Dois
milhões de pessoas foram às ruas nos 26 Estados do Brasil e no Distrito
Federal — um milhão só em São Paulo. O número decorre da soma de
estimativas feitas pelas PMs locais. O Datafolha, que vive sendo malhado
pelos blogs sujos, agora mereceu testemunho de fé da companheirada
porque assegura que 210 mil passaram pela Avenida Paulista. Considerada
só a área dessa via, talvez. Fui ao topo de um prédio muito alto. Todas
as perpendiculares estavam tomadas por uma massa compacta. A Rua da
Consolação também. A PM diz ter levado em conta essas áreas adjacentes,
considerando cinco pessoas por metro quadrado, mesmo critério empregado
para chegar aos 12 mil petistas que se concentraram na região no dia 13.
Quantos
estiveram nas ruas na cidade de São Paulo, afinal, neste domingo?
Participei ativamente dos comícios das Diretas e estive presente a
algumas manifestações pelo impeachment de Collor. É experiência pessoal e
memória, sei disto, mas nunca vi nada igual a este 15 de março. Se, no
lendário comício das Diretas do dia 17 de abril de 1984, no Anhangabaú,
havia 400 mil pessoas, parece-me difícil supor que, neste domingo, o
contingente se resumisse à metade daquele.
Mas
digamos, para efeito de pensamento, que o instituto esteja certo. Ainda
assim, quase um milhão de pessoas teriam marchado em protesto contra o
governo Dilma. Seja um número ou outro, já é a maior manifestação
política da história. Até porque os comícios das Diretas ocorriam em uma
determinada capital e pronto. Desta feita, houve protesto em todas elas
e em 185 outras cidades.
Uma imensidão verde e amarela
Este 15 de março marca ainda outro fato inédito. Nas campanhas das Diretas e em favor do impeachment de Collor, as esquerdas davam o tom do discurso — aliás, assim tem sido desde a redemocratização do Brasil. Nas ruas, os petistas passavam a impressão de ser a força hegemônica. O vermelho disputava o espaço com o verde-e-amarelo. Neste domingo, não! O PT não estava presente. Ainda que Dilma tenha mobilizado boa parte das palavras de ordem, a maioria delas, no tempo em que acompanhei a manifestação — e foi bastante — tinha o PT como alvo principal. Horas depois, ficaria claro, uma vez mais, por quê.
Este 15 de março marca ainda outro fato inédito. Nas campanhas das Diretas e em favor do impeachment de Collor, as esquerdas davam o tom do discurso — aliás, assim tem sido desde a redemocratização do Brasil. Nas ruas, os petistas passavam a impressão de ser a força hegemônica. O vermelho disputava o espaço com o verde-e-amarelo. Neste domingo, não! O PT não estava presente. Ainda que Dilma tenha mobilizado boa parte das palavras de ordem, a maioria delas, no tempo em que acompanhei a manifestação — e foi bastante — tinha o PT como alvo principal. Horas depois, ficaria claro, uma vez mais, por quê.
Ódio? Qual? Violência? Onde?
Desde que começou a ficar claro que o país poderia assistir à maior manifestação de sua história, o PT, ministros de Estado e a própria presidente evocaram a palavra “golpe”, como se o vocabulário terrorista fosse afastar as pessoas das ruas. Não funcionou. Perdidos, mudaram, então, a estratégia e passaram a fazer estranhas advertências sobre o risco de violência e a política do ódio.
Desde que começou a ficar claro que o país poderia assistir à maior manifestação de sua história, o PT, ministros de Estado e a própria presidente evocaram a palavra “golpe”, como se o vocabulário terrorista fosse afastar as pessoas das ruas. Não funcionou. Perdidos, mudaram, então, a estratégia e passaram a fazer estranhas advertências sobre o risco de violência e a política do ódio.
Nem
uma coisa nem outra. Hostilidade ao petismo? Ah, havia, sim. Ou os
petistas trataram com afeto, em suas pequenas manifestações do dia 13,
os que hoje se opõem ao governo Dilma? Violência? Exceção feita a
algumas escaramuças aqui e ali — especialmente no Distrito Federal e
depois de encerrado o protesto —, nunca se viu povo tão ordeiro. Em São
Paulo, a Polícia Militar, em trabalho exemplar, prendeu um grupo de
autointitulados “Carecas do Subúrbio”. Carregavam bombas caseiras e soco
inglês. Um deles conseguiu escapar e se escondeu no meio da multidão.
Acompanhei o momento em que foi identificado. As pessoas se agacharam,
colocaram-no em evidência e chamaram a Polícia. Funcionou.
Sem black blocs
As manifestações deste domingo provaram uma tese antiga deste blog. Os “black blocs” nunca foram um fenômeno urbano, uma estética, uma ética — ou seja lá que outro lixo subintelectual se tenha tentado inventar. Eram e são bandidos tolerados e protegidos por movimentos de ultraesquerda. Onde estavam no dia de ontem? Sabiam que não seriam nem abrigados nem protegidos. Sabiam que seriam expulsos da rua pela massa de, estes sim, trabalhadores!
As manifestações deste domingo provaram uma tese antiga deste blog. Os “black blocs” nunca foram um fenômeno urbano, uma estética, uma ética — ou seja lá que outro lixo subintelectual se tenha tentado inventar. Eram e são bandidos tolerados e protegidos por movimentos de ultraesquerda. Onde estavam no dia de ontem? Sabiam que não seriam nem abrigados nem protegidos. Sabiam que seriam expulsos da rua pela massa de, estes sim, trabalhadores!
Como esquecer que Gilberto Carvalho, em entrevista histórica concedida à Folha, confessou ter se reunido várias vezes com lideranças da canalha mascarada?
Eram
poucas as faixas porque praticamente não havia movimento organizado.
Também não se permitiu que o protesto fosse aparelhado por partidos
políticos — e, com isso, não estou rejeitando a política, não! Ao
contrário! Vi nas ruas um momento de tomada de consciência de pessoas
que já não aguentam mais a conversa mole e vigarista, segundo a qual, na
prática, uma suposta justiça social serve como compensação à
roubalheira descarada.
O
Brasil está mudando. Os reacionários do PT e suas franjas fascistoides
na subimprensa optam, agora, por atacar a população de trabalhadores que
vai às ruas. Perderam o eixo e a noção de tudo. Com satisfação, vi uma
frase de um texto deste blog estendida na Paulista: “Não somos de direita. Somos brasileiros direitos”.
Atenção!
A democracia nos reserva, sim, o direito de ser de direita. Mas, neste
domingo, as pessoas direitas é que estavam nas ruas, de direita ou não.
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