Hoje
não começo o dia com CPI, não, embora eu vá falar a respeito, é claro! A
propósito: hoje há debate na VEJA: Augusto Nunes, Marco Antônio Villa,
Roberto Podval e eu. Assim que encerrar a sessão, a gente entra no ar.
Adiante.
Andei
fazendo aqui algumas críticas a defensores públicos do Estado de São
Paulo. Muitos deles querem impedir o governo de governar e a Prefeitura
de administrar a cidade. Comportam-se como se tivessem um mandato do
povo para impedir a aplicação da lei, especialmente quando o assunto é
droga e ocupação indevida de áreas públicas. Não hesitam um segundo em
se alinhar com os que afrontam a lei e mandam o cidadão pagador de
impostos, que arca com o peso de seus salários, plantar batatas. Eles se
zangaram. A Defensoria decidiu emitir uma nota desastrada como reação
às minhas críticas. E eu respondi,
é claro! E olhem que sou praticamente o único jornalista que lhes cobra
responsabilidade. Quase todo o resto da imprensa come por suas mãos e
se deixa pautar bovinamente por eles sem nem mesmo tentar saber o que
dizem as leis e a Constituição da República. Isso é apenas um fato.
Volto a esses aspectos daqui a pouco. O que me traz aqui de imediato é
outra coisa. No sábado passado, dia 4, escrevi um texto cujo título era este: “Defensores públicos, os ‘amigos dos vulneráveis’, dão um jeito de o povo não saber quanto eles ganham”. Por que eu o escrevi?
Obrigada
pela Lei da Transparência a divulgar os salários dos seus integrantes, o
que fez a Defensoria Pública? Deu um truque e tornou pública a tabela
oficial com as faixas oficiais de salários. A tabela que se encontrava
em seu site era esta. Vejam de novo. Volto em seguida.
Voltei
Por aí, como se vê, o salário dos defensores ia de R$ 11.235 (Nível I) a R$ 18.725 (Defensor Público Geral), ganhos, sem dúvida, muito convidativos, só que, infelizmente, falsos. Como informei naquele texto, em razão de acréscimos vários — tempo de serviço, por exemplo —, os ganhos deveriam ser bem maiores. Antes que continue, quero chamar a atenção de vocês para um dado objetivo, que é do IBGE, não meu! A mão de obra ativa brasileira, segundo dados de 2010, é de 92,6 milhões de pessoas. Sabem quantos ganham acima de 20 salários mínimos (R$ 12.440)? Apenas 0,7%, Isto mesmo, leitor amigo: ainda que os defensores públicos do Estado de São Paulo recebessem só o valor de tabela, isso já os colocaria no topo do topo da pirâmide salarial. Acontece que aqueles eram apenas números de referência. Não eram salários efetivamente pagos, COMO EXIGE A LEI DA TRANSPARÊNCIA.
Por aí, como se vê, o salário dos defensores ia de R$ 11.235 (Nível I) a R$ 18.725 (Defensor Público Geral), ganhos, sem dúvida, muito convidativos, só que, infelizmente, falsos. Como informei naquele texto, em razão de acréscimos vários — tempo de serviço, por exemplo —, os ganhos deveriam ser bem maiores. Antes que continue, quero chamar a atenção de vocês para um dado objetivo, que é do IBGE, não meu! A mão de obra ativa brasileira, segundo dados de 2010, é de 92,6 milhões de pessoas. Sabem quantos ganham acima de 20 salários mínimos (R$ 12.440)? Apenas 0,7%, Isto mesmo, leitor amigo: ainda que os defensores públicos do Estado de São Paulo recebessem só o valor de tabela, isso já os colocaria no topo do topo da pirâmide salarial. Acontece que aqueles eram apenas números de referência. Não eram salários efetivamente pagos, COMO EXIGE A LEI DA TRANSPARÊNCIA.
Depois da crítica que fiz aqui, a Defensoria decidiu cumprir a lei e divulgou ontem o salário real de cada defensor público.
É impressionante! Encontrei um único salário de R$ 12.920, um único de
R$ 14.465, uns quatro ou cinco na faixa dos R$ 16 mil e poucos, dezenas,
muitas delas, de R$ 17 mil a 19 mil e tantos e um calhamaço que ganha
acima de R$ 20 mil!!! O máximo que se paga por lá, à diferença da tabela
original, não são R$ 18.725, mas R$ 24.107,62.
