sexta-feira, 13 de julho de 2012

Rombo do Cruzeiro do Sul alcança R$ 2,5 bi, o dobro da previsão inicial

David Friedlander e Leandro Modé, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O Cruzeiro do Sul tem um rombo de pelo menos R$ 2,5 bilhões - o dobro do que o Banco Central (BC) imaginava quando decretou intervenção na instituição, no dia 4 de junho. A conta pode aumentar porque a apuração do buraco ainda não terminou. O trabalho está sendo feito pelo próprio BC, pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) e pela empresa de auditoria PricewaterhouseCoopers.
Essa situação pode inviabilizar uma solução de mercado para o Cruzeiro do Sul. A intenção do BC e do FGC é recuperar o banco e achar um comprador para evitar a liquidação. A expectativa era de que, encerrado o pente-fino nas contas do banco, o buraco chegasse a R$ 1,8 bilhão.
Inicialmente, o BC estimou o rombo em R$ 1,25 bilhão, resultado da descoberta de fraudes contábeis concentradas em empréstimos consignados falsos. O BC tinha detectado 300 mil operações como essas. O número cresceu e a conta já alcança cerca de R$ 1,6 bilhão.
Os R$ 900 milhões restantes (para totalizar os R$ 2,5 bilhões) são consequência de ativos super avaliados, passivos tributários e provisões contra perdas de crédito inferiores às regras do BC, entre outros problemas.
Procurados, Banco Central, Fundo Garantidor de Créditos e PricewaterhouseCoopers não comentaram o assunto.
Especulação
Nas últimas semanas, as ações do Cruzeiro do Sul tiveram altas expressivas, em meio a especulações de que a instituição poderia ser vendida após o encerramento do trabalho do BC, do FGC e da PricewaterhouseCoopers. No acumulado de julho, os papéis preferenciais (PN) do banco saltaram 66,2%. Ontem, caíram 1,67%.
Títulos do Cruzeiro do Sul negociados no mercado internacional também dispararam nas últimas semanas. Em alguns vencimentos, o papel subiu tanto que chegou a ser vendido a 65% do valor de face. No fim do mês passado, eram transacionados a 28% do valor de face.
Especializado em crédito consignado, o Cruzeiro do Sul pertence à família Índio da Costa - Luís Felippe (pai) e Luís Octavio (filho). Ambos foram afastados da gestão e tiveram os bens bloqueados quando o BC decretou o Regime de Administração Especial Temporária (Raet) no início de junho. O BC escolheu o FGC para administrar o banco durante a intervenção.
Luís Octavio foi informado pelo BC sobre os problemas na instituição cerca de um mês antes da decretação do Raet. Nesse intervalo, chegou a negociar a venda do banco. O principal candidato era o BTG Pactual, de André Esteves. O negócio não saiu porque, em meio às incertezas sobre o real tamanho do rombo, Esteves teria oferecido um valor muito baixo pelo banco. A operação não saiu.
Além do banco em si, há preocupações sobre o Fundo de Investimento em Participações (FIP) BCSul Verax 5 Platinum. Há dúvidas sobre a qualidade dos ativos do fundo - debêntures da Maragato, empresa que tem como sócios os Índio da Costa.

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