O eventual veto à medida seria o primeiro sinal de mudança de postura do presidente em relação ao Congresso, já que sempre defendeu o que chamava de independência do Legislativo. Até então, Temer vinha dizendo que respeita decisões do Congresso e chegou a sinalizar, em entrevista, que sancionaria o texto. Na ocasião, disse que, se o caixa 2 for considerado crime, “como a lei penal não retroage, se houver uma regração agora, que diga que caixa dois é crime a partir de agora, pelo menos se sustentaria que no passado o costume era outro”. Temer ressalvou ainda que tinha “uma longa discussão jurídica pela frente” e, ao ser questionado se estava defendendo uma autoanistia, desconversou explicando que não estava dando esta interpretação, mas que muitos criminalistas diziam isso. Temer reiterou, na entrevista, que a decisão era do Congresso e que “não pode interferir nisso” porque, qualquer observação que faça, “vão dizer que eu estou defendendo”. O presidente acrescentou que defende não a Lava Jato, que considera “um rótulo”, mas a atividade do Poder Judiciário e do Ministério Público.
Apesar das declarações de respeito ao Congresso, Temer já havia informado a auxiliares que a pressão das ruas poderia balizar a sua decisão neste caso. O presidente teria decidido vetar a proposta por causa da nova crise que se instalou no governo com as acusações do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de que teria endossado a pressão do ex-secretário de Governo Geddel Vieira Lima fazia para liberar um empreendimento imobiliário em Salvador. Geddel comprou um apartamento na planta e a obra está embargada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Se mostrasse disposição de permitir uma anistia ao caixa 2, como o Congresso está defendendo, na contramão do pacote anticorrupção, Temer poderia macular imagem de defesa da ética. Poderia também ser acusado de estar trabalhando contra a Operação Lava Jato.
Temer não comentou sobre a disposição dos parlamentares de que juízes e integrantes do Ministério Público possam responder por crime de responsabilidade. A sugestão chegou a ser incluída no texto do pacote anticorrupção, mas depois foi retirada. De acordo com Jungmann, Temer apoia o pacote anticorrupção. “O presidente não tem discordância em relação à lei que aprova as dez medidas (anticorrupção) e respeita a autonomia do Congresso”, disse o ministro, que é deputado licenciado. Reiterou ainda que o presidente não irá contra a vontade popular. “É inaceitável anistia de crimes ou de corrupção ou invalidação da Lavaja Jato”, afirmou o presidente ao ministro. DO ESTADÃO
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