Se algum
leitor tiver tempo e paciência para calcular quantos são,
percentualmente, os defensores na faixa de R$ 16 mil, R$ 17 mil, R$ 18
mil, R$ 19 mil e acima de R$ 20 mil, publico os números aqui. Deem
depois uma olhada na tabela. Duvido que haja categoria profissional no
Brasil, exceção feita a ministros de tribunais superiores, que tenha um
salário médio tão elevado. E, no entanto, muitos deles querem brincar do
quê? Ora, de luta de classes. Taí um assunto de que gosto. Passei boa
parte da juventude lendo a respeito. Calma, senhores! Não se zanguem! Eu
chego lá. Eu juro que eu também os quero ao lado dos pobres, defendendo
seus direitos. Ah, sim: sabem quanto ganha o governador Geraldo
Alckmin? R$ 18.725 brutos. Menos do que a maioria dos defensores.
Quem são os vulneráveis?
Há muito, uma boa parcela de defensores públicos — quantos? — se ocupa de uma agenda que é, na verdade, ideológica. Vejam o comportamento lamentável de muitos de seus integrantes no caso da retomada — pelo Estado de Direito! — da Cracolândia. Não só eles tentaram impedir a ação da Prefeitura e da polícia como recorreram à Justiça em busca de uma liminar para impedir a Polícia Militar de abordar os consumidores (e, por consequência, os traficantes) de crack.
Há muito, uma boa parcela de defensores públicos — quantos? — se ocupa de uma agenda que é, na verdade, ideológica. Vejam o comportamento lamentável de muitos de seus integrantes no caso da retomada — pelo Estado de Direito! — da Cracolândia. Não só eles tentaram impedir a ação da Prefeitura e da polícia como recorreram à Justiça em busca de uma liminar para impedir a Polícia Militar de abordar os consumidores (e, por consequência, os traficantes) de crack.
Pergunto:
quantas vezes eles recorreram à Justiça, no passado, para obrigar o
Poder Público a cumprir uma de suas funções, que é reprimir o crime?.
Quero lembrar a esses valentes que tráfico — E CONSUMO — de drogas são
crimes definidos em lei. Ocupar o espaço público, impedindo o direito de
ir e vir, também. Com que então os senhores defensores dão uma solene
banana para os moradores do Centro de São Paulo em nome do que chamam
”proteção aos mais vulneráveis”? E quem protege os direitos daqueles
que não conseguem botar o nariz fora da porta tão logo o sol se põe?
Esses moradores de São Paulo, que pagam os altíssimos salários do
senhores defensores — pertencem a 0,7% da mão de obra ativa —, não
merecem atenção???
Uma das
líderes na ação contra o cumprimento da lei — lamento ter de escrever
assim — é Daniela Skromov (salário em julho: R$ 19.296). Foi
participante ativa de uma audiência pública que pediu nada menos do que o
afastamento do Comando da PM em São Paulo, tentou impedir a ação do
estado e da Prefeitura na Cracolândia e compareceu a lançamento de site
petista que faz campanha eleitoral aberta. Eu lhe dediquei um post no dia 27 de julho. Essa moça é capaz de afirmar coisas como esta:
“A
autonomia de toda e qualquer pessoa, inclusive da pessoa que usa, abusa
ou é dependente de drogas, é premissa no Estado Democrático de Direito. O
mito de que o ‘viciado’ é alguém que não sabe o que quer se presta a
legitimar invasões violentas. O autoritarismo se traveste de
salvacionismo: é necessário proteger a pessoa dela mesma, importando
menos o custo humano e psíquico que isso implica. A pessoa é usada como
meio ‘para o seu próprio benefício’ e em especial a socialmente
vulnerável é vista como uma constante ameaça contra os outros e contra
si própria, numa visão paternalista típica de regimes autoritários, na
contramão do imperativo da autodeterminação do sujeito e da dignidade
humana, bases da ordem democrática.”
Entenderam?
Por isso ela quer impedir a PM de atuar na Cracolândia. Ela ache o que
quiser. Como defensora pública, tem de ser também uma procuradora da
lei. Com esse salarião, é claro que ela não mora no Centro degradado da
cidade. Também não tem viciados reunidos à porta de sua casa ou de seu
prédio. Se isso acontecer, vai fazer o óbvio: chamar a polícia. O mesmo
vale para seus pares de militância na Defensoria. Não obstante, para os
moradores da região central, que ganham um vigésimo do que ela recebe, a
moça tem uma receita: não tocar nos viciados. Também são de sua autoria
estas palavras, definindo a retomada da Cracolância: “Na
verdade, o que existe é a intenção de uma valorização imobiliária da
região central, e isso é um dos fatores que move essa ação de limpeza
social”.
Podem vir quente que eu…
A maioria dos defensores é mais jovem do que eu. Conheço essa geração. Seus professores foram meus contemporâneos na universidade. É a “Geração PT”, uns monstrengos teóricos que confundem crime com luta de classes e banditismo com rebeldia. Um de seus mentores poderia ser o professor Vladimir Safatle, que já confundiu até terrorismo com política.
