segunda-feira, 10 de abril de 2017

Tietagem com goleiro Bruno envergonha todo brasileiro sério


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Foram quase sete anos sem disputar partida profissional. Exatos 2.499 dias separam o 5 de junho de 2010, última partida de Bruno pelo Flamengo, e o 8 de abril de 2017, estreia pelo Boa Esporte. Condenado por 22 anos e três meses pelo assassinato de Eliza Samúdio e por ocultação de cadáver, Bruno certamente não retornou ao futebol como desejava.
Mas o simples fato de ter retornado, e de ainda por cima ter sido ovacionado pela torcida local, diz muito sobre os valores disseminados em nosso país. Ou melhor: sobre a ausência de valores! Parece que o futebol está acima de tudo, e a fama serve como salvo-conduto para os crimes.
“O goleiro teve uma tarde com status de ídolo. Único jogador que teve o nome gritado pela torcida e disputado pelas crianças, na hora de entrar em campo”, conta a reportagem da Folha de S. Paulo. Um assassino triplamente qualificado disputado pelas crianças. O crime, de fato, compensa no Brasil.
Um amigo jornalista desabafou numa rede fechada de debates: “Os que foram ao estádio cultuar o goleiro Bruno, inclusive levando suas crianças, são idiotas, sim, idiotas e imorais, rebanho bovino em forma de gente, que se deixa fanatizar por futebol e também quer aparecer aos holofotes da mídia. Há pessoas que estão no nível dos animais e têm a dignidade de um cachorro diante de um osso. Por isso, as autoridades não devem dar palanque a um criminoso: sempre haverá porcos morais para aplaudi-lo e transformá-lo em herói”.
Gustavo Nogy comentou em sua página do Facebook:
O goleiro Bruno matou, mandou matar, Eliza Samudio. Matou, mandou matar, deu o corpo aos cães. Durante todo o processo, manteve a expressão dura. Com esforço, em alguns depoimentos fingiu o arrependimento que não tem. Condenado a 22 anos de prisão, cumpriu pouco mais de 6 e foi solto por liminar, dada a demora no julgamento do recurso. Tão logo solto, foi contratado pelo Boa Esporte, time mineiro. Os cartolas não conseguiram conter a euforia. Justificaram, tergiversaram, deram de ombros. Decerto abriram champanhes. Ontem, Bruno jogou pela primeira vez depois do assassinato e foi muito bem recebido. Não houve protestos nos arredores do estádio. Entrou com criança no colo e foi aplaudido, ovacionado, festejado, perdoado. Desfez a dureza facial e até sorriu. Ele merece segunda chance. Disse há alguns dias que “a vida segue”. Para ele, segue. Para Eliza Samudio, nem tanto. Que ele cumprisse a pena e vivesse em silêncio. Mas não: voltou aplaudido, ovacionado, festejado, perdoado. Matou, mandou matar, deu o corpo aos cães. Cometeu pênalti logo no primeiro jogo.
Há quem diga que Bruno está jogando de acordo com as regras do jogo, que está livre legalmente, cumpriu parte de sua pena, e deve ter direito a uma segunda chance. Balela! Se a lei é absurda, não devemos por isso fechar os olhos para a injustiça que ela protege ou compensa.
Um amigo advogado comentou: “Realmente, ele está jogando de acordo com as regras do jogo. O problema justamente é esse: as regras do jogo, leia-se, sistema jurídico penal brasileiro. E o sistema reflete a cultura predominante, que é justamente essa de sempre passar a mão na cabeça de infratores”.
Se a lei é ridícula, então o mínimo que devemos esperar é uma punição social, moral, o ostracismo, o repúdio da população. Não selfies! Quem defende o goleiro adota a mentalidade esquerdista, que encara marginal como “vítima da sociedade” que precisa de carinho em vez de punição severa.
João Luiz Mauad, no mesmo debate, disse: “O Japão é recordista de suicídios, entre outras coisas, justamente porque lá é muitas vezes mais difícil conviver com a vergonha pública do que propriamente com a punição da lei. Essa diferença demonstra como as nossas instituições informais são fracas”.
Cristiano Carvalho, advogado, acrescentou: “Instituições são formais e informais… só que a cola da sociedade são as informais (ou social norms, como denominam outros) – as informais não têm prescrição, preclusão, duram tanto quanto a memória humana. E, na era do cyberspace, da informação a custo zero armazenada em nuvem, literalmente podem durar para sempre. Por isso que já há inclusive teses e movimentos jurídicos em prol do ‘direito ao esquecimento’.”
No Brasil isso nem é preciso: o povo esquece, e no dia seguinte! Tem memória curta. Vota em político safado, pensa em votar num populista que acabou de destruir a nação. Cai em tudo que é embuste de oportunista de plantão. E não é só uma questão de ignorância; é também uma questão de caráter, de valores morais, de ética.
Um povo que festeja a volta de um assassino ao futebol, apenas sete anos depois do crime, e coloca crianças para tirar fotos com ele, é um povo indecente, fadado ao fracasso. A permissividade dos brasileiros para com o crime está no epicentro de nossos males. O “coitadismo” é o câncer que corrói nossas estruturas sociais. Todo brasileiro sério está envergonhado hoje.
Rodrigo Constantino

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