
Michel Temer discute em privado os planos para a continuidade do seu governo após o provável sepultamento na Câmara da denúncia que o acusa de integrar organização criminosa e obstruir a Justiça. O presidente foi aconselhado a iniciar pelo Palácio do Planalto uma reformulação de sua equipe ministerial. Reagiu à sugestão com frieza. Depois, comentou com outro interlocutor: “Acha que tenho condições de mandar embora meus amigos da vida inteira?”
Temer referia-se aos ministros palacianos Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência). Ambos foram acusados de integrar a organização criminosa estrelada pelo presidente. Mas nada parece abalar o prestígio de que desfrutam. Eles compõem, ao lado do tucano Antonio Imbassahy, ministro responsável pela coordenação política do governo, o seleto grupo de auxiliares com liberdade para virar a maçaneta da porta da sala do presidente.
A sugestão para que Temer reformulasse os quadros do Planalto teve inspiração mais operacional do que ética. Avalia-se que a equipe perdeu a funcionalidade. Imbassahy deveria gerenciar o balcão da fisiologia. Mas se indispôs com o grosso da clientela parlamentar do governo. Deputados de partidos do centrão —PP, PR, PSD e assemelhados— desligaram o coordenador político de Temer da tomada. Muitos abriram negociações paralelas com Padilha. Mas a maioria não sossega enquando não entrega as demandas diretamente a Temer.
Deve-se sobretudo ao escudo do foro privilegiado a apreensão de Temer com os “amigos” Moreira e Padilha. Afastados do ministério, os dois desceriam do Supremo Tribunal Federal para a primeira instância do Judiciário. Ficariam em situação análoga à do ex-ministro Geddel Vieira Lima, preso preventivamente no presídio brasiliense da Papuda. Os defensores da tese de que o Planalto precisa de caras novas não compram integralmente a desculpa de Temer, pois os amigos não precisariam ser enviados ao olho da rua. Bastaria transferi-los para outros ministérios, deslocando-os da vitrine do Planalto para os fundões do governo.
Travado longe dos refletores, o debate sobre os quadros do Planalto vem acompanhado de uma pregação em favor da reforma de toda a equipe ministerial. Excluindo-se Padilha e Moreira, que ainda não manifestaram a intenção de pedir votos em 2018, há na Esplanada algo como 17 ministros que cultivam o plano de disputar mandatos eletivos no ano que vem. A conta inclui Henrique Meirelles (Fazenda), que ensaia uma candidatura presidencial.
Temer não ignora que terá que realizar uma reforma ministerial. Mas vinha planejando as trocas para daqui a seis meses, já que o prazo legal para os candidatos deixarem seus cargos no Executivo é o início de abril. Haverá, no entanto, um pressão para que o presidente antecipe o calendário. O movimento deixa o PSDB em situação constrangedora. O partido entrou no governo meio envergonhado. Beliscou quatro ministérios. Um pedaço do tucanato passou a defender o desembarque. Mas o partido foi ficando. Agora, corre o risco de ser colocado para fora da Esplanada aos empurrões.
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Josias de Souza
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