A maioria dos defensores é mais jovem do que eu. Conheço essa geração. Seus professores foram meus contemporâneos na universidade. É a “Geração PT”, uns monstrengos teóricos que confundem crime com luta de classes e banditismo com rebeldia. Um de seus mentores poderia ser o professor Vladimir Safatle, que já confundiu até terrorismo com política.
Depois que
comecei a me interessar pelo assunto, recebi uma penca de ofensas.
Passaram a me satanizar. Não estou acusando os defensores pelos
xingamentos, é evidente — até porque nada tenho contra a Defensoria em
si, embora o comando do órgão tenha emitido uma nota cretina, atacando
“setores refratários aos direitos humanos”. Era comigo o negócio. Uma
ova! Eu quero ver os defensores é com coragem para defender a massa de
moradores de São Paulo que ganha até um mínimo, até dois, até três, até
quatro, até cinco… Essa gente, valentões, paga o salário de vocês, acima
de 20! E está sendo molestada pelo consumo e pelo tráfico. Ninguém
defende violência contra os viciados — até porque se instalou na região
um centro de tratamento. Mas o estado de direito tem de valer no Centro
como vale em Moema, Alto de Pinheiros, Higienópolis, Vila Nova
Conceição, Brooklin, Itaim Bibi, bairros que vocês conhecem muito bem,
não é?
Querem
brincar de luta de classes comigo? Perda de tempo! Comecem por não usar a
sua suposta piedade de burgueses bem pensantes do capital alheio contra
aqueles que arrecadam os impostos que são consumidos na forma de
salários do funcionalismo. É claro que as funções de estado são
necessárias. É por isso que existe a arrecadação. Como prestadores de
serviço da Defensoria — que é de todos os paulistas —, vocês têm a
obrigação legal, funcional, de zelar por todos eles. Inclusive, sim, por
aqueles que têm seus imóveis degradados, ora! Ou será a propriedade um
direito inumano? Não é que o que diz a Declaração dos Direitos Humanos,
da ONU. Já leram? Está lá, no Artigo XVII:
“Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.”
“Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.
Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.”
Andaram pulando essa parte?
Escutem
uma coisa: eu não me assusto nem me intimido com correntes da Internet.
Ao contrário! Elas me estimulam. Passei a me interessar por esse assunto
agora. Vi na lista de salários uma coluna chamada “Atrasados”, por
exemplo. O que significa? “Atrasado” de quê? São Paulo não atrasa
vencimentos de servidores. Paga em dia. Como é que se geraram valores
que podem chegar a R$ 3,880, R$ 4.632, R$ 5.617, R$ 10.551, SOMADOS AOS
SALÁRIOS? Aí resolvi ler algumas leis, portarias etc. Espero não estar
penetrando na Casa do Espanto, mas posso estar… Isso significa, por
óbvio, que vou voltar ao assunto.
Assim, os
inconformados que aprendam a argumentar em vez de se indignar; que
aprendam a contestar as evidências em vez de me ofender. A Defensoria
fez bem em divulgar os salários reais. E o fez depois que reclamei aqui.
Espero que seja isso mesmo. Não, não! Eu não quero acabar com a
Defensoria Pública, como sugerem alguns tontos; tampouco me ocorre
difamá-la — não há uma só ofensa no que escrevo, um só xingamento. Ao
contrário: xingado fui eu. Só quero que ela cumpra os seus deveres
legais. E, como sou curioso, continuarei a fazer perguntas, apegado
apenas aos fatos. De resto, louvo em saber que os defensores, que sempre
posam de heróis nas reportagens, não são, ao menos, mártires, não é
mesmo? Ao contrário: a sua dedicada defesa dos “vulneráveis” lhes
garante o topo do topo da pirâmide salarial. Numa linguagem puramente
econômica, a gente poderia dizer que eles são o seu verdadeiro “ativo”.
O povo
pobre, que trabalha, estuda e arrecada impostos para lhes garantir a boa
vida, aguarda pelos senhores! Não tentem ser mais humanistas do que eu.
Os que eu defendo — sem receber nada do estado por isso — são os
milhões que suam para ganhar a vida. Eles têm de ter garantido o direito
de ir e vir, independentemente das virtudes libertárias que dona
Skromov possa enxergar num cachimbo de crak — desde que na boca alheia, é
claro! Eu gosto desse assunto. Podem contar comigo, senhores
defensores! O cachimbo — o moral — dos direitos humanos tem servido para
entortar muitas bocas. Humanismo é comigo mesmo! Como disse certo
imperador romano, no humano encontro tudo, até o divino. Vamos ao
debate!
Texto originalmente publicado às 4h32
REV VEJA
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