RIcardo Saud, diretor financeiro da J&F entregou à Procuradoria-Geral da República notas fiscais e afirmou que Instituto 'nunca fez serviço para nós'
Luiz
Vassallo e Julia Affonso
25 Maio 2017 | 05h00
O diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud,
entregou, como parte de sua delação premiada, ao Ministério Público
Federal, contratos e notas fiscais que teriam sido utilizados para
dissimular propinas à cúpula do PMDB. Entre os documentos que, segundo o
delator, são ‘frios’ e ‘fictícios’, estão números de notas fiscais
emitidas pela JBS ao Ibope.25 Maio 2017 | 05h00
“Fazia pesquisa pra eles [senadores] e pagava com essa propina. o Ibope recebia propina. Nunca fez um serviço para nós”.
O delator ainda relatou que o Instituto teria sugerido contratos fraudulentos para justificar os repasses da JBS. “Inclusive, eles várias vezes mandavam um contrato com um punhado de pesquisa e falaram: arquiva isso aí direitinho, se amanhã ou depois, se acontecer alguma coisa, você mostra isso aí. Eu falei: ‘ó, rapaz, agora quer me ensinar a roubar dos outros?’”
“Nunca fizeram pesquisa pra mim. Pegavam pesquisa nacional e queria pôr no contrato da gente”, relatou.
Um dos anexos do acordo de colaboração da JBS com a Procuradoria-Geral da República se refere a um pacotão de R$ 46 milhões ao PMDB nas eleições de 2014, que, segundo os executivos, teriam sido acertados entre o então ministro da Fazenda Guido Mantega e um dos donos da JBS, Joesley Batista. Do total, R$ 35 milhões seriam destinados à cúpula do PMDB no Senado.
Saud explica, inclusive, que informou, à época, o então vice-presidente Michel Temer sobre os repasses.
“Eu fui lá com o bilhete que o Joesley anotou do que o Guido falou e falei : ‘ó,Temer, ta iniciando a campanha, e o Joesley achou por bem pedir para vir falar com o senhor que já tá iniciando assim, tá doando 35 milhões para o PMDB e pelo que entendi não tá passando pelo senhor’”, relatou.
Segundo o delator, no caso de Renan Calheiros, parte das propinas seriam utilizadas para ‘preparar’ a eleição do peemedebista à presidência do Senado e a outra parte teria como destino a campanha do filho dele, ao governo de Alagoas. Os valores repassados ao atual líder do PMDB no Senado chegaram aos R$ 9,9 milhões, de acordo com o delator. Parte deles, foi justificada por meio de pagamentos ao Ibope.
“R$ 300 mil em 21/7/ 2014 para o ibope, nota fiscal 14247 – ibope nacional. Fazia pesquisa pra eles e pagava com essa propina. o ibope recebia propina. nunca fez um serviço para nós”, relatou.
Outra empresa de comunicação que entra na lista de propinas da JBS é a GPS Comunicação, para quem a JBS emitiu duas notas fiscais: uma delas no valor de R$ 800 mil e outra no valor de R$ 900 mil.
Saud listou os pagamentos feitos a pedido de Renan Calheiros:
– ‘R$ 1 milhão ao diretório estadual do PMDB em Alagoas, ‘carimbado para Renan Filho’.
– R$ 500 mil ao PMDB do Amapá, ‘por ordem do Renan’.
– R$ 300 mil ao PMDB de Sergipe, ‘por ordem de Renan Calheiros’.
– R$ 455 mil ao PMDB Nacional, ‘carimbados por Renan’.
– R$ 300 mil para o PT do B Nacional, ‘por ordem do Renan’.
“Então, o que entendi disso aí, das conversas que a gente teve lá com ele, que ele já estava jogando alguns senadores, o senhor vai ver mais embaixo, para preparar a eleição dele para a presidência do Senado. Assim como fez o Eduardo Cunha também, que o senhor vai ver mais na frente”, relatou Saud.
Renan Calheiros (PMDB-AL) ainda pediu R$ 4 milhões ‘em dinheiro vivo’, de acordo com o diretor da J&F. Ele relatou que parte foi levada à casa do senador, em Alagoas, e outra parte entregue ao diretório estadual do PMDB.
Já Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) teria recebido R$ 3 milhões, para campanha ao governo do Rio Grande do Norte, em 2014. Do total, R$ 1 milhão foi doado oficialmente ao PMDB Nacional, ‘em nome do Henrique’ e outra parte foi por meio de contratos de advocacia e de consultoria, e termos firmados com o Ibope.
COM A PALAVRA, O IBOPE
É com indignação que o IBOPE Inteligência tomou conhecimento da acusação de que emitiu notas fiscais falsas para a JBS como parte de pagamento de propina sem contrapartida de bens ou serviços, conforme consta no Termo de Pré-Acordo de Colaboração Premiada assinado por Joesley Mendonça Batista, Wesley Mendonça Batista e Ricardo Saud com a Procuradoria-Geral da União.
Sobre esse fato, o IBOPE Inteligência esclarece que nunca emitiu notas fiscais falsas, nem recebeu qualquer tipo de propina das empresas do grupo JBS ou de qualquer outra empresa.
Entretanto, o IBOPE Inteligência confirma que todas as notas fiscais mencionadas no Termo de Pré-Acordo de Colaboração Premiada são verdadeiras, foram devidamente contabilizadas e estão registradas na Secretaria Municipal da Fazenda da Prefeitura de São Paulo.
Após o conhecimento da acusação, foram verificadas todas as notas fiscais de serviços constantes na delação envolvendo o IBOPE Inteligência e empresas do grupo JBS. Deste modo, após um minucioso levantamento, o IBOPE Inteligência confirma o recebimento de R$ 2.834.705,43 como pagamento de serviços de pesquisa prestados para empresas do grupo JBS.
No entanto, cabe esclarecer de forma muito transparente que do montante acima mencionado, R$ 1.440.597,49 foram pagos para a realização de pesquisas eleitorais em Campo Grande, em 2012, e também para os estados de Alagoas, Goiás e Rio Grande do Norte, em 2014. Todas essas pesquisas foram devidamente executadas, entregues e pagas pela JBS S/A e J&F Investimentos S/A.
Já os R$ 1.394.107,94 restantes referem-se a pesquisas de mercado, tais como recall de comunicação da Friboi; tracking de imagem da Friboi; e perfil e hábitos de consumidores nas lojas da Swift, entre outros, contratados pelos profissionais de pesquisa e de marketing da JBS S/A. Inclusive, uma das notas fiscais mencionada no Termo de Pré-Acordo de Colaboração Premiada foi emitida para a Flora Distribuidora de Produtos de Higiene e Limpeza, uma das empresas do grupo. Pesquisa essa sobre consumo de fixador para cabelos, também executada e entregue.
O IBOPE Inteligência repudia veementemente a negligência dos delatores que, além de faltarem com a verdade ao afirmarem que as notas fiscais são falsas, misturaram em seus depoimentos pesquisas eleitorais realizadas para políticos, com pesquisas sobre assuntos estratégicos das empresas do grupo, encomendadas por suas equipes de marketing e pesquisa.
Diante disso, para seguir com a transparência que faz parte de nosso trabalho nestes mais de 75 anos, disponibilizamos abaixo, para a consulta de todos os brasileiros, o relatório com todas as notas fiscais mencionadas no Termo de Pré-Acordo de Colaboração Premiada, com a descrição dos serviços encomendados, realizados e entregues desde 2011 para a JBS S/A, J&F Investimentos S/A e Flora Distribuidora de Produtos de Higiene e Limpeza. DO ESTADÃO
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