Se
eu fosse dar um conselho de amigo à presidente Dilma Rousseff, seria
este: “Governanta, chame todos os seus auxiliares que concordaram com a
forma, o tom, o conteúdo e os alvos de seu pronunciamento deste domingo,
dia 8 de março, e ponha-os na rua. Sem Exceção. De A a T, de Aloizio
Mercadante a Thomas Traumann. Como perguntaria um pastor de Virgílio,
“Quae te dementia, cepit, Dilma?” Que tipo de maluquice passou pela
cabeça da presidente uma semana antes dos protestos que estão sendo
programados país afora?
Nas redes
sociais, havia, sim, um chamamento discreto para um panelaço na hora em
que a presidente fizesse a sua suposta homenagem às mulheres — é
“suposta” porque a petista usou o Dia Internacional da Mulher como mero
pretexto. Bastou que a governanta viesse com aquele vocativo espontâneo
de sempre — “Meus queridos brasileiros (…) —, e uma vaia estrepitosa
uniu a cidade de São Paulo como raramente se viu. Abaixo, há um vídeo
que me foi enviado pela leitora Andréia, também ouvinte da Jovem Pan. É
do bairro de Perdizes. Há centenas de outros nas redes. Houve protestos
em pelo menos 12 capitais: São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Rio de
Janeiro, Vitória, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia, Belém, Recife, Maceió
e Fortaleza.
Quem já
estava disposto a vaiar e a bater panela não deve ter prestado muita
atenção ao que disse Dilma, não é? A íntegra do discurso está .Só por
isso, creio, os protestos não foram ainda mais contundentes. Os petistas
com um todo, e Dilma Rousseff em particular, perderam a noção da
realidade; perderam a leitura da política; perderam o pulso da
população. E fazem, então, bobagens em penca até segundo aquele que
deveria ser o seu ponto de vista.
É possível
que a “Lista de Janot”, arrematada com o “nada consta contra a
presidente”, de Teori Zavascki, tivesse até dado uma refreada nos
ânimos. Os dois eventos não foram propriamente mobilizadores. Ora, sendo
assim, com a popularidade em queda livre, cumpria a Dilma ser o mais
discreta que conseguisse. Que fizesse uma fala curta em homenagem às
mulheres, vá lá; que anunciasse o agravamento da pena para o chamado
“feminicídio” (debate o mérito outra hora), ok. Que aproveitasse a deixa
para lamentar a corrupção na Petrobras, seria aceitável também. Mas o
que foi aquilo???
A íntegra de sua fala está disponível neste
blog. Dilma já largou mal sugerindo que os descontentes estão mal
informados. A imprensa foi o seu primeiro alvo. Segundo a presidente,
“os noticiários são úteis, mas nem sempre são suficientes”. “Muitas
vezes — disse a gênia — até nos confundem mais do que nos esclarecem.”
Entendi. Não é de hoje que os petistas consideram que a falta de
informação é útil a seu projeto de poder. Isso explica a sua disposição
para controlar e censurar a imprensa.
Com a
compulsão de sempre para a mistificação, disse a governanta: “Pela
primeira vez na história, o Brasil, ao enfrentar uma crise econômica
internacional, não sofreu uma quebra financeira e cambial.” Bem,
trata-se apenas de uma mentira. Instruída sabe-se lá por quais
feiticeiros, incorporou o conceito de que governo e sociedade são polos
necessariamente opostos. O primeiro teria já pagado o pato da crise;
agora, teria chegado a vez do povo. Leiam isto: “Na tentativa correta de
defender a população, o governo absorveu, até o ano passado, todos os
efeitos negativos da crise. Ou seja: usou o seu orçamento para proteger
integralmente o crescimento, o emprego e a renda das pessoas. (…)
Absorvemos a carga negativa até onde podíamos e, agora, temos que
dividir parte deste esforço com todos os setores da sociedade.”
Nessa fala, “sociedade” e “governo” têm
matrizes distintas e interesses específicos, que podem, eventualmente,
entrar em contradição e se opor. Ainda que Dilma fosse uma ultraliberal,
em vez de uma esquerdista atrapalhada, a fala estaria errada.
A
presidente se referiu, sim, às tais medidas amargas que, segundo ela,
seriam implementadas pelo tucano Aécio Neves caso vencesse a eleição.
Afirmou: “Foi por isso, que começamos cortando os gastos do governo, sem
afetar fortemente os investimentos prioritários e os programas sociais.
Revisamos certas distorções em alguns benefícios, preservando os
direitos sagrados dos trabalhadores. E estamos implantando medidas que
reduzem, parcialmente, os subsídios no crédito e também as desonerações
nos impostos, dentro de limites suportáveis pelo setor produtivo.” Sei.
Há pouco mais de quatro meses, essa mesma senhora fazia uma campanha
eleitoral só com amanhãs sorridentes. Sabíamos, ela também, que um
estelionato estava em curso.
Dilma, já
escrevi isso aqui outro dia e reitero, é hoje a principal propagandista
do protesto do dia 15. Mais de uma vez ela já se definiu como uma
“mulher dura, cercada de homens meigos”. Bem, está na hora de seus
meigos estudarem um pouco de política. Hoje, ela só é uma mulher em
apuros, cercada de homens incompetentes.
Texto publicado originalmente às 2h28
Por Reinaldo Azevedo
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