Oficialmente, Lula poderia filiar-se ao MST: não possui sequer um palmo de quintal. Mas entre 2011 e 2015, quando VEJA divulgou a esquisitice, ele passou quase todos os fins de semana num sítio em Atibaia cujos donos oficiais são dois amigos do filho Lulinha que nunca deram as caras por lá.
Oficialmente, Lula também poderia exigir um lugar à sombra na dianteira da fila de espera do MTST: o único teto que lhe pertence é o apartamento 122 do edifício Green Hill, em São Bernardo do Campo. Mas ainda era presidente quando passou a ocupar também o 121, sequestrado em fevereiro pela Justiça Federal, cujo dono oficial é um primo do amigão José Carlos Bumlai que nunca deu as caras por lá.
Oficialmente, Lula nunca se interessou por imóveis à beira-mar. Deve ter sido apenas para matar o tempo que ele, a mulher e filhos visitaram com tanta frequência o triplex no Guarujá, e foram invariavelmente recepcionados na calçada por figurões da empresa proprietária do prédio. E decerto foi só para medir o desprendimento de empreiteiros amigos que a família real encomendou a uns a reforma do sítio e do triplex, a outros modernidades que sempre começavam por uma cozinha de restaurante condecorado pelo Michelin.
Não existem documentos que provem que os imóveis são dele, alega Lula. Quem tem amigos tão singularmente generosos é dispensado de providenciar escrituras. Ou era ─ antes que entrasse em cena a Lava Jato. DO A.NUNES
Manifesto do PT suspende o massacre da concordância verbal
“Intelectuais do PT informam: o povo perderam“, avisou o título do artigo aqui publicado em 3 de março, sobre o manifesto, cujo primeiro signatário é Leonardo Boff, que implora ao chefe supremo que antecipe a entrada na disputa presidencial de 2018. “Por que Lula?”, pergunta a abertura do documento. E por que submeter o pobre português a tão selvagem sessão de torturas já no primeiro parágrafo?, retrucou esta coluna, que procurou socorrer a vítima inserindo na reprodução do trecho criminoso cinco correções entre parênteses e em negrito. Vale a pena ler de novo:“É o compromisso com o Estado Democrático de Direito, com a defesa da soberania brasileira e de todos os direitos já conquistados pelo povo desse (Errado; o certo é ‘deste’) País, que (Alguém infiltrou uma vírgula bêbada entre ‘País’ e ‘que’) nos faz, através desse (É errado o uso de ‘através desse’; o certo é ‘por meio deste’) documento, solicitar ao ex-Presidente Luiz Inácio LULA da Silva que considere a possibilidade de, desde já, lançar a sua candidatura à Presidência da República no próximo ano (A candidatura deve ser lançada desde já ou no próximo ano?), como forma de garantir ao povo brasileiro a dignidade, o orgulho e a autonomia que perderam”. (Quem ‘perderam’? O povo? Então o certo seria ‘perder’).
Como o PT prometeu recomeçar a coleta de assinaturas nesta segunda-feira, dia 6, o texto aconselhou os redatores do besteirol a suspenderem a pancadaria imposta ao idioma em geral e à concordância verbal em particular. Foi o que ocorreu nesta terça-feira, demonstra a nova versão do parágrafo impiedoso. Com quatro dias de atraso, sumiram os erros denunciados pela coluna. Confiram:
“É o compromisso com o Estado Democrático de Direito, com a defesa da soberania brasileira e com os direitos já conquistados pelo povo deste País que nos faz solicitar ao ex-Presidente Luiz Inácio LULA da Silva que considere a possibilidade de lançar imediatamente sua pré-candidatura à Presidência da República, como forma de restituir ao povo brasileiro a autoestima e a autonomia perdidas”.
“Restituir ao povo brasileiro a autoestima e a autonomia perdidas” não deixa de ser uma redundância: só se restitui a alguém algo que esse alguém perdeu. Mas é bem menos indigente do que “garantir ao povo brasileiro a dignidade, o orgulho e a autonomia que perderam”. E recomenda silêncio os linguistas de jardim de infância que, durante quatro dias, rondaram a coluna recitando a cretinice resumida no comentário de um certo Afonso Celso Figueiredo: “No afã de desqualificar o PT e seus ‘intelectuais’ o autor dessa matéria atropela a língua portuguesa ignorando o que é SILEPSE de número”.
A professora Vania Maria do Nascimento Duarte explica em dilmês erudito o que é esse palavrão:
“Postula-se como característica marcante do termo “concordância”, o fato de o verbo concordar com o termo expresso (quase sempre com o substantivo). Contudo, em se tratando da concordância ideológica ou irregular, esta mesma concordância se efetiva com a ideia expressa – ocorrência linguística a qual se atribui à silepse, como pontuado anteriormente. Aparentemente, ela denota certa estranheza aos olhos do emissor, mas a verdade é que por pertencer a uma figura de linguagem, o não convencionalismo, sem sombra de dúvidas, revela sua palavra de ordem. Assim sendo, o sentido lógico, formal, cede lugar àquele referente ao instinto intencional do autor, cujo objetivo é nada mais nada menos que o de realçar a mensagem”.
Em língua de gente, a professora está dizendo que agora é certo escrever ou dizer o que sempre foi errado. Por exemplo: “a multidão vaiaram Dilma”. Ou “o bando do Petrolão agiram sob a chefia de Lula”. Ou, ainda, “a patrulha da linguística comprovam que os idiotas estão por toda parte”. Sem saber que os próprios redatores se renderam aos fatos, o companheiro Alexandre Spinelli acaba de desembarcar na área de comentários com o seguinte berreiro: É Silepse de Número! Vamos estudar a Língua Portuguesa, pelo amor de Deus ao invés de concordar com tudo que se lê! Viramos marionetes?”
Spinelli deveria ter colocado uma vírgula entre Deus e ao invés ─ e substituído ao invés de por em vez de. Além de endossar os erros do manifesto, ele ampliou as agressões à língua oficial do Brasil. É mais um filhote da raça dos sabujos de nascença. DO A.NUNES
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