segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Miller auxiliava J&F para acordo de leniência quando ainda era procurador, diz Janot em pedido de prisão

PGR identificou trocas de e-mails entre ex-procurador e uma advogada. Segundo o MP, mensagens mostram marcações de voos para reuniões e referências a orientações dadas por Miller à J&F.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot (Foto: Adriano Machado/Reuters/Arquivo)
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot (Foto: Adriano Machado/Reuters/Arquivo)
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou no pedido de prisão apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-procurador Marcello Miller que o ex-investigador da Lava Jato chegou a auxiliar o grupo J&F – controlador do frigorífico JBS – enquanto ainda atuava no Ministério Público Federal (MPF).
Na mesma ação cautelar, o procurador-geral pediu a prisão do empresário Joesley Batista e do diretor da J&F Ricardo Saud. Relator da Lava Jato no STF, o ministro Luiz Edson Fachin acolheu o pedido para prender Joesley e Saud, mas negou o de Miller.
Janot destacou no pedido de prisão que, com base em documentos apresentados pelo escritório Trench, Rossi, Watanabe – que contratou Miller, em março, para trabalhar no acordo de leniência da J&F –, a PGR identificou trocas de e-mails entre o então procurador da República e uma advogada da banca de advocacia.
Nesses e-mails, registra Janot, foram trocadas mensagens sobre “marcações de voos para reuniões, referências a orientações à empresa J&F e inícios de tratativas em benefícios à mencionada empresa”.
Suspeito também de ajudar os executivos da J&F a negociar seus acordos de delação (feitos por pessoas físicas na esfera penal), Miller teve o pedido de prisão negado, na última sexta (8), pelo relator da Lava Jato no STF, ministro Luiz Edson Fachin.
Fachin considerou não haver indícios suficientes de que ele foi "cooptado" pela organização criminosa de Joesley Batista e Ricardo Saud, presos por ordem de Fachin.

Cardozo

Em outro trecho do pedido de prisão, Janot diz haver “indicativo” de que Marcello Miller, ainda como procurador da República, ajudou os executivos da J&F a “filtrar informações, escamotear fatos e provas e ajustar depoimentos e declarações, em benefício de terceiros que poderiam estar inseridos no grupo criminoso”.
Entre essas informações “escondidas” por orientação de Miller, estaria um encontro gravado de Joesley e Saud com o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.
Em depoimento à PGR na semana passada, Ricardo Saud contou que, em um encontro com Miller, quando ele ainda era procurador, “houve uma briga quando falou sobre José Eduardo Cardozo”.
O diretor da J&F relatou que participou de um encontro entre Joesley, Cardozo e o advogado Marco Aurélio Carvalho, sócio do ex-ministro da Justiça. Segundo Saud, nessa reunião que também teria sido gravada, Marco Aurélio quis “vender serviços” de advocacia.
Quando contou a Miller que havia gravado Cardozo, o ex-procurador “disse que aquilo daria cadeia, que iriam para cima deIe, depoente, e José Eduardo Cardozo”.

Suspensão do acordo

No pedido para prender Joesley, Saud e Miller, o chefe do Ministério Público considerou a omissão da suposta ajuda prestada pelo ex-procurador da República como um motivo para rescindir a delação dos executivos da J&F.
Por isso, Janot pediu a Fachin a suspensão temporária do acordo, o que inclui benefícios, como a imunidade penal, que os impedia de serem processados.
“A omissão desses fatos, ao que tudo indica, foi intencional, ou seja, de má-fé. Tanto que, por informações de imprensa, só decidiram entregar os novos áudios quando suspeitaram que a Polícia Federal poderia ter gravação similar, informação que e plausível”, escreveu Janot no pedido de prisão.
Para a PGR, levando em conta a gravação da conversa entre Joesley e Saud, a atitude de Marcello Miller, se enquadraria nos crimes de participação em organização criminosa, obstrução às investigações e exploração de prestígio.
Por Renan Ramalho, G1, Brasília

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