Houve, sim, um tempo em que Lula posava de vítima, e milhões de pessoas se compadeciam. Esse tempo acabou. A realidade é outra. Hoje, os pessimistas dizem: “Esse negócio do Lula não vai dar em nada outra vez, né?”. E os otimistas: “Acho que desta vez ele não escapa, né?”
Onde quer
que eu esteja, na rua ou à porta de um bar ou restaurante, quando saio
pra fumar, as pessoas se aproximam e quase sempre fazem a mesma
observação, em tom de desalento: “Esse negócio do Lula não vai dar em
nada outra vez, né?”. Os mais otimistas arriscam: “Acho que desta vez
ele não escapa, né?”. Nesse caso, não é necessário dizer o nome. Todo
mundo sabe quem é “ele”.
Pois é…
Ainda que Lula e seus advogados consigam encontrar uma explicação que
possa ser abrigada pela lei para o imbróglio do tríplex no Guarujá,
sobrou como a hipótese mais benigna para o “homem mais honesto do mundo”
a versão de um político no qual ninguém mais confia.
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E não deixa
de ser irônico, já observei aqui, que o Lula que transitou e transita
ainda em tão altas esferas tenha encontrado sua Waterloo num apartamento
relativamente modesto, dada a fortuna que ele já amealhou. Só em
palestras, como se sabe, faturou R$ 27 milhões.
A
desconfiança dos brasileiros é justificada. Incrivelmente, Lula passou
incólume pelo mensalão. Na sequência, veio o escândalo dos aloprados,
com pessoas de sua inteira confiança metidas na lama. E nada! Agora, o
petrolão. Delações premiadas o colocam no centro do escândalo envolvendo
o grupo Schahin, o empréstimo de um dinheiro para o PT e um contrato
bilionário para a operação de um navio-sonda da Petrobras. E nada de o
Ministério Público pedir ao menos a abertura de inquérito.
No caso do
apartamento, Lula só é formalmente investigado pelo Ministério Público
Estadual. Na fase Triplo X da Lava Jato, a cobertura que seria sua está
entre os alvos, mas, para todos os efeitos, não se está apurando nada
sobre o petista. A esta altura, a situação é de tal sorte ridícula que
pouco importa saber se Janot prevarica ou está sendo tático. A lei e as
evidências não podem abrigar comportamentos ambíguos. Não há nenhuma
razão inteligível para Lula não ser um alvo de investigação da
Lava-Jato.
De todo modo, o fim!
Nem os adversários mais ferozes de Lula imaginavam que seu fim seria tão patético. Quando eu era menino, para citar o apóstolo Paulo, e trotskista, pensava como menino e via no sindicalista um contrarrevolucionário com um pé da demagogia.
Nem os adversários mais ferozes de Lula imaginavam que seu fim seria tão patético. Quando eu era menino, para citar o apóstolo Paulo, e trotskista, pensava como menino e via no sindicalista um contrarrevolucionário com um pé da demagogia.
No meu
delírio infanto-juvenil, eu o enxergava como um elemento que atrasava a
revolução. Quando deixei de ser menino, identifiquei no ex-sindicalista a
peça de propaganda de um partido político com vocação totalitária, que
instrumentalizava a imagem do operário para impor goela abaixo da
sociedade um projeto de poder que não podia ser devidamente compreendido
pelo povo.
Vejo a
situação de Lula hoje, perseguido por imóveis mal explicados; flagrado
em proximidade incômoda, para dizer pouco, com empreiteiras
investigadas; a bater no peito e a brandir uma honestidade que,
atendendo a suas tendências megalômanas, tem de ser a “maior do mundo”…
Não deixa de ser melancólico.
Ou por
outra: as duas leituras que tive de Lula, em tempos distintos, não
deixavam de ser generosas, não é mesmo? Uma e outra, ainda que negativas
para ele, emprestavam-lhe o papel de um agente político. Ainda que não
fosse do agrado do garoto de extrema esquerda ou do adulto liberal, eu o
inscrevia como personagem da história.
A justa
indagação que hoje está nas ruas o coloca num lugar rebaixado, bem aquém
da minha hostilidade generosa: as pessoas querem saber se Lula vai
pagar por aquilo que consideram seus crimes de político comum, vulgar,
que se organiza para se locupletar e se dar bem. É a Justiça que vai dar
a palavra final a respeito. O que a gente pode dizer com certeza é que
as narrativas a que o petista tem de recorrer para explicar o
inexplicável já viraram motivo de chacota nacional.
A defesa de
Lula já vai adaptando as versões às circunstâncias. Agora admite que a
família visitou o tríplex acompanhado do presidente da OAS, Léo
Pinheiro, convertido, então, em corretor de imóveis. Mas não mais do que
isso. Também o sítio de Atibaia, reformado pela Odebrecht e pela OAS
segundo os gostos do companheiro, não lhe pertence.
Marisa, no
entanto, pagou com dinheiro do próprio bolso por um barco de alumínio
para ser usado no lago da propriedade. Ora, convenham, o que é que tem? É
muito comum a gente comprar equipamentos para propriedades alheias,
certo? Por si, isso não prova nada. Prova apenas que Marisa é generosa.
O PT diz que
vai se dedicar agora à defesa de Lula. Parece que a campanha eleitoral
deste ano terá como alvo a tentativa de recompor a imagem daquele que
segue sendo o poderoso chefão do partido, o mandatário inconteste, o
senhor absoluto da legenda. Por incrível que pareça, ele só não conhece
as falcatruas da organização. Quando se trata de explicar a bandalheira,
ele se torna um estranho no petismo.
Houve, sim,
um tempo em que Lula posava de vítima, e milhões de pessoas se
compadeciam. Esse tempo acabou. A realidade é outra. Hoje, os
pessimistas dizem: “Esse negócio do Lula não vai dar em nada outra vez,
né?”. E os otimistas: “Acho que desta vez ele não escapa, né?”.
Notem que são avaliações distintas que, no entanto, têm um diagnóstico comum.
Lula está acabado.